Um Lugar ao Sol completa um mês no ar com trama ágil e muitos acontecimentos desde a estreia. É uma novela curta e, assim como uma minissérie ou uma série, nos lembra que o tempo corre mais rápido do que na vida real. Diferente das novelas longas, nas quais os acontecimentos deixam a impressão de seguir o ritmo de nosso dia a dia – com exceção das novelas de Manoel Carlos, em que um casamento durava uma semana!

– O prazer feminino nunca antes foi tão longe em uma novela. A questão é discutida em todas suas nuances, com a delicadeza e sutileza que o tema exige. Rebeca é uma das melhores personagens da trama, uma das melhores interpretações de Andrea Beltrão. A personagem começou sessões de terapia com Ana Virgínia (Regina Braga) e os diálogos são sempre sensacionais, dos dois lados.

Na semana passada, Túlio flagrou Rebeca se masturbando. Nesta, no capítulo de quinta-feira, Rebeca estava tentando fazer sexo com Túlio quando percebeu que ele ligou a TV em um canal pornográfico, o que a deixou revoltada.

Eu não acredito em uma transa supersônica, eu não acredito em caras depilados, eu não acredito em mulheres de peitos de silicone voando pela tela da televisão (…) Eu não acredito em uma transa sem romance. Gosto de ligação, gosto de olho no olho (…) gosto de intimidade, gosto de sexo com admiração, tesão, amor, carinho respeito. Parece que isso já não existe mais entre a gente. Tá me dando…  um certo nojo!“.

Rebeca discute o tema em terapia: “Por que os homens são assim?“, ela pergunta a Ana Virgínia, que a questiona se ela acha mesmo que todos os homens são assim. Rebeca fala do nojo que sentiu do marido e segue o seguinte diálogo:

Ana Virgínia: “Sabe que entre as vantagens de envelhecer, acho que essa é a maior. A gente se autoriza a ser o que é. Larga para trás o pensamento normopata, o que é normal, o que não é normal. Na verdade, não é normal ou anormal gostar de pornografia, assim como não é certo ou errado. Normal, correto, saudável é ser você mesma. É dizer a verdade sobre o que você quer ou o que você deseja“.

Rebeca: “E se o meu desejo não combinar com o desejo do outro?”.

Ana Virgínia: “O jogo amoroso é um jogo democrático, ele tem que ser bom pros dois. A mulher historicamente foi acostumada a anular o próprio desejo, ou a se submeter à vontade do outro. Mas hoje o mundo é diferente“.

Rebeca fala então de como poderia ser diferente o sexo com o “menino” com quem está envolvida, porque ele não faria um sexo mecânico como Túlio queria. E Ana a cobra a sua fala quando ela afirmou que todos os homens são iguais. Não são. Nem todas as situações são iguais.

– A propósito, a relação Rebeca-Felipe-Ana Virgínia é claramente inspirada no filme Terapia do Amor, de 2005, com Uma Thurman, Bryan Greenberg e Meryl Streep vivendo personagens e situações muito semelhantes.

– Ótima a fala de Santiago em que ele censura a filha Bárbara por um chiste maldoso dela:

Papai, eu tava brincando!“.

Não, minha filha. Brincadeira é quando os dois lados se divertem. Quando só um lado se diverte e o outro se magoa não é brincadeira. É maldade disfarçada“.

Leveza e equilíbrio

– E quem disse que novelas de Lícia Manzo não têm núcleo de humor ou alívio cômico? Estão aí Elenice, Teodoro e Alípio para trazer leveza e um equilíbrio com os dramas mais pesados da história. Só não espere torta na cara e arremesso em chiqueiro porque esta não é a proposta da novela, muito menos o estilo da autora.

Divertida toda a sequência em que Elenice mostra ao irmão Teodoro a cobertura da família Assunção que ela se apropriou. A história da orquídea roubada da árvore da vizinhança é sensacional. Mais sensacional é quando Elenice descobre a tornozeleira eletrônica na perna de seu hóspede Alípio, o que a deixa excitada e ainda mais interessada no safado. Elenice é pura contravenção.

Há uma cena em que Elenice e Alípio estão assistindo ao final do filme Quanto Mais Quente Melhor, em que o personagem de Jack Lemmon consegue escapar da polícia com o motorista. “Ninguém é perfeito!” Apropriado para os dois trambiqueiros. Seria um easter egg?

– Ótima a sequência do almoço no restaurante com Renato, Bárbara, Elenice, Teodoro e Alípio, em que eles discutem diferenças de classes e a “torta de climão” é servida: Renato cobra da mãe adotiva sua atitude em relação ao irmão gêmeo, que ela deixou à própria sorte no momento da adoção, dando nomes inclusive. Elenice não sabia que seu filho sabia dessas informações.

– As aulas de escrita criativa trazem uma ocupação para Bárbara, que enxerga nelas uma forma de conectar-se mais com o marido, um entrecho que promete render bem. Bárbara apropria-se do texto que Janine escreveu sobre ela, texto este que encanta Renato e seu pai Santiago. Cenas posteriores sinalizaram que Bárbara é uma aluna limitada na escrita. Conhecendo um pouquinho a personagem, já dá para imaginar que isso não vai terminar bem.

Barriga chapada

– Joy usa dinheiro da creche do filho para “chapar a barriga” com injeções, o que acaba lhe provocando reações alérgicas. Ela vai parar no hospital, o que faz Ravi ser demitido porque ele teve que atender o filho pequeno. Na readmissão de Ravi por Renato, Túlio flagra uma conversa entre os dois e fica com uma pulga atrás da orelha sobre a relação do motorista com o patrão.

Veladamente, Túlio ameaça Ravi. O diálogo é dentro do carro e aparece uma borboleta voando, que serve de alegoria ao personagem, ainda não muito clara ao público. Logo em seguida, ao conduzir Ruth, Ravi conclui que ela tem um caso com Túlio.

Percebe as conexões e os arranjos que a autora constrói entre os personagens? E tudo começou porque Joy queira uma barriga chapada! Ao mesmo tempo, Renato descobre que Túlio está contratando os serviço de um ex-chefe dele, ou melhor, de Christian. Essa trama promete.

– Bárbara marca um date para Nicole com um rapaz gordo e piadista, mas ela detesta e fica indignada com a irmã. Na sequência, Bárbara leva o pai para assistir a um show de stand up de Nicole e ela, já alta, desconta sua revolta e frustração nos dois, com comentários grosseiros. Acaba demitida pelos excessos.

Eu ainda não tenho uma opinião formada sobre Nicole, uma personagem que se autodeprecia por se sentir fora do padrão e ataca os outros com seu rancor. Não sei se a autora pega pesado, ou se a abordagem é boa. Vamos aguardar para ver como a personagem será desenvolvida.

Cecília lê um bilhete de Felipe para Rebeca e descobre o envolvimento dos dois. Revoltada, ela decide extravasar sua decepção (ou raiva, ou inveja) com a mãe indo a uma festa em que bebe muito e acaba ficando com um rapaz. Acontece um estupro. Também aguardamos os desdobramentos dessa sequência.

Rebeca, por sua vez, resolve acatar a vontade da filha e promete que não estará mais entre seus amigos. É uma cena bonita, de uma mãe que se anula pela filha. Manoel Carlos muito orgulhoso! Mas pouco adianta: Cecília descobre que a mãe lhe escondeu que havia acontecido um beijo com Felipe e sai de casa.

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Trama bem forçada

– Lara tenta refazer os passos de Christian para descobrir o que aconteceu na noite de sua morte. No Rio, vai ao estádio do Engenhão e, por meio de uma foto panorâmica da torcida da noite em que ele morreu, o descobre olhando para seu irmão gêmeo, que estava na tribuna de honra. Maldade a piada de que é muito fácil achar alguém na torcida do Botafogo!

Lara decide então fazer o mesmo que Christian anos atrás: trabalhar na porta do estádio na esperança de dar de cara com o gêmeo (ou quem ela acredita ser o gêmeo). Acho essa trama beeem forçada!

– O seguidor @BodyGanesha me informou que, para o entrecho em que Lara reconhece Christian na multidão no estádio, provavelmente a autora baseou-se no documentário da Netflix Long Shot, um Álibi Improvável, que narra a história verídica de um acusado a assassinato inocentado porque seu advogado provou que, na hora do crime, ele estava em um estádio lotado.

O acusado Juan Catalan aparece no meio da multidão nas imagens gravadas pelo circuito interno do estádio. A imagem estava ruim, mas o que o livrou mesmo da condenação foi ele ter aparecido nas imagens gravadas pela HBO, que naquele momento filmava um episódio da série Curb Your Enthusiasm. Parece novela né? Mas foi real!

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor