Após receber ordem da Globo para esticar uma novela de sucesso, Walcyr Carrasco resolveu criar uma doença para uma de suas personagens. A secretária Tatiana, vivida por Rachel Ripani em Caras e Bocas (2009), acabou tendo uma reviravolta na obra depois que o autor criou uma doença para ela.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Por ser uma obra aberta, a telenovela pode passar por constantes mudanças, seja para agradar o público, por determinação da emissora ou pelo próprio autor, que, na tentativa de salvar um personagem que não deu certo, cria uma nova função para ele dentro da história.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Ripani viveu isso na pele na trama de Walcyr Carrasco, cotada para substituir Chocolate com Pimenta (2003), também de autoria do autor, no início das tardes da Globo.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
LEIA TAMBÉM!
Sensualidade à flor da pele
Tatiana era uma jovem bonita e sensual que se apaixonou pelo joalheiro Benjamin (Sidney Sampaio). O rapaz, por sua vez, era filho de judeus ortodoxos que não viam com bons olhos o seu envolvimento com uma brasileira que não seguia os preceitos da religião.
Nem mesmo a chegada da judia Hannah (Julia Lund), trazida de Israel por sua mãe com o intuito de casá-la com seu filho, impediu que Benjamin saísse de casa para morar com a secretária.
Só que a felicidade do casal ficou ameaçada após Tatiana ser diagnosticada com câncer de mama, principalmente quando seus cabelos começaram a cair devido às sessões de quimioterapia.
Nesse momento, Ester (Ana Lúcia Torre), a mãe do joalheiro, compadecida com a dor da jovem, tornou-se sua amiga e a incentivou a rapar a cabeça.
Pedido da Globo
Contudo, a descoberta do câncer em Tatiana não estava prevista na sinopse original de Caras e Bocas. Esse enredo precisou ser inserido de última hora devido a um pedido da direção da Globo. Walcyr Carrasco (foto acima) precisou esticar a novela de outubro até janeiro do ano seguinte.
Apesar de ganhar mais destaque dentro da obra, a inesperada mudança do perfil da personagem pegou Rachel de surpresa.
“Saí da área da sensualidade e caí numa atmosfera mais densa”, avaliou a atriz em entrevista ao jornal Correio Braziliense em 3 de janeiro de 2010.
Apesar do susto, a artista contou que o autor a procurou para saber sua opinião sobre a nova fase de Tatiana no folhetim.
“Ele me ligou e perguntou se eu topava. Aceitei na hora. E me emocionei”, lembrou ela.
A atriz chegou a visitar um hospital para vivenciar o dia a dia de pessoas em tratamento contra o câncer, além de ter vivido a experiência de acompanhar uma paciente que foi ao salão de beleza rapar o cabelo devido ao efeito da quimioterapia.
“Você tem de se controlar para ser forte. Se entregar não sobrevive”, observou.
Medo
No entanto, Rachel confessou ter sentido bastante medo de rapar os cabelos no momento em que sua personagem inicia o tratamento para combater o câncer de mama.
“Eu estava com medo e queria permanecer assim porque a personagem tinha de sentir isso mesmo. Eu não queria ficar bem”, admitiu.
Na mesma publicação, ela ainda relatou que, após ficar careca em cena, o segundo desafio seria sair às ruas com o novo visual.
“Fico com vergonha de aparecer carequinha. Sinto como se estivesse nua”, disse na época.
Comparações
Houve quem comparasse a cena de Tatiana rapando os cabelos com a sequência eternizada por Carolina Dieckmann em Laços de Família (2000, na foto acima). No entanto, Rachel fez questão de frisar que a intenção nunca foi imitar a antológica cena da trama de Manoel Carlos e apontou as diferenças entre as duas.
“A imagem da personagem da Carolina ainda está viva na minha cabeça, mas comigo foi diferente. A gente cortou em casa e Tatiana estava cercada de mulheres que entendiam do seu sofrimento”, analisou.
Por fim, a atriz disse orgulhosa que após a cena ter ido ao ar, muitas pessoas a procuraram para contar suas experiências pessoais sobre a doença. Mas, uma em especial a marcou.
“Uma senhora me abraçou e disse que lembrou da filha , de seis anos, que teve câncer. ‘Foi doloroso na hora de cortar o cabelo da criança’”, contou ela emocionada.