Enaltecer o trabalho de uma grande atriz é sempre necessário, mas, inevitavelmente, acaba caindo em uma espécie de mais do mesmo. Difícil não cair na repetição de elogios, ainda que merecidos. É o caso de Adriana Esteves, ótima recentemente em Amor de Mãe, como Thelma.

A intérprete já é uma profissional consagrada e isso se deve ao longo caminho que vem percorrendo desde que estreou na Globo, como figurante em Vale Tudo (1988). Sua carreira começou de fato quando participou de um quadro no Domingão do Faustão, em 1989, e ganhou a chance de participar de um folhetim com um papel para chamar de seu. E viveu a Tininha em Top Model (1989). No ano seguinte, surpreendeu em Meu Bem, Meu Mal, na pele da Patrícia Melo, uma das personagens principais.

Mas em 1993 enfrentou seu pior momento: após Pedra Sobre Pedra, foi duramente criticada pela interpretação em Renascer, a atriz chegou a entrar em depressão e cogitou desistir da carreira. Porém, seu desempenho na pele da sonsa Mariana não mereceu a quantidade de críticas da época.

A verdade é que a personagem foi muito mal conduzida por Benedito Ruy Barbosa e gerou antipatia no público. Claro que Adriana ainda estava crua e precisava evoluir, mas acabou prejudicada pelo papel que não aconteceu. Já em 1997, voltou a se destacar com Lúcia Helena, em A Indomada.

Em 1998 aconteceu a verdadeira volta por cima da atriz. Sua entrega na pele da ardilosa Sandrinha, em Torre de Babel, rendeu uma sucessão de elogios e a vilã caiu nas graças do telespectador. Tanto que acabou presenteada com a autoria da explosão do Tropical Tower Shopping.

A partir daí, virou profissional do primeiro time da Globo. Tanto que, no ano 2000, viveu uma de suas melhores personagens da carreira: a mocinha com fogo nas ventas Catarina, em O Cravo e a Rosa, formando um apaixonante par com Eduardo Moscovis (Petruchio).

A interesseira Amelinha, de Coração de Estudante (2002), a exagerada Lola, de Kubanakan (2003), a perversa Nazaré Tedesco, na primeira fase de Senhora do Destino (2004), e a destemida mocinha Heloísa, de A Lua me Disse (2005) foram outras personagens que ganharam com o talento de Adriana.

A histérica Celinha, de Tomá Lá Dá Cá (2007/2009), aproveitou muito bem a veia cômica da intérprete, já vista no folhetim das seis de Walcyr Carrasco. E o show da atriz na pele de Dalva de Oliveira, na primorosa minissérie Dalva e Herivelto: uma canção de amor (2010), expôs a entrega de Adriana em cada cena. Outro bom trabalho foi como Júlia, mocinha de Morde e Assopra (2011), protagonizando cenas divertidas com Marcos Pasquim.

Obviamente, é impossível não citar o seu auge como Carminha, em Avenida Brasil (2012). Ganhou todos os prêmios possíveis pela sua atuação como grande vilã do fenômeno de João Emanuel Carneiro.

E como esquecer as suas sequências dilacerantes na série Justiça, de 2016? O público chorou junto com o drama pesado da vida de Fátima, personagem mais íntegra da trama entrelaçada de Manuela Dias. Adriana brilhou do início ao fim.

A competência da intérprete é tamanha que consegue extrair boas cenas até em novela ruim e com papel mal construído, vide a vilã Inês, de Babilônia (2015), o maior fracasso da história do horário nobre da Globo. Mesmo perdida no roteiro, houve alguns raros bons momentos protagonizados por ela.

O caso de Segundo Sol (2018), inclusive, até pode ser incluído nesse exemplo. Laureta prometia ser uma víbora daquelas, mas acabou se perdendo como toda a novela. Prometeu muito e cumpriu pouco por culpa de João Emanuel Carneiro. Ainda assim, a atriz protagoniza ótimas sequências ao lado de Deborah Secco (Karola), Vladimir Brichta (Remy) e Renata Sorrah (Dulce) na reta final e as únicas boas tiradas do roteiro são proferidas pela cafetina.

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Adriana Esteves é uma profissional que honra a dramaturgia. Nunca é demais elogiá-la e vale uma menção especial ao show de entrega também na série Assédio. O sofrimento de Stela, abusada pelo médico Roger Sadala (Antônio Calloni), é impactante e a intérprete faz por merecer uma indicação ao Emmy Internacional pelo seu desempenho em 2019.

Para completar, é necessário citar seu ótimo desempenho na pele da obssessiva Thelma. Mesmo com o enredo se perdendo ao longo dos meses, Adriana se manteve tão bem quanto no início do folhetim, quando a personagem ainda não tinha se transformado em uma vilã louca. Quando a trama retornou, ganhou os holofotes de vez. Uma atriz com ”a” maiúsculo.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor