Primeira semana de Sonho Meu: nostalgia, conflitos armados e personagens bem definidos

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Já falei em outras ocasiões que memória afetiva interfere na nossa percepção sobre telenovelas do passado. Sonho Meu, recente estreia do Viva, mexe com a minha. Não exatamente por causa da novela em si, mas pela época (meus 20 e poucos anos). Mais ainda por causa da cidade de Curitiba.

No início dos anos 1990, Curitiba estava em evidência, na moda, por razões boas: o então prefeito Jaime Lerner colocou a cidade nas páginas das revistas (nacionais e estrangeiras) por causa de sua administração voltada ao urbanismo e mobilidade humana, época da criação da Rua 24 Horas, da Ópera de Arame e do Jardim Botânico (todos em estrutura metálica) e das estações-tubo para transporte coletivo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A Globo, esperta, momentaneamente deixou de lado os costumeiros cenários cariocas, paulistas e nordestinos e apostou no hype envolvendo a capital paranaense. Para a primeira semana de Sonho Meu, a produção não poupou os atores de gravar em cartões postais como o Jardim Botânico, a Ópera de Arame, a Rua das Flores, a Rua 24 Horas, o Largo da Ordem, o bosque da Universidade Livre do Meio-Ambiente e as estações-tubo, claro, inclusive mostrando o seu funcionamento.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

LEIA TAMBÉM!

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

 

Toda essa viagem no tempo e espaço me causa nostalgia da época em que ia constantemente me divertir em Curitiba, onde tinha amigos e até sonhava em morar. É uma delícia rever a cidade de um tempo em que a conhecia tão bem, de tantos passeios, achados e momentos agradáveis.

Vamos falar da primeira semana da novela?

• Antes de mais nada, salta aos olhos o exagero dos figurinos, um excesso de casacos, sobretudos, peles e suéteres. Chega a ser risível. Não que não se use, Curitiba é realmente muito fria no inverno e as gravações de Sonho Meu se iniciaram em pleno inverno de 1993 (já que a novela estreou em setembro).

Mas fica parecendo que a qualquer momento vai aparecer neve cobrindo a Torre da Telepar ou pessoas fazendo bonecos de neve em pleno calçadão da XV de Novembro.

A novela se estendeu até maio de 1994, ou seja, atravessou todo o verão. Será que os atores continuarão usando sobretudos, suéteres e peles? A ver.

• Achei a primeira semana muito boa, com a devida explicação da trama, apresentação dos personagens centrais e formação de conflitos. Já entendemos perfeitamente do que se trata a história. Os perfis psicológicos foram definidos e a trama está armada.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE


Entendemos que Jorge (Fábio Assunção) é mau e sonso, quer derrubar a própria avó, Paula (Beatriz Segall) e desmoralizar o irmão, Lucas (Leonardo Vieira). Claro que todos acham que ele é um bom moço, a melhor das pessoas. E o gancho folhetinesco da mãe que abandonou o filho no passado – no caso Mariana (Débora Duarte) – é irresistível. Acontece duplamente na novela, já que Cláudia também teve que deixar de lado a filha pequena, Maria Carolina (Carolina Pavanelli).

• Contudo percebe-se no primeiro capítulo uma edição para deixar a exibição mais dinâmica: Cláudia (Patrícia França) entrou em um ônibus no Rio de Janeiro – para fugir do marido violento, Geraldo (José de Abreu) – e, na sequência, já estava não só instalada em Curitiba, dividindo apartamento com uma amiga, como também empregada em uma fábrica, como secretária.

• Não gosto quando a narrativa subestima minha inteligência, apesar de entender que o folhetim, muitas vezes, ignora a verossimilhança. Cláudia foi demitida da fábrica simplesmente “porque veio uma ordem de cima” e fim. Sabemos que isso não existe. Todo trabalhador precisa ser explicado porque está sendo demitido, por mais absurda que seja a explicação. É um direito e Cláudia simplesmente acatou a decisão sem sequer questionar as razões de seu desligamento.

• Percebe a cidade cenográfica inserida virtualmente na vista aérea de Curitiba? Achei perfeito. Outro truque formidável foi Maria Carolina andando sobre o tronco, no primeiro capítulo. Ou Carolina Pavanelli andou de verdade ou o efeito especial foi ótimo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

 

Carolina Pavanelli, aliás, é uma gracinha em cena, fofa demais! Em minha lembrança, até achava que ela fosse um pouquinho maior. Adorei a explicação de Tio Zé chamar a menina de Laleska: “bonequinha” em polonês. E não lembrava que Elias Gleizer falava com sotaque! Será que o ator vai deixando o sotaque de lado durante a novela? Aliás, a dupla Gleizer-Pavanelli é melhor que o casal central Lucas e Cláudia.

• O autor Marcílio Moraes reclamou que o público não aceitou, na época, a bigamia de Cláudia, que o público entendeu como uma falha de caráter da protagonista. Convenhamos que Cláudia se mostra um tanto dúbia, não? Posso estar sentindo errado. E Lucas é impulsivo e tolo demais. Porém, para a trama da novela andar, ele precisa agir assim.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE


Eu não assisti à novela original, Ídolo de Pano, da TV Tupi (exibida entre 1974 e 1975), mas li o livro inspirado nela e o personagem equivalente a Lucas, Luciano (vivido na novela por Tony Ramos), é exatamente isso: praticamente um bobalhão, extremamente romântico e ingênuo, impulsivo e inconsequente, já que o irmão passa boa parte do tempo fazendo ele de gato e sapato.

• Adorei ver no primeiro capítulo a participação especial de Jacyra Sampaio, a eterna Tia Nastácia do Sítio, como uma amiga de Cláudia do Rio de Janeiro.

• “Vieste”, na voz de Ivan Lins, é a melhor música da trilha sonora nacional e fica linda nas cenas de Cláudia e Lucas!

Autor(a):

Sair da versão mobile