Em meados de 2014, após a derrota vexatória da Seleção Brasileira para Alemanha por 7 a 1 no Mineirão, o principal narrador da TV Globo, Galvão Bueno, talvez embalado pela tristeza, disse que aquela seria sua última Copa do Mundo e se aposentaria depois das Olímpiadas do Rio, surpreendendo fãs, telespectadores e até mesmo os haters.

No entanto, algumas semanas depois, o carioca da gema Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno novamente chamou a atenção de todos, anunciando que postergaria sua aposentadoria para depois da Copa do Mundo da Rússia.

Confesso que depois de 2006, após a derrota do Brasil para França na Copa do Mundo, o amor pela Seleção e, consequentemente, o gosto de ouvir as narrações de Galvão diminuíram bastante, até porque o time não transparecia para o torcedor muita esperança e ele sempre transformava o jogo em um espetáculo que não existia.

O narrador, que também trabalhou na TV Gazeta, na Record e na Rede Bandeirantes, sempre foi um vendedor de emoções – e isso não podemos negar.

Foi na voz dele que quase todos os domingos ouvimos as vitórias de Ayrton Senna (do Brasil) na Fórmula 1, os gritos de “é tetra” e “é penta” nas Copas do Mundo e dos inúmeros títulos em várias modalidades esportivas na qual o Brasil se sagrou campeão.

Embora a Globo, por muito tempo, não permitisse que seus narradores expressassem opinião ou emoção no ar, Galvão, talvez até pelo tempo de casa, deu o início da quebra desse paradigma e se deixava levar através de seus históricos bordões, até que a Olimpíada do Rio chegou e, com ela, conhecemos um novo Galvão Bueno.

A então crise na seleção, que, na minha opinião, acontecia desde 2006, se mostrou óbvia nos Jogos Olímpicos. Após o jogo contra o Iraque, assistimos um desabafo histórico e inédito em rede nacional, que não poupou a direção da CBF e nem seu pupilo Neymar Jr.

A partir dali, enxergamos um “novo Galvão”, que começou a colher as dores dos brasileiros e cobraria melhorias no esporte mesmo em seu posto de narrador.

Posteriormente, conhecemos um lado mais humano e real da pessoa Galvão Bueno, na qual podemos destacar a transmissão do ouro inédito do futebol olímpico e, principalmente, a entrega dele durante toda cobertura do acidente com o time da Chapecoense, ficando mais de sete horas no ar.

Mesmo que a voz dele esteja calejada, a força para gritar um gol tenha diminuído ou a hora de se aposentar bateu mesmo na porta, Galvão Bueno jamais deixará o posto da pessoa que inspirou inúmeros jovens a trabalharem com jornalismo esportivo, a serem atletas e, principalmente, da pessoa que emocionou diversas gerações com sua voz e empenho.

Querem uma dica? Aproveitem cada narração, porque 2018 é logo ali, amigo!

DOUGLAS SILVA é formado em jornalismo, trabalhou como produtor e social mídia em rádios e TVs de BH. Ama falar sobre televisão e tem um uma paixão por fotografia e futebol americano. Contatos podem ser feitos pelo Twitter: @uaiteve. Ocupa este espaço às terças


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