Um dos principais autores de novelas da história da Globo, Aguinaldo Silva foi dispensado pelo canal em 2020. Seu último trabalho na rede foi a problemática O Sétimo Guardião (2018), trama que amargou severas críticas e baixíssimos índices de audiência.

Supermax - Maria Clara Spinelli
Caiuá Franco / Globo

Mesmo longe da emissora, o autor continua sendo notícia com suas costumeiras alfinetadas, que dispara em suas redes sociais. Recentemente, Aguinaldo fez uma provocação às novelas atuais, desafiando uma rede de TV a apostar num folhetim protagonizado por uma mulher trans.

Coincidência ou não, fato é que o desafio proposto por Aguinaldo Silva foi aceito pela Globo. A casa escalou a atriz trans Maria Clara Spinelli para viver uma das protagonistas de Elas por Elas, próxima novela das seis.

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Desafio proposto

Conversa com Bial - Aguinaldo Silva
Reprodução / Globo

No início de maio, Aguinaldo Silva fez uma provocação em seu Twitter que deu o que falar. O autor de sucessos como Tieta (1989) e Senhora do Destino (2004) desafiou alguma emissora a bancar uma protagonista trans nas novelas.

“Quando é que a gente vai ver numa novela uma mulher trans empresária, super poderosa, descendo num terraço da Faria Lima de helicóptero, botando pra quebrar nas reuniões de negócios… e protagonista?”, perguntou o novelista.

A publicação, claro, deu o que falar. Nas respostas ao tweet, Silva deu a entender que ele já criou a tal personagem, adiantando até mesmo o nome de sua protagonista trans.

“Divina Maria da Conceição! É esse o nome da minha personagem trans que bota pra quebrar na Faria Lima”, disparou o dramaturgo.

Missão aceita

A Força do Querer - Maria Clara Spinelli
Estevam Avellar / Globo

O comentário de Aguinaldo Silva pareceu uma provocação à Globo, afinal, a líder de audiência é a única emissora aberta ao apostar em folhetins contemporâneos voltados ao público adulto. Além disso, o canal tem feito vários acenos à diversidade, inclusive escalando artistas trans em suas novelas.

No entanto, apesar de a emissora se mostrar disposta a colocar atores trans em cena, entregar um protagonista a algum deles ainda parecia algo distante. Porém, poucos dias após a provocação do autor, a colunista Patrícia Kogut, de O Globo, anunciou que a atriz trans Maria Clara Spinelli foi escalada para viver uma das personagens principais do remake de Elas por Elas (1982).

Clássico de Cassiano Gabus Mendes, Elas por Elas está sendo reescrita por Alessandro Marson e Thereza Falcão. Os novos autores estão promovendo algumas mudanças na trama original, alterando nomes e algumas situações. Entre as novidades está uma das protagonistas, Renée, que será uma mulher trans.

Não se sabe se Renée vai ser a mulher trans idealizada por Aguinaldo Silva: uma empresária poderosa que chega de helicóptero num escritório da Faria Lima. Mas ela será uma protagonista trans, o que já é meio caminho andado.

Críticas

A Força do Querer - Carol Duarte
Reprodução / Globo

É curioso que a ideia de ter uma mulher trans e empresária de sucesso como protagonista de uma novela tenha partido justamente da cabeça de Aguinaldo Silva. Afinal, o autor já foi criticado por algumas de suas ideias referentes à transexualidade.

Quando Ivan (Carol Duarte) estava no ar em A Força do Querer (2017), Aguinaldo alfinetou a trama de Gloria Perez.

“Desde que os transexuais viraram moda, as bichinhas quaquás passaram a ser criaturas inferiores, sem graça, sem charme, sem nenhum sex apeal. Ser transexual é fácil, todo mundo acha lindo. Mas ser veado continua a ser uma das maiores aventuras do homem, tipo a escalada do Everest”, escreveu ele no Twitter.

A fala de teor transfóbico, claro, pegou muito mal. Com isso, o autor apagou os tweets e escreveu um pedido de desculpas. Ele explicou que tentou fazer humor, mas acabou “exagerando na dose”.

O autor também tentou emplacar Marcos Paulo (Nany People), uma mulher trans que se recusava a mudar de nome em O Sétimo Guardião. Mais uma vez, Silva foi alvo de críticas de pessoas trans que consideravam que a personagem era um desserviço na luta para que seus nomes sociais fossem aceitos.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor