O cantor, compositor e ator Ivon Curi nasceu em Caxambu (MG), em 5 de junho de 1928. A carreira dele ficou marcada pelo uso de perucas e pela presença na Escolinha do Professor Raimundo, do mestre Chico Anysio, que lhe ajudou a se livrar do acessório.

Chico Anysio

Irmão de Alberto e Jorge Cury, locutores da Rádio Nacional, Ivon deixou a veia artística falar mais alto logo cedo, cantando em festas e shows. Influenciado pelo músico francês Jean Sablon, ele passou a incluir cançonetas francesas em seu repertório, repleto de sambas-canção.

Em 1947, assinou com a Rádio Nacional, passando para a Tupi em seguida. Foi também um dos primeiros rostos da TV no Brasil… Na inauguração da Rede Tupi de Televisão, nos anos 1950, Curi se apresentou ao lado de Hebe Camargo (ainda morena) com a canção Meu Pé de Manacá – o número, registrado em película, é um dos poucos arquivos da época.

Ivon Curi e Hebe

Ivon Curi chegou a gravar vários discos. Entre os sucessos, destaque para Me Leva, com a participação de Carmélia Alves. Também O Xote das Meninas, Procurando Tu e Nego, Meu Amor, em parceria com a cantora Marlene, entre outras.

Parceria com Renato Aragão

Ivon Curi

A trajetória de Ivon incluiu também passagens pela Atlântida, estúdio de cinema que dominou o país com comédias estreladas por nomes como Oscarito e Grande Otelo. Na década de 1960, esteve ao lado de Renato Aragão, Ted Boy Marino e Wanderley Cardoso em Adoráveis Trapalhões, da TV Excelsior; era a primeira versão do humorístico que estourou na Globo.

Foi nesta época que surgiu o bordão “pelas perucas do Ivon Curi”, criado por Renato Aragão. O ator explicou o motivo de usá-las ao O Globo, em 17 de setembro de 1989, e revelou que nunca se incomodou com as piadas do colega:

“Embora tivesse 20 anos, meu cabelo estava tão ralo que não resistia à luz dos refletores. Comecei a usar peruca só para filmar e tirar fotos, principalmente depois de ser eleito Rei do Rádio, em 1955, quando tive que ser fotografado ao lado de várias artistas. Mas para que destruir uma imagem construída durante tantos anos? O Renato chegou até a me perguntar se eu não ficava chateado com a brincadeira e garanti que não”.

Curi atuou em duas novelas: Feijão Maravilha (1979), que reverenciava a Atlântida, e Barriga de Aluguel (1990). Ainda, uma participação na série Delegacia de Mulheres (1990).

A volta com Chico Anysio – e sem peruca

Ivon Curi

Ivon Curi acabou afastando-se de mídia, atuando como empresário e administrador de restaurantes, boates e do primeiro karaokê do Rio de Janeiro, o Canja. Foi Chico Anysio quem o levou de volta à TV; a princípio, com um esquete do Chico Anysio Show, em que Ivon interpretava um balconista de locadora de vídeo que entrava em pânico sempre que lhe pediam por filmes eróticos.

Em 1991, o ator foi escalado para a Escolinha do Professor Raimundo, onde deu vida a Gaudêncio, um gaúcho machão e bairrista. Para o personagem, Curi abriu mão da peruca que o acompanhou por décadas, por orientação de Chico Anysio.

“Ele viu um show em que eu fazia um nu artístico, ou seja, tirava a peruca no grand finale, e achou que eu devia passar a aparecer assim sempre. Agora, para a ‘Escolinha’, Chico deu a ideia e me disse: ‘Vou te livrar dessa maldição’. Confesso que hesitei, porque toda a minha imagem foi construída com peruca, mas acabei aceitando”, contou ao O Globo, em 30 de maio de 1991.

Gaudêncio fez sucesso com seu bordão – “Gaúcho macho-chô!” –, mas permaneceu no humorístico por pouco tempo. O personagem foi rifado, assim como Seu Peru (Orlando Drummond) e Marta Suplício (Nádia Maria), em 1992.

Ivon Curi

Questionado sobre a saída do seu personagem, Ivon se manifestou no jornal Folha de São Paulo, em 02 de julho para 1992:

“Não há nada transparente na saída dos alunos. A produção me informou apenas que a ‘Escolinha’ precisava amenizar a sacanagem. Disseram que a ordem vinha da cúpula global”.

Na mesma publicação, Chico Anysio foi enfático: “Fui eu quem decidiu tirar os alunos”. O personagem de Ivon retornou tempos depois, mas sem os apelos sexuais de antes. Junto de Chico, Curi fez também Estados Anysios de Chico City (1991), exibido no horário nobre.

Ivon Curi morreu por falência múltipla dos órgãos, em 24 de junho de 1995, no Rio de Janeiro, aos 67 anos de idade. Ele era casado com Ivone Freitas, com quem teve quatro filhos: Ivana, Ivan, Ivna e Ivo.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor