Personagem que nem deveria existir não acrescenta nada em Pantanal
04/07/2022 às 8h00
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O remake de Pantanal vem apresentando poucas diferenças da versão original, exibida em 1990 na Rede Manchete. Na verdade são raras as alterações no texto e nas situações apresentadas. Isso porque Bruno Luperi não esconde a admiração e o respeito que tem pela obra do avô, Benedito Ruy Barbosa.
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O autor admite que se preocupou em ‘não estragar nada’. É compreensível a sua atitude e o sucesso da trama na Globo vem provando que não está errado. No entanto, alguns conflitos mereciam alteração. Como é o caso do flerte entre Zé Lucas e Juma.
Irandhir Santos e Alanis Guillen estão irretocáveis na novela desde o início. No caso de Irandhir ainda houve um bônus de seu brilhante desempenho na primeira fase como Joventino. É importante lembrar que o José Lucas de Nada só entrou na novela em 1990 porque o público se indignou com a saída de Paulo Gorgulho, ou seja, o personagem nem deveria existir.
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Sem planejamento
O intérprete viveu Zé Leôncio na primeira fase e foi substituído por Cláudio Marzo na segunda. Os telespectadores escreviam muitas cartas reclamando da sua ausência. Benedito, então, criou um novo filho para o protagonista.
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Só que como foi um personagem criado sem muito planejamento, em determinado momento da trama o autor ficou sem saber o que fazer com ele. E o interesse cada vez maior em Juma serviu como conflito para Zé. Há até uma cena em que o filho de Leôncio tenta agarrá-la à força, algo que seria inadmissível atualmente para um personagem que não é um vilão.
Mas o ‘clima’ entre eles não dura muito e logo cede espaço para novos arcos. A situação não foi relevante para os desdobramentos da história e nem gerou novas viradas. Apenas expôs uma tentativa do autor de disfarçar a ‘barriga’ (período em que nada de relevante acontece) da novela, que foi bem evidente, até porque teve 216 capítulos e nos anos 90 era normal todo folhetim ter um ritmo mais arrastado. Ou seja, havia necessidade de manter o ‘conflito’ no remake?
Contrário
Luperi acha que sim, mas o resultado no ar vem expondo o contrário. É sempre um prazer ver Irandhir e Alanis em cena, mas a situação incomoda quem assiste. Não houve um bom desenvolvimento para o súbito amor que Zé passou a sentir por Juma e muito menos o ‘tesão’ que Juma está sentindo por ele. Na verdade, o caso de Juma fica subentendido como uma atração que a personagem não consegue identificar.
Mas na versão original, a ‘menina-onça’ é bem mais firme contra as investidas do irmão de seu ‘namorado’. Aliás, o fato de Zé ser irmão de Jove expõe uma falha de caráter que só enfraquece o papel. Claro que não há a necessidade de um tipo maniqueísta, é sempre bom quando uma pessoa tem suas contradições, mas em que a situação acrescenta para o perfil de Lucas? Nada.
Barra forçada
E a rapidez da abertura que Juma deu para Zé também soou forçada. Joventino (Jesuíta Barbosa) demorou um longo tempo para conseguir uma mísera brecha para uma aproximação. Já seu irmão conseguiu sem dificuldade. E vale ressaltar que a personagem não se abre nem com pessoas como Filó (Dira Paes), Zé Leôncio (Marcos Palmeira) e Irma (Camila Morgado).
É claramente um arco criado apenas para preencher o tempo dos capítulos e que não movimenta a trama. É o típico contexto que não afetaria a narrativa se não existisse. Por isso é tão questionável o autor evitar ao máximo qualquer alteração na trama original, onde prefere até repetir o que não funcionou ao invés de criar um novo conflito.
Caso a Madeleine (Karine Teles) estivesse viva, por exemplo, diferente da novela de 32 anos atrás, era o momento exato para desenvolver o ‘plot’ do seu retorno ou sua adaptação no pantanal tendo o suporte do Velho do Rio (Osmar Prado). Despertaria muito mais atenção do que o ‘romance’ que nunca acontecerá.
Pantanal segue com a qualidade de sempre, mas é difícil não criticar o flerte sem sentido entre Zé Lucas e Juma. Um conflito que não deveria ter sido criado em 1990 e muito menos repetido em 2022.