Protagonista inusitado marcou novela que estreava em 2009 na Globo

13/04/2022 às 9h30

Por: Sergio Santos
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Marcos Pasquim e o macaco Xico em Caras e Bocas

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Exibida no horário das sete da Globo entre 13 de abril de 2009 e 8 de janeiro de 2010 – depois do fracasso Três Irmãs e sendo substituída pelo fiasco Tempos Modernos, Caras & Bocas foi mais uma novela de imenso sucesso escrita por Walcyr Carrasco.

O êxito do folhetim de Walcyr não é muito difícil de ser explicado, afinal, a história foi ótima, repleta de bons personagens, ágil, com várias reviravoltas e um elenco muito bem escalado.

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Caras & Bocas

O casal central da novela era formado por Dafne (Flávia Alessandra) e Gabriel (Malvino Salvador), que foram separados na adolescência por causa do avô milionário da garota (Jacques – Ary Fontoura). Trama folhetinesca bem comum. Porém, o tema principal era voltado para o mundo das artes e a hipocrisia que reina no mercado.

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Tanto que o protagonista na novela era inusitado: um macaco. Isso porque o primata amava brincar com tintas e fazia vários rabiscos nas telas de Denis (Marcos Pasquim), um pintor fracassado de paisagens, que não conseguia vender seus quadros na rua, onde costumava trabalhar.

Quando Xico – que fugiu de um circo, onde sofria maus tratos – começou a ser cuidado por Espeto (David Lucas), filho do homem que tentava ganhar dinheiro com sua arte, a vida daquela família mudou. Simone (Ingrid Guimarães), uma caçadora de talentos, que tinha uma galeria em sociedade com Dafne, se impressionou quando viu as ‘pinturas’ (na verdade quadros destruídos pelo chimpanzé) e transformou Denis em um sucesso.

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Toda esta trama foi uma sacada de mestre do autor, que usou o humor amplamente explorado no horário das sete, para criticar a valorização que o mercado das artes plásticas dá a alguns trabalhos, que muitas vezes não significam nada e não passam de uns rabiscos, com o intuito de passar um ar de intelectualidade para o mundo.

A abordagem da novela foi divertida e passou longe da chatice, embora o risco tenha sido grande, já que o assunto não era muito fácil de ser tratado.

Tramas paralelas

Mas além de toda esta temática, claro que muitas outras tramas paralelas fizeram sucesso. O casal protagonista foi um acerto e Flávia Alessandra e Malvino Salvador esbanjaram química.

Elizabeth Savalla, após ter interpretado várias mulheres ricas, ganhou de presente a Socorro, uma dona de bar humilde, simples e muito amorosa. Claro, a atriz deu um show.

O mesmo vale dizer para Isabelle Drummond, que virou um dos destaques da novela com sua espevitada Bianca, filha de Dafne e Gabriel, que era a responsável pela movimentação de praticamente todos os núcleos. O bordão “É a treva!”, dito pela garota virou febre na época e até hoje a atriz não conseguiu uma personagem melhor que esta na carreira. Sua parceria com Miguel Rômulo, o nerd Felipe, também foi um acerto e o esperado beijo do casalzinho só ocorreu no último capítulo, cercado de expectativas.

Débora Evelyn se destacou na pele da vilã Judith, seu último grande papel na televisão até agora. Fernanda Machado também fez bonito na pele da esnobe Laís, que depois acabou mudando de postura por amor. Ary Fontoura e Bete Mendes encantaram com o romance entre Jacques e Piedade, mostrando mais uma vez o talento do autor para criar casais da terceira (ou melhor) idade. Fúlvio Stefanini (Frederico), Neusa Maria Faro (Mercedes), Carmem Verônica (Josefa), Marcos Breda (Pelópidas), Cristina Mutarelli (Zoraide), Henri Castelli (Vicente), Dhu Moraes (Dirce), Roney Facchini (Ernani), Maria Clara Gueiros (Lili) e Alice Assef (secretária Beth) foram outros bons nomes do elenco.

Ainda havia um ótimo núcleo que retratava com competência o judaísmo, composto pela sempre ótima Ana Lucia Torre (Ester), Jaime Leibovitch (Mendel), Sidney Sampaio (Benjamin), Raquel Ripani (Tatiana) e Júlia Lund (Hanna) – com uma participação especial de Tereza Raquel, que ficou alguns capítulos interpretando a enérgica judia Rebeca. Além da religião ter sido usada como foco principal para os conflitos dos personagens, o câncer de Tatiana ainda foi inserido na história, promovendo, inclusive, uma linda cena da atriz raspando os cabelos (inspirada em “Laços de Família”).

Outro núcleo bem desenvolvido foi o protagonizado por Fábio Lago (Fabiano), Suzana Pires (Ivonete), Vanessa (Sophie Charlotte) e Adenor (Otaviano Costa). Apesar da forte comicidade presente, o drama do personagem de Fabiano rendeu uma das melhores sequências da novela, quando o ‘corno’ descobre que sua esposa tinha um caso com aquele que ela dizia ser seu irmão.

Após muitas investigações e situações cômicas, o desfecho foi bem dramático, com destaque para a atuação de Fábio, Suzana e Sophie, que conseguiu se destacar ao longo da história mesmo com um papel pequeno.

Vale elogiar também a dupla Cássio/Léa. Marco Pigossi virou um dos sucessos da história com seu gay afetado, cujo bordão “Eu tô Rosa Chiclete!” emplacou logo no início.

E através deste papel, o ator ganhou prestígio da Globo, passando a ser requisitado para as novelas da emissora. A relação do homossexual com a mãe de Judith era divertida e a atuação da Maria Zilda foi outra digna de elogios.

Caras & Bocas foi mais uma ótima novela de Walcyr Carrasco, dirigida por Jorge Fernando, e o imenso sucesso feito na época foi mais do que merecido.

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