O primeiro atentado terrorista a ser exibido ao vivo para o mundo todo pela televisão aconteceu durante os Jogos Olímpicos de Munique, na Alemanha, em 1972. Um grupo de guerrilheiros palestinos invadiu a Vila Olímpica e fez atletas de Israel reféns – posteriormente, após uma desastrada ação policial, todos foram mortos.

A 20ª edição dos Jogos Olímpicos começou no dia 26 de agosto de 1972. Pela primeira vez, o Brasil via uma transmissão ao vivo de Olimpíadas. A Globo, por exemplo, exibia algumas competições ao vivo, como basquete e futebol, boletins em seus telejornais e um programa diário noturno com os principais acontecimentos, via satélite, o que era novidade na época – a Copa de 1970 foi o primeiro grande evento esportivo transmitido dessa forma.

Tudo corria bem até o dia 5 de setembro, quando, pouco depois das quatro da manhã, oito guerrilheiros da organização terrorista palestina Setembro Negro entraram na Vila Olímpica, invadiram o prédio da delegação de Israel e fizeram 9 atletas reféns, exigindo a libertação de 250 presos. Além disso, outros dois integrantes da delegação israelense que reagiram foram mortos no início da ação.

Pela primeira vez, o mundo via um acontecimento desse tipo ao vivo pela televisão, através de quatro satélites. Calcula-se que 900 milhões de pessoas viram essas cenas. Mais de 4000 jornalistas cobriam o evento e procuravam entender as informações desencontradas no centro de imprensa. A competição foi paralisada e as negociações se estenderam por todo o dia.

A mídia, inclusive, atrapalhou uma das estratégias da polícia: o prédio seria invadido através do duto de ar condicionado, mas as câmeras mostraram a ação ao vivo. Os terroristas avisaram que estavam vendo tudo e que os atletas seriam executados caso a tentativa não fosse abortada.

À noite, três helicópteros decolaram da Vila Olímpica em direção ao aeroporto de Fürstenfeldbruck, onde um avião levaria os palestinos e os reféns para o Egito. Mas tudo não passava de uma armadilha da polícia alemã. Chegou-se a divulgar que os atletas tinham sido liberados e os terroristas mortos, mas não foi o que aconteceu. De forma desastrada, atiradores de elite abriram fogo contra os terroristas, que perceberam a emboscada e acionaram uma granada dentro do helicóptero, que explodiu.

Resultado: os nove atletas israelenses morreram, bem como cinco terroristas, um policial e o piloto do helicóptero. Os outros três terroristas foram presos, mas não por muito tempo. Em 29 de outubro, após o sequestro de um avião da Lufthansa, eles foram libertados, como parte do resgate.

Segurança

No dia seguinte ao massacre, foi realizada uma cerimônia de homenagem no Estádio Olímpico, com a presença de 80 mil pessoas, incluindo autoridades mundiais. O mundo ficou chocado e uma pergunta ficou no ar: os Jogos, que estavam paralisados, deveriam continuar?

Foi decidido que sim, apesar dos protestos de muitos países e atletas envolvidos. Enquanto a delegação de Israel deixou a Alemanha, o Brasil foi um dos países que apoiou a continuação. O evento terminou dia 11 de setembro de 1972, como programado originalmente.

A partir daí, começaram as especulações sobre a segurança em eventos desse porte. Até então, não existia nenhum esquema rígido, tanto que qualquer pessoa entrava na Vila Olímpica.

Luciano do Valle, que integrava a equipe da Globo, contou ao projeto Memória Globo que em determinado momento estava conversando na Vila Olímpica com Edvar Simões, então jogador da seleção brasileira de basquete, e nem percebeu o que estava havendo.

O acesso foi restringido apenas para atletas credenciados e foram adotadas medidas emergenciais para evitar novos incidentes. Posteriormente, os esquemas de segurança foram sendo aprimorados, já tendo reflexos nos Jogos Olímpicos de Montreal (Canadá), em 1976.

No entanto, outro atentado voltou a acontecer nas Olimpíadas de 1996, em Atlanta, nos Estados Unidos. No dia 27 de julho de 1996, uma bomba explodiu no Centennial Olympic Park, a poucos metros da Vila Olímpica, matando duas pessoas e ferindo outras 112.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor