No ar no canal Viva, América (2005) foi um dos grandes sucessos do horário nobre da Globo na década de 2000. A trama de Gloria Perez começou derrapando, mas soube reverter a crise e terminou com audiência em alta e muita repercussão.

Gabriela Duarte em América, novela de Gloria Perez
Gabriela Duarte em América (Reprodução / Globo)

No entanto, a trama esteve longe de agradar totalmente o público. Pelo contrário. Muitos espectadores reclamaram do andamento da história e ficaram particularmente insatisfeitos com os desfechos de alguns personagens, como Sol (Deborah Secco), Tião (Murilo Benício) e Simone (Gabriela Duarte).

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Casal sem final feliz

Murilo Benício e Deborah Secco em América
Murilo Benício e Deborah Secco em América (Divulgação / Globo)

Principal casal da novela, Sol e Tião se apaixonaram à primeira vista e viveram um amor arrebatador. Havia algo de místico na união da moça e do peão de rodeio. Eles foram apresentados como verdadeiras almas gêmeas, com uma missão a cumprir na vida um do outro.

Porém, o casal simplesmente não aconteceu. Depois que Sol decide não se casar com Tião e ir em busca de seu sonho de viver nos Estados Unidos, o público simplesmente não comprou essa história de amor. Com isso, no decorrer da trama, eles encontram novos pares e só se reencontram quando Sol dá à luz Chiquinho, seu filho com Ed (Caco Ciocler) – Tião faz o parto e salva Sol.

Foi assim que Gloria Perez “resolveu” a tal missão que unia Sol e Tião. O casal não volta a ficar junto e eles terminam a novela separados. Sol tem um final feliz ao lado de Ed, enquanto Tião acerta os ponteiros com Simone.

 

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Vilã decepcionante

Caco Ciocler (Ed) e Camila Morgado (May) em América
Caco Ciocler (Ed) e Camila Morgado (May) em América (divulgação/Globo)

Outra decepção de América se deu com a trajetória de May (Camila Morgado). A atriz vinha do enorme sucesso A Casa das Sete Mulheres (2003) e havia a curiosidade do público quanto ao seu próximo trabalho. Gloria Perez, por sua vez, vendeu a personagem como uma “grande vilã”.

Com isso, o público esperava uma “nova Nazaré (Renata Sorrah)”, já que América era a substituta de Senhora do Destino (2004) no horário nobre da Globo. Mas May ficou longe de ser essa vilã toda. Ela era uma chata, sim, e infernizou a vida de Sol – ela era a ex-noiva de Ed e não aceitava ser trocada pela imigrante. Porém, ela não era uma megera tão carismática.

Para piorar, May tem um desfecho sem graça. Após perder Ed para Sol definitivamente, a professora aparece sozinha, andando de salto alto com dificuldades em um terreno cheio de pedras. E é isso, acabou…

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Polêmica do beijo gay

Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro em América
Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro em América

Mas a grande decepção de América se deu com o prometido beijo gay que acabou não acontecendo. Na trama, Junior (Bruno Gagliasso) se descobre homossexual e acaba se apaixonando pelo peão Zeca (Erom Cordeiro).

Na época, o casal caiu nas graças do público, que torcia por um final feliz para o filho da viúva Neuta (Eliane Giardini). Percebendo o clima favorável, Gloria Perez decidiu que era hora de quebrar um tabu e exibir, pela primeira vez no horário nobre da Globo, um beijo entre dois homens.

A autora escreveu a sequência, que chegou a ser gravada. A imprensa deu ampla repercussão ao assunto. No entanto, o capítulo final só mostrou Junior e Zeca se olhando apaixonados, sem o prometido beijo. A direção da Globo considerou que o beijo poderia revoltar o público e optou pelo corte da cena, decepcionando muita gente.

No documentário Orgulho Além da Tela, sobre a representatividade LGBTQIAP+ na teledramaturgia, a Globo revelou que a sequência não existe mais em seus arquivos. O canal justificou que cenas não aproveitadas acabam sendo descartadas definitivamente. Ou seja, a reprise no Viva não vai mostrar o esperado beijo de Junior e Zeca.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor