A Globo surpreendeu seu público ao anunciar que Cara e Coragem, atual novela das sete, teria um horário alternativo na madrugada. A trama de Claudia Souto tem seus capítulos do dia reexibidos de segunda a sexta, depois de Conversa com Bial, e aos sábados, após o Altas Horas.

Cara e Coragem

A surpresa se deu porque a emissora nunca foi muito adepta de oferecer “segundas exibições”. Para criar no público o hábito de ver seus programas sempre no mesmo horário, a Globo costumava evitar reapresentações como esta. No entanto, na era do streaming, este tabu acabou quebrado.

Mas engana-se quem pensa que Cara e Coragem é a primeira novela da emissora a ganhar uma reprise nas madrugadas. Em 1967, uma novela da Globo teve expediente semelhante, e por um motivo dos mais inusitados.

A Rainha Louca

A Rainha Louca

Entre fevereiro e dezembro de 1967, a Globo exibiu na faixa das 21h30 a novela A Rainha Louca. Tratava-se de um dramalhão de Glória Magadan, baseado no romance Memórias de um Médico, de Alexandre Dumas.

Naquele tempo, Glória Magadan era a “toda-poderosa” das novelas da Globo, assinando histórias fantasiosas, passadas em países distantes, normalmente com uma pegada de “capa e espada”. A Rainha Louca não fugiu à regra e narrava uma história passada no México do século 19.

Durante a intervenção de Napoleão, o imperador Maximiliano (Rubens de Falco) e sua esposa Carlota (Nathalia Timberg) passam a noite na fazenda de Fernando Moreno (Jaime Barcelos), onde conhecem o conde Demétrius (Paulo Gracindo), famoso por suas profecias. O feiticeiro revela à rainha que Maximiliano será fuzilado, fazendo-a pedir que ele seja detido. Temendo pela vida do marido, Carlota se desespera e vai enlouquecendo.

Falta de luz

A Rainha Louca

A atriz Thereza Amayo revelou que, por um período, as gravações de A Rainha Louca aconteciam de madrugada. Na época, um racionamento de energia vigente no estado do Rio de Janeiro afetou o cronograma das gravações, causando a mudança nos horários do trabalho.

Porém, o racionamento de energia não afetou apenas as gravações da trama. Como parte da cidade do Rio de Janeiro ficava sem luz justamente no horário da novela, a emissora passou a reapresentar seus capítulos na madrugada, justamente para atender o público que não conseguia assisti-la em seu horário habitual.

Assim, A Rainha Louca foi a primeira novela da Globo a contar com um horário alternativo nas madrugadas do canal. Cara e Coragem, então, resgata uma prática dos primórdios da emissora, mas que só aconteceu por conta da falta de luz no Rio de Janeiro.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor