Primeira semana de Era uma Vez: trama infantil demais, mas com propósito

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Quando Era uma Vez foi exibida, em 1998, eu estudava e não pude acompanhá-la. Muito menos em sua reprise no Vale a Pena Ver de Novo. Logo, não tenho a menor relação afetiva com essa novela. Minha análise de sua primeira semana é absolutamente fria e imparcial.

– A proposta é a narrativa infantil. O texto de Walther Negrão deixa isso bem claro, é direto, sem sutileza. Impressiona a decisão da Globo de substituir o remake de Anjo Mau (uma trama adulta, dentro do que é permitido na faixa das 18 horas), por uma novela completamente infantil. Mas houve um propósito.

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Era uma Vez foi lançada no auge da “febre Chiquititas”, novela infantil que fazia muito sucesso no SBT. A ideia era mirar o mesmo público, mas em outro horário: às 18 horas, enquanto a produção do SBT era, na ocasião, exibida às oito da noite.

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Comentários em meu post sobre 10 curiosidades de Era Uma Vez dão conta de que essa pegada infantojuvenil acontece apenas em parte da novela. Logo a trama adulta domina – no caso, Bruna, Xistus e Danilo tentando impedir a felicidade do casal protagonista, Madalena e Álvaro. Não posso afirmar se a novela melhora ou não com isso, pois não a acompanhei.

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• O trabalho de direção de Jorge Fernando passa aqui por uma transformação. Até então, Jorginho deixava sua marca com tomadas de decisões criativas que o identificavam. Com Era uma Vez, o diretor passa a usar um peso mais generalista em suas novelas. A experiência adquirida com essa trama infantil será para sempre replicada, em seus trabalhos posteriores.

Sensação potencializada com a direção das novelas de Walcyr Carrasco, de pegada mais infantilóide. Perceba o quanto Era uma Vez lembra Chocolate com Pimenta – não falo da história ou da presença de uma fábrica de chocolates em ambas as tramas, mas da direção e da estética dessas novelas, muito similares.

• Drica Moraes era alçada ao posto de protagonista pela Globo, depois do sucesso como a vilã Violante Cabral em Xica da Silva, da Manchete. Porém, chama a atenção o fato de seu nome vir em quarta posição nos créditos da abertura, atrás de Herson Capri, Andrea Beltrão e Elias Gleizer, quando sua personagem Madalena é a protagonista absoluta da trama. A Globo tinha o péssimo hábito de não querer dar moral a atores que haviam tido destaque em outra emissora imediatamente antes.

• Sinto Drica pouco à vontade na pele de Madalena, correndo pelas ruas de Barcelona ou mesmo quando sua personagem usa disfarces. Antônio Calloni, seu colega de cena, parece bem mais disposto e natural como Maneco Dionísio. Mas acho que isso é apenas no começo. Ou Madalena é um tanto insegura, o que justifica ter o companheiro de aventuras sempre a estimulá-la.

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• Acho a participação de Tereza Rachel, como a governanta Berta, um luxo. Claro que é puro suco de caricatura da governanta alemã severa e autoritária. Mas Tereza faz isso tão bem que suas lentes azuis fakes sequer incomodam. Grandes atores conseguem tirar leite de pedra.

• Gosto da vilã Bruna de Andrea Beltrão. Bruna não é apenas má, como toda criança enxerga uma vilã de conto de fadas. Bruna tem um cinismo e um deboche implícitos, eu diria sutis, em pequenos comentários e gestos que podem passar despercebidos pelos menos atentos. Não sei se a atriz mantem essa linha no decorrer da novela, mas achei interessante em meio a uma trama que não prima muito pela sutileza.

• A novela é toda bonitinha, com estética, cenários e figurinos bem demarcados, próprios para agradar crianças. A fazenda de Pepe é o suprassumo do lúdico. Elias Gleizer está perfeito, mesmo com camisa xadrez e jardineira impecavelmente limpas demais para um homem do campo, que ainda é carpinteiro.

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• Babi e sua mãe Laura (Nívea Stellman e Cinira Camargo) são uma releitura de Bianca e Soraia (Rita Guedes e Ana Rosa) de Despedida de Solteiro.

• Horácio Zanella é um personagem esquecido na carreira de Marcos Frota, né? Apesar da clara tentativa de criação de um tipo.

• Cláudio Henrich… totalmente cru. O problema foi que continuou assim.

AQUI tem tudo sobre Era uma Vez: trama, elenco completo, personagens, trilha sonora e curiosidades.

SOBRE O AUTOR
Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira.

SOBRE A COLUNA
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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