André Santana

Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, a jornalista e apresentadora Fátima Bernardes revelou que partiu dela a ideia de oferecer à Globo um novo programa para substituir a TV Globinho. Ela contou que queria sair do Jornal Nacional para ter sua própria atração, e notou que havia um problema de grade justamente no horário do infantil. Por isso, propôs à direção do canal um programa para a faixa.

Fatima Bernardes e Patricia Poeta

Assim, Fátima Bernardes assumiu a “culpa” pelo fim da famosa faixa de exibição de desenhos, que ficou no ar na Globo entre 2000 e 2015. Deste modo, ela deu mais munição aos seus “haters”, pois, desde que o Encontro com Fátima Bernardes estreou, não faltou marmanjo reclamando da presença de Fátima e da falta de seus desenhos favoritos nas manhãs da Globo.

Dez anos depois, ainda tem que torça pela volta da TV Globinho. Nas redes sociais, não faltam memes reclamando da ausência de Bob Esponja, Dragon Ball Z e cia. Mas afinal, Fátima tem mesmo culpa pelo fim do famoso infantil?

Dinheiro

A resposta ao questionamento acima é simples: não. O fato de Fátima Bernardes ter oferecido um projeto de programa para ocupar o horário da TV Globinho não significa que a jornalista tenha acabado com a diversão das crianças que assistiam aos desenhos da Globo.

Na verdade, se não fosse Fátima, seria outra pessoa a ocupar o horário do programa infantil. Isso porque programas voltados para crianças deixaram de ser um bom negócio para as emissoras abertas, e por vários motivos.

Um dos motivos foi a própria incapacidade da TV aberta de produzir programas infantis capazes de atrair grande público. Com formatos cada vez mais preguiçosos e pouco atrativos, os infantis perderam muita audiência, fazendo com que os canais fossem abrindo mão deles.

A própria Globo vinha fazendo investimentos, como o Sítio do Picapau Amarelo e o TV Xuxa, mas todos saíram do ar por baixa audiência. Ficaram então as faixas de desenhos, com produções estrangeiras, e a TV Globinho se tornou o principal expoente desta fase.

Neste contexto, a TV Globinho criava uma espécie de “gargalo” de audiência nas manhãs da Globo, o que prejudicava o “efeito cascata” e, consequentemente, a manutenção do público nos programas que viriam depois. Além disso, a resolução 163/2014 do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) restringiu a publicidade voltada para crianças na TV, o que diminuiu o poder comercial destas atrações.

Saem desenhos, entram revistas eletrônicas

Encontro com Fátima Bernardes - capoeira

Ou seja, com baixa audiência e baixo faturamento, os programas infantis já não tinham razão de ser na TV aberta. Por isso, vários deles foram substituídos por revistas eletrônicas, que podem até não ter grande audiência, mas são valiosos espaços para merchandising.

Sendo assim, embora a ideia de ocupar o horário da TV Globinho tenha partido de Fátima Bernardes, a jornalista não foi a culpada pela demissão de Bob Esponja da emissora líder de audiência do país. Fãs de Goku, já podem deixar a Fátima em paz!

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor