Programa da Globo virou armadilha na carreira de atriz: “Me prejudicou”
18/01/2023 às 19h16
Intérprete de inúmeros papéis na história da teledramaturgia brasileira, Zilka Salaberry ficou marcada para sempre como a Dona Benta da versão do Sítio do Picapau Amarelo produzida entre 1977 e 1986.
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A atriz, que nasceu em 1971, iniciou sua carreira no cinema, na década de 1930, e estreou na televisão em 1956. As novelas vieram na década seguinte.
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Foi uma das primeiras contratadas da Globo em 1965, a partir da novela Rosinha do Sobrado. Depois, foram dezenas de tramas, com destaque para Irmãos Coragem, O Bem-Amado, Vale Tudo, Que Rei Sou Eu?, Araponga e Pecado Capital, entre outras.
“Não estou rica”
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Em 1975, a atriz deu uma entrevista falando sobre como a fama mudou sua vida. Na época com 58 anos de vida e 38 de carreira, ela participava de Corrida do Ouro.
“Hoje, embora tenha alcançado um certo respeito pelo meu trabalho e uma boa popularidade, posso dizer que não estou rica. Se amanhã eu parar de trabalhar, não terei do que viver”, explicou a atriz em entrevista à revista Amiga de 15 de janeiro daquele ano.
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Posteriormente, veio o papel que a consagrou definitivamente, no Sítio. No entanto, como a Folha de S.Paulo ressaltou no dia seguinte de sua morte, a atriz achava que a personagem fez tanto sucesso que se transformou numa espécie de armadilha para a continuidade de sua carreira. Sua personagem preferida era a Sinhana, de Irmãos Coragem.
“As pessoas choram e me beijam como se eu fosse a Dona Benta, que transmitia sabedoria. Mas a personagem prejudicou meu retorno às novelas. Quando fiz Teresa Batista e interpretava a dona de um bordel, as pessoas que acompanhavam a gravação diziam, por exemplo, a Dona Benta está tão bonita”, declarou, em uma entrevista ao Jornal do Brasil.
Família de artistas
Filha, neta e irmã de artistas, Zilka se casou com um colega de profissão, Mário Salaberry, grande nome do teatro. Mas ficou viúva em 1951, com um filho de seis anos, que se tornou advogado.
“Contrato mesmo eu só vim assinar na Globo, em 1969, depois de trabalhar bastante tempo mediante cachê. Talvez tenha sido a partir daí, durante Irmãos Coragem, que me dei conta de meu próprio potencial em relação à TV”, continuou.
“Desde então, resolvi me dedicar exclusivamente à televisão, mesmo porque não pretendo morrer de enfarte por querer trabalhar além das minhas possibilidades normais”, completou.
A atriz tinha uma superstição que levou por toda a vida: ela não tinha o costume de rever suas cenas na sala de edição, como fazia a maioria dos artistas. Supersticiosa, recordou que foi assim na primeira vez que esteve na televisão e, como deu certo, prosseguiu.
Últimos anos de vida
Quando foi convidada para o remake de Pecado Capital, em 1998, ela ficou muito feliz, já que estava longe das novelas desde Araponga, em 1990. No entanto, ela não foi até o final da trama, se afastando por problemas de saúde.
“Às vezes, eu pensava: “Será que eu estava me despedindo ali das novelas e nem sabia?”. Também ficava chateada porque as pessoas me perguntavam na rua quando eu apareceria de novo e eu não sabia o que responder”, contou ao jornal O Globo de 27 de setembro daquele ano.
Enfrentando problemas de saúde nos últimos anos de vida, inclusive usando cadeira de rodas para se locomover, a atriz morreu em 10 de março de 2005, aos 87 anos.
Ela ficou quase um mês internada no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, com insuficiência renal, infecção urinária e desidratação aguda, além de uma doença pulmonar crônica.