O ano de 1997 ficou marcado pelo baixo nível das atrações das tardes de domingo, especialmente depois da ida do Domingo Legal, do SBT, para o mesmo horário do Domingão do Faustão, da Globo.

Em 26 de outubro daquele ano, o programa de Fausto Silva exibiu um quadro que deixou chocado até Roberto Marinho (1904-2003), proprietário da emissora.

Faustão

Duas semanas antes, Gugu Liberato teve sua atração deslocada da hora do almoço para o embate direto com Faustão, que vinha perdendo fôlego.

O primeiro “trunfo” para derrotar o programa do SBT foi um quadro onde um produtor tirava as medidas do traseiro de Carla Perez, então sensação nacional com o grupo É o Tchan.

Em seguida, veio o único momento daquele domingo onde a Globo ganhou com folga, o famigerado sushi erótico. Apareceram três modelos nuas, cobertas apenas por iguarias da culinária japonesa. Os sushis foram devorados por Márcio Garcia, Mateus Rocha e Oscar Magrini, que ainda fizeram comentários sobre a anatomia das moças.

Nesse momento, o Ibope da Globo chegou aos 29 pontos, contra 22 do SBT. Naquele domingo, Gugu estreou o quadro Sentindo na Pele, se passando por mendigo, e chegou a abrir 33 a 17. Na média geral, vitória do canal de Silvio Santos por 26 a 23.

Horrorizado

No dia 28 de outubro, a Folha de S.Paulo informou que Roberto Marinho, então presidente das Organizações Globo, solicitou uma cópia do programa para assistir.

“A Folha apurou que ele teria ficado horrorizado com as cenas do sushi erótico apresentadas”, enfatizou o texto.

Roberto Marinho na inauguração do Projac

A mesma matéria trouxe que parte da equipe da atração passou o dia anterior reunida para discutir o saldo da edição anterior e a tática para o domingo seguinte.

“A Folha apurou também que Roberto Irineu Marinho e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni) se reuniram para discutir o programa. A pauta foi decidir se os quadros com forte apelo sexual continuam e, em caso negativo, qual estratégia será adotada para reverter a queda de audiência do programa”, explicou.

No dia seguinte, a Globo deu o veredito: o vale-tudo pela audiência iria acabar. “A direção da emissora fez chegar ao Jornal do Brasil a informação de que os excessos cometidos no fim de semana não se repetirão”, informou o JB.

Vale lembrar que, meses antes, o mesmo Domingão do Faustão promoveu a apresentação do garoto Rafael Pereira dos Santos, o Latininho, aos 15 anos e apenas 87 centímetros de altura.

“Não apresento mais isso. Para mim, acabou. Baixaria nunca mais”, garantiu Faustão ao jornal O Globo de 29 de outubro.

“Uma atração que fica oito anos no ar, líder de audiência, que expulsa o Silvio Santos, o monstro sagrado da televisão, do horário, é um bom programa. O problema é que todo programa como este, com 240 minutos de duração e 52 edições inéditas por ano, tem que buscar fôlego”, completou.

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Troca de diretor

Na mesma entrevista, o apresentador garantiu que foi contra a exibição do quadro do sushi erótico.

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“É lógico, eu já sabia o que ia ao ar e não estava de acordo. Até as piadas, em sua maioria, ficaram sem graça. Sem espírito para animar, não tinha como. Toda concorrência tem um lado salutar, mas eu deveria ter sido mais respeitado no meu estilo. De qualquer forma, acredito muito nas mudanças que virão, porque chegamos no fim do túnel. Não há saída”, declarou.

No domingo seguinte, apostando em estrelas globais como Tony Ramos, Maria Padilha e Raul Gazola, Faustão chegou perto de Gugu: 20 a 19 para o SBT, que também não mostrou nada especial.

O episódio acabou gerando a saída do veterano Carlos Manga (1928-2015) da direção do Domingão. Ele passou o bastão para Nilton Travesso a partir de 1º de dezembro daquele ano.

A guerra de audiência entre Gugu e Faustão, no entanto, continuou até 2003, quando a exibição da falsa entrevista com supostos integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) minou a credibilidade do Domingo Legal e possibilitou ao programa global voltar a reinar no Ibope.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor