Após seis semanas, chega ao fim a primeira fase de Nos Tempos do Imperador, com muitas críticas e audiência aquém da esperada: média de 17,5 pontos no Ibope da Grande São Paulo, quando a meta são 20 pontos – enquanto as reprises anteriores, Flor do Caribe e A Vida da Gente, alcançaram 20 e 19 pontos, respectivamente.

Entre outros desacertos, está a forma como a produção retrata Dom Pedro II e sua família, como figuras extremamente complacentes com a causa da abolição da escravatura, o que sugere revisionismo histórico, ou, no mínimo, uma tentativa de melhorar a imagem da família imperial (a famosa “passação de pano“). Uma família bondosa demais, mas que sente-se impotente demais ante a escravidão. Também apática demais.

Ainda a insistência em abordar a escravidão sob a ótica de brancos, enaltecendo personagens brancos redentores – Pilar, Barral, Pedro, Tereza Cristina – em detrimento da luta dos negros. Existe o núcleo da Pequena África, de resistência negra, mas de importância nenhuma até agora, quando comparado às tramas dos personagens brancos. Como escrevi em texto anterior, chega de Escravas Isauras e Sinhás Moças.

O estopim aconteceu já na terceira semana, com uma sequência de puro racismo reverso, algo inconcebível nos dias de hoje. Tudo isso acabou gerando uma grande má vontade com a novela. Existe um movimento da produção para aparar – ou ao menos amenizar – erros (gerenciamento de crise), já que a novela já foi gravada. Cenas estão sendo reeditadas e atores voltando a estúdio.

Nos Tempos do Imperador já não vinha bem de qualquer jeito. Entre outros fatores, o ritmo por demais lento, a falta de química entre os protagonistas Pilar e Samuel e o romance reprovável de Pedro II e a Condessa de Barral. Nas redes sociais, também pipocaram críticas à dupla Germana e Licurgo, amada na novela Novo Mundo, mas aqui apenas sobrando.

Nesta sexta semana, a abertura do cassino de Quinzinho deu dinamismo à novela, o que ajudou a render bons ganchos e desdobramentos para a fase seguinte.

O grande destaque até aqui foi o vilão Tonico Rocha, que praticamente dominou a trama e engoliu os demais personagens. Carismático e engraçado, às vezes debochado, às vezes ridículo ou repugnante, é o melhor personagem. Alexandre Nero está dando um show. A dobradinha com Gabriela Medvedovski é ótima, por Pilar confrontá-lo sempre, o que rende ótimas cenas.

Achei muito engenhosa toda a situação criada pelos autores – exibida nesta última semana – que culminou com o rompimento de Pilar e Samuel. Tonico instiga Dolores a fomentar uma mentira contra o casal e Pilar flagra o amado em um local suspeito, acompanhado da Barral com o batom borrado – após ele ter evitado que a condessa e o imperador fossem vistos aos beijos. Remete às boas armações dos vilões das novelas de Gilberto Braga.

Torçamos para que a fase seguinte traga novo fôlego, mais dinamismo e melhores tramas.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor