Primeira semana de Sonho Meu: nostalgia, conflitos armados e personagens bem definidos

18/07/2021 às 3h35

Por: Nilson Xavier
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Já falei em outras ocasiões que memória afetiva interfere na nossa percepção sobre telenovelas do passado. Sonho Meu, recente estreia do Viva, mexe com a minha. Não exatamente por causa da novela em si, mas pela época (meus 20 e poucos anos). Mais ainda por causa da cidade de Curitiba.

No início dos anos 1990, Curitiba estava em evidência, na moda, por razões boas: o então prefeito Jaime Lerner colocou a cidade nas páginas das revistas (nacionais e estrangeiras) por causa de sua administração voltada ao urbanismo e mobilidade humana, época da criação da Rua 24 Horas, da Ópera de Arame e do Jardim Botânico (todos em estrutura metálica) e das estações-tubo para transporte coletivo.

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A Globo, esperta, momentaneamente deixou de lado os costumeiros cenários cariocas, paulistas e nordestinos e apostou no hype envolvendo a capital paranaense. Para a primeira semana de Sonho Meu, a produção não poupou os atores de gravar em cartões postais como o Jardim Botânico, a Ópera de Arame, a Rua das Flores, a Rua 24 Horas, o Largo da Ordem, o bosque da Universidade Livre do Meio-Ambiente e as estações-tubo, claro, inclusive mostrando o seu funcionamento.

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Toda essa viagem no tempo e espaço me causa nostalgia da época em que ia constantemente me divertir em Curitiba, onde tinha amigos e até sonhava em morar. É uma delícia rever a cidade de um tempo em que a conhecia tão bem, de tantos passeios, achados e momentos agradáveis.

Vamos falar da primeira semana da novela?

• Antes de mais nada, salta aos olhos o exagero dos figurinos, um excesso de casacos, sobretudos, peles e suéteres. Chega a ser risível. Não que não se use, Curitiba é realmente muito fria no inverno e as gravações de Sonho Meu se iniciaram em pleno inverno de 1993 (já que a novela estreou em setembro).

Mas fica parecendo que a qualquer momento vai aparecer neve cobrindo a Torre da Telepar ou pessoas fazendo bonecos de neve em pleno calçadão da XV de Novembro.

A novela se estendeu até maio de 1994, ou seja, atravessou todo o verão. Será que os atores continuarão usando sobretudos, suéteres e peles? A ver.

• Achei a primeira semana muito boa, com a devida explicação da trama, apresentação dos personagens centrais e formação de conflitos. Já entendemos perfeitamente do que se trata a história. Os perfis psicológicos foram definidos e a trama está armada.

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Entendemos que Jorge (Fábio Assunção) é mau e sonso, quer derrubar a própria avó, Paula (Beatriz Segall) e desmoralizar o irmão, Lucas (Leonardo Vieira). Claro que todos acham que ele é um bom moço, a melhor das pessoas. E o gancho folhetinesco da mãe que abandonou o filho no passado – no caso Mariana (Débora Duarte) – é irresistível. Acontece duplamente na novela, já que Cláudia também teve que deixar de lado a filha pequena, Maria Carolina (Carolina Pavanelli).

• Contudo percebe-se no primeiro capítulo uma edição para deixar a exibição mais dinâmica: Cláudia (Patrícia França) entrou em um ônibus no Rio de Janeiro – para fugir do marido violento, Geraldo (José de Abreu) – e, na sequência, já estava não só instalada em Curitiba, dividindo apartamento com uma amiga, como também empregada em uma fábrica, como secretária.

• Não gosto quando a narrativa subestima minha inteligência, apesar de entender que o folhetim, muitas vezes, ignora a verossimilhança. Cláudia foi demitida da fábrica simplesmente “porque veio uma ordem de cima” e fim. Sabemos que isso não existe. Todo trabalhador precisa ser explicado porque está sendo demitido, por mais absurda que seja a explicação. É um direito e Cláudia simplesmente acatou a decisão sem sequer questionar as razões de seu desligamento.

• Percebe a cidade cenográfica inserida virtualmente na vista aérea de Curitiba? Achei perfeito. Outro truque formidável foi Maria Carolina andando sobre o tronco, no primeiro capítulo. Ou Carolina Pavanelli andou de verdade ou o efeito especial foi ótimo.

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Carolina Pavanelli, aliás, é uma gracinha em cena, fofa demais! Em minha lembrança, até achava que ela fosse um pouquinho maior. Adorei a explicação de Tio Zé chamar a menina de Laleska: “bonequinha” em polonês. E não lembrava que Elias Gleizer falava com sotaque! Será que o ator vai deixando o sotaque de lado durante a novela? Aliás, a dupla Gleizer-Pavanelli é melhor que o casal central Lucas e Cláudia.

• O autor Marcílio Moraes reclamou que o público não aceitou, na época, a bigamia de Cláudia, que o público entendeu como uma falha de caráter da protagonista. Convenhamos que Cláudia se mostra um tanto dúbia, não? Posso estar sentindo errado. E Lucas é impulsivo e tolo demais. Porém, para a trama da novela andar, ele precisa agir assim.

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Eu não assisti à novela original, Ídolo de Pano, da TV Tupi (exibida entre 1974 e 1975), mas li o livro inspirado nela e o personagem equivalente a Lucas, Luciano (vivido na novela por Tony Ramos), é exatamente isso: praticamente um bobalhão, extremamente romântico e ingênuo, impulsivo e inconsequente, já que o irmão passa boa parte do tempo fazendo ele de gato e sapato.

• Adorei ver no primeiro capítulo a participação especial de Jacyra Sampaio, a eterna Tia Nastácia do Sítio, como uma amiga de Cláudia do Rio de Janeiro.

• “Vieste”, na voz de Ivan Lins, é a melhor música da trilha sonora nacional e fica linda nas cenas de Cláudia e Lucas!

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