Carlos Imperial foi uma figura ímpar na historia da música, da televisão e do cinema. Polêmico e ousado, ele lançou moda e, mais do que isso, projetou cantores, compôs músicas de sucesso e programas de grande audiência. O artista não media esforços para sempre estar em evidência na mídia e um desses empenhos desmedidos foi fraudar os números do Ibope.

Em 1978, o Brasil era tomado pela febre da disco music, que fazia grande sucesso nas discotecas americanas. O estouro desse estilo foi com o lançamento do filme Os Embalos de Sábado a Noite, que tinha John Travolta no papel de Tony Mareno, um dançarino que se apresentava ao som de Bee Gees, Kool & the Gang, KC and the Sunshine Band, entre outros. Nessa mesma época, a novela Dancin’ Days, da Globo, ditava a moda da discoteca e os músicos embarcavam na era disco.

Carlos Imperial não ficou de fora e percebeu que era um momento importante para entrar nesse movimento. Após a ida de Chacrinha para a Bandeirantes, criou-se uma lacuna na noite de sábado da Tupi. Imperial foi chamado para ocupar o antigo horário do velho guerreiro e entrava no ar, de forma pobre e precária, o Programa Carlos Imperial.

A atração, de início, não apresentava bons índices de audiência e, por isso, Imperial demitiu parte da equipe e reformulou o programa, que entrava de cabeça na era disco. A abertura mostrava como seria a nova fase da atração: em um Corcel, ao lado de suas lebres – as dançarinas do programa – e ao som da música de Roberta Kelly, Oh Happy Day (letra gospel), o apresentador desfilava pelas praias do Rio de Janeiro.

No palco do Casino da Urca, Imperial recebia Tim Maia, Lady Zu, Wando, Ronaldo Resedá, Fabio, entre outros. Foi nesse programa que Maria Odete, que fazia parte do grupo As Melindrosas, virava Gretchen e fazia grande sucesso com suas músicas sensuais e o seu “derrière”. Imperial também lançou o cantor Dudu França, que cantava o hit Grilo na Cuca.

Sempre em busca de polêmica, Imperial mostrava uma nova tendência: o Disco Umbanda. O apresentador pedia para os telespectadores acenderem suas velas e curtirem o “Umbanda Discotheque”. Marque Neto, do bom Mofo TV, recuperou este e outros momentos:

Imperial incomodava a Globo, que esperava a novela das oito terminar para entrar no ar. Em algumas ocasiões, o Programa Carlos Imperial atingia 40 pontos no Ibope. Mesmo com o sucesso, a situação da Tupi não era boa, pois a emissora vivia uma grande crise. Para piorar, o diretor artístico, Walter Avancini, tirou o programa dos sábados e passou para quarta. Foi o estopim para Carlos Imperial deixar a emissora e aceitar o convite de Silvio Santos para ingressar o elenco da TVS do Rio de Janeiro.

O programa seguia o mesmo molde daquele da Tupi: as lebres dançavam enquanto os cantores da disco music brasileira se apresentavam no palco da TVS, agora gravado em São Paulo. Mas o programa não ia bem nos números de audiência e atingia 17 pontos no Ibope, nada comparado ao que registrava em sua época na Tupi.

Um belo dia saiu um índice do Ibope mostrando que o Programa Carlos Imperial atingiu 30 pontos. Foi uma festa na Vila Guilherme, até uma banda foi chamada pra comemorar o alto índice. Porém, o Ibope soltou um comunicado para todos os jornais, pedindo para os assinantes do serviço desconsiderassem os resultados dos sábados anteriores, pois os números estavam sob investigação. Para o Instituto, houve uma fraude nos números, especialmente sábado à noite.

Imperial sabia como funcionava o estudo do Ibope e o modo como a audiência era calculada e demonstrava uma vontade de manipular seus números há tempos. Para a TVS, emissora nova, não era ruim, mas Imperial queria mais. Dessa forma, combinou a fraude com funcionários do Ibope, conseguindo aumentar a audiência do seu programa. Quando a televisão estivesse desligada ou com defeito, ficava registrado que o televisor estava sintonizado na TVS.

O Ibope descobriu a fraude graças a uma denúncia anônima e pegou todos os funcionários envolvidos em flagrante. Além de todos serem encaminhados para a delegacia, foram demitidos. Imperial tirou todos eles de lá alegando falta de provas, mas a coisa não ficou boa para o seu lado: Silvio Santos teve uma reunião com o apresentador e disse que era impossível mantê-lo na TVS, depois de todas as notícias e denúncias. O Programa Carlos Imperial acabou saindo do ar.

Entretanto, esse fato não culminou no fim da carreira de Imperial, que continuou firme e forte, sempre em destaque na mídia e na imprensa, seja no mundo artístico ou político, utilizando o método que ele mais entendia: a polêmica.

Fonte: Dez! Nota dez! Eu sou Carlos Imperial | Denilson Monteiro
Editoria Matrix


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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor