Três anos depois de arrebatar o público interpretando Joventino, José Leôncio e Velho do Rio na versão original de Pantanal (1990), Cláudio Marzo retornou à Globo com status de estrela e um papel de destaque em Fera Ferida. Porém, no decorrer da produção, o núcleo do personagem perdeu função, levando à resolução trágica dos autores Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares.
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Marzo foi um dos maiores galãs da Globo na década de 1970, quando estrelou tramas como Irmãos Coragem (1970) e O Espigão (1974). Ele deixou a casa em 1978, quando participou de Roda de Fogo, na Tupi. Na volta, o ator acumulou galãs “aborrecidos” como Plumas e Paetês (1980), Pão-Pão, Beijo-Beijo (1983) e Cambalacho (1986), deixando a emissora outra vez, após a conclusão de Bambolê (1987).
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Na Manchete, Cláudio respondeu por Noronha, um dos destaques de Kananga do Japão (1989) – da qual saiu para brilhar em Pantanal. Segundo o próprio ator, os personagens da novela de Benedito Ruy Barbosa foram os melhores de sua longa trajetória.
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Antes de voltar à Globo, o artista ainda encabeçou o elenco da minissérie O Fantasma da Ópera (1991), que patinou na audiência.
Volta à Globo
Baseada em obras de Lima Barreto, Fera Ferida marcou o retorno de Cláudio Marzo à Globo. O ator interpretava Orestes, coveiro que conversava com os mortos e, por esta capacidade extraordinária, sabia dos segredos dos moradores da fictícia Tubiacanga. Casado com Ivonete (Julciléa Telles), Orestes dividia-se entre os dois filhos, Vivaldo (André Gonçalves) e Romãozinho (Patrick de Oliveira).
Os autores, contudo, estavam descontentes com o núcleo. Ivonete e Vivaldo, na visão dos responsáveis pela novela, não estavam rendendo como esperado. Foi quando veio o incêndio no cemitério, que vitimou a esposa e o primogênito de Orestes.
Aguinaldo Silva falou a respeito da resolução em entrevista ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia, do Projeto Memória Globo:
“Um núcleo que eu odiava, no qual nada dava certo. Só o Claudio Marzo e um menino, o Patrick de Oliveira, funcionavam. Fiz um incêndio e só os dois sobreviveram”.
“Do jeito que está não pode mais ficar”
A morte de Ivonete e Vivaldo reforçou a vilania de Major Bentes (Lima Duarte). Ele acreditava que Orestes estava envolvido no roubo dos ossos de sua mãe Leontina – arquitetado por Raimundo Flamel (Edson Celulari). Com a casa consumida pelo fogo ateado pelo major, o coveiro e seu caçula ganharam o abrigo da costureira Margarida (Arlete Salles), com quem Orestes se envolveu.
“Acho simpática a ideia de um romance entre ele e a Margarida”, admitiu Marzo em entrevista ao jornal O Dia, em 20 de março de 1994, mostrando-se ansioso por uma definição do autor Aguinaldo Silva e de seus colegas quanto ao destino do personagem.
Na mesma publicação, o veterano revelou que esperava alguma atitude de Orestes quanto à investigação da morte de seus familiares e aos cuidados com o filho mais novo.
“Ele tem que resolver a vida dele. Do jeito que está não pode mais ficar”, protestou o ator.
Com a modificação nos rumos da narrativa, acabou perdendo os poderes de falar com os mortos, o que, de acordo com o intérprete, era um dos charmes do personagem. Tal dom acabou sendo transferindo para Romãozinho.
Após participar de outras novelas, como Irmãos Coragem, A Indomada, Era Uma Vez, Andando nas Nuvens, Coração de Estudante, Mulheres Apaixonadas, A Lua me Disse e Desejo Proibido, o ator enfrentou problemas de saúde e morreu em 22 de março de 2015, aos 74 anos, vítima de complicações pulmonares.