Considerada a primeira novela thriller da TV brasileira, A Próxima Vítima, disponibilizada no Globoplay nesta segunda (26), despertou o lado detetive dos telespectadores. Todos acompanhavam a trama para tentar identificar quem era o assassino (Cecil Thiré no primeiro final e Otávio Augusto no segundo) e quem seria o próximo a ser eliminado após receber uma misteriosa lista com o horóscopo chinês.
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Enquanto o país todo sintonizava a Globo diariamente para acompanhar o desenrolar dessa história, nos bastidores Silvio de Abreu e seus colaboradores se viravam do avesso para manter o segredo, que era o trunfo do sucesso da novela. Essa é a história que irei contar para vocês hoje.
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Opala preto e o horóscopo chinês
O misterioso assassino sempre dirigia um Opala preto, que virou sinônimo de pânico nas cidades pelo Brasil afora, mas o público só sabia quem iria morrer quando o personagem recebia a famosa lista contendo um horóscopo chinês.
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O mistério era tanto que, durante boa parte da trama, jornais e revistas não continham o resumo semanal da trama de Silvio de Abreu. Tudo isso fazia parte de um pacto do autor com o diretor da trama, Jorge Fernando, de que, se vazasse algum detalhe na imprensa, a história mudaria.
“Não queria que isso ficasse desagradável. Tanto eu quanto o Jorge somos favoráveis ao acompanhamento da imprensa nas gravações, porém deixei claro que o segredo é a alma do nosso negócio”, disse o Sílvio ao O Globo, em março de 1995.
Ele chegou a enviar uma carta à equipe da novela avisando que a história poderia ser modificada no que fosse necessário, mesmo que isso causasse prejuízo aos personagens, atores e equipe.
Capítulos falsos e sinopse secreta
Silvio de Abreu chegou a escrever capítulos falsos para evitar que a mídia divulgasse quem seria o próximo personagem a morrer, mas isso não impediu que, em algumas oportunidades, o telespectador não soubesse de antemão quem seria a próxima vítima. Um exemplo foi a morte do garçom Josias (José Augusto Branco), que não foi noticiada, pois pistas falsas induziram o público que leu o resumo dos capítulos divulgados no jornal O Globo a acreditar que Quitéria (Vera Holtz) seria esfaqueada.
Porém, acabou sendo noticiado que funcionários do departamento de xerox da Globo estavam vendendo para a imprensa cópias dos roteiros que eram distribuídos para o elenco e sua produção.
Outro detalhe interessante é que Silvio de Abreu mantinha uma sinopse secreta, que era desconhecida até pelo então vice-presidente de operações da TV Globo, José Bonifácio de Oliveira, o Boni.
Assassino revelado desde o começo da trama
Um detalhe que passou despercebido pelo público que acompanhava as emoções da novela é que, desde o capítulo 10, a identidade do assassino havia sido revelada, só que ninguém prestou atenção ou então deixou passar despercebido. Quem contou essa curiosidade foi Alcides Nogueira, um dos roteiristas, ao livro Autores – História da Teledramaturgia, do Projeto Memória Globo.
“Para se ter uma ideia de como não havia nada gratuito na novela, lá pelo capítulo dez, foi mostrado que o assassino, o personagem de Cécil Thiré, trabalhava com revenda de automóveis usados. Já aparecia uma referência ao que ele fazia, o que o ligava ao Opala preto dos crimes. Tudo isso foi jogado de maneira tão subliminar que as pessoas não pegaram. Desde o inicio estava tudo armado: por que ele matava e qual era a sequência de fatos e descobertas”.
Finais alternativos e gravação ao vivo
Perto dos últimos capítulos, houve um crescente assédio da mídia para saber a identidade do verdadeiro assassino. Para tentar conter o entusiasmo de todos, Silvio de Abreu foi obrigado a fazer alterações no desfecho de sua história. Chegou a ser cogitado exibir o último capítulo ao vivo, a fim de evitar que fosse descoberto o final antes da transmissão, o que seria um fato inédito nos 30 anos da emissora.
“Escrevi os últimos seis capítulos numerando todas as cenas em código. Um código que só quem sabia decifrar era o diretor da novela. O diretor sabia porque tinha que orientar o ator. As últimas cenas, que revelavam quem era o assassino, a gente gravou às 19 horas e a TV Globo pôs no ar às 20h30. Não podia dar errado”, contou Silvio de Abreu.
Na noite do dia 4 de novembro de 1995, o Brasil parou para acompanhar o último capítulo de A Próxima Vítima. Nele, foi revelado que Adalberto era o assassino e que todas as vítimas tinham uma ligação entre si no passado. O capítulo em questão atingiu entre 62 e 64 pontos no Ibope.
Para a exibição no mercado externo, o autor Silvio de Abreu criou outro fim para o folhetim, sem que isso prejudicasse o mistério da trama. Ele assistiu a todas as imagens gravadas, eliminou algumas cenas e fez com que Ulisses (Otávio Augusto) se tornasse o assassino na versão exibida em Portugal e na reprise da novela exibida no Vale a Pena Ver de Novo a partir de julho de 2000.