Antes da Tupi revolucionar a teledramaturgia brasileira com Beto Rockfeller (e a Globo ir na mesma onda, fazendo tramas como Véu de Noiva e Irmãos Coragem), os brasileiros tinham apenas mastodônticos dramalhões mexicanos como opção de entretenimento noturno na televisão.

Uma dessas novelas foi A Rainha Louca, que estreava na Globo há exatamente 53 anos, em 20 de fevereiro de 1967. Mais uma rocambolesca história de Glória Magadan, se passava no México do século 19, quando Napoleão III interveio naquele país.

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No elenco, nomes de peso, como Nathália Timberg, que vivia a tal rainha louca, Rubens de Falco, Amilton Fernandes, Cláudio Marzo, Leila Diniz, Theresa Amayo e Paulo Gracindo, entre outros.

No entanto, a audiência rejeitou a produção – nem mesmo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que iniciava sua trajetória no canal, gostou do que estava vendo. “Assisti a alguns capítulos. Eram terrivelmente chatos e arrastados. O Ziembinski dava à novela um ritmo lento e pesado. Em alguns momentos, chegava a ser dark”, escreveu em seu “O Livro do Boni”.

Uma intervenção foi feita, com a troca de diretor. Dessa forma, o jovem Daniel Filho ganhou sua primeira oportunidade para dirigir uma novela.

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Em seu livro “O Circo Eletrônico”, o diretor contou como se deu o diálogo com Boni:

“Boni me chamou e perguntou:

– Daniel, você está assistindo a essa nova novela, A Rainha Louca?

– Claro que não Boni.

– Por que?

– Acho essa coisa de novela chata, inverossímil, absurda. Não entendo como alguém pode ficar sentado, assistindo diariamente àquela porcaria…

– Eu quero que você a dirija.

– Que coisa, Boni, logo eu!

– Você gosta tanto de cinema, fala tanto, conhece tanto. Então… Você bota essas coisas todas de cinema aí na novela, dá uma mexida…

E lá fui eu dirigir A Rainha Louca, a primeira das inúmeras novelas que viria a dirigir na TV Globo”.

Deu certo. Daniel fez diversas mudanças na trama, imprimiu agilidade e ritmo à produção, além de elementos cinematográficos, como o executivo pediu.

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A audiência cresceu e a novela, que teria 160 capítulos, foi esticada, chegando a 215 – terminou em 16 de dezembro de 1967.

Apesar da recuperação, A Rainha Louca não está na lista dos maiores sucessos da Globo. Mas a trama entrou para a história da televisão por outro motivo: foi a primeira a ter cenas externas gravadas no exterior.

A Globo foi até o México, onde gravou em locações como o Castelo de Chapultepec, na capital daquele país.

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Outra curiosidade é que a emissora reprisava os capítulos da produção durante a madrugada. Acontecia um racionamento de energia no Rio de Janeiro e muita gente ficava sem luz no período noturno. Dessa forma, quem não conseguisse ver a trama em seu horário original, conferia mais tarde.

Infelizmente, A Rainha Louca é mais uma novela que nunca mais poderá ser vista, já que suas fitas se perderam para sempre, provavelmente nos incêndios sofridos pela Globo.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor