Afastado das novelas da Globo desde Segundo Sol (2018), Jayme Periard voltou aos folhetins da emissora em Família é Tudo. Ele vive Ramón, pai do mocinho Tom (Renato Góes), que vem sofrendo com confusões e esquecimentos, indicando que desenvolve uma grave doença.
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Curiosamente, Ramón não é o primeiro personagem do ator a sofrer com uma enfermidade. Em 1991, Jayme Periard viveu Léo, protagonista da minissérie O Portador, que via sua vida mudar ao contrair o vírus da Aids.
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A produção marcou a carreira do artista, já que tratava do HIV num momento em que a Aids ainda era um assunto obscuro e carregado de preconceito.
Minissérie polêmica
Com argumento de Herval Rossano e roteiro de José Antônio de Souza, O Portador foi uma minissérie da Globo exibida entre 10 a 20 de setembro de 1991, com 8 capítulos. A trama girava em torno de Léo, que tinha o vírus HIV.
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Na trama, o empresário sofre um acidente aéreo e é submetido a uma transfusão de sangue. No entanto, ele acaba contraindo o vírus HIV no procedimento. Inicialmente, Léo entra em choque ao descobrir ser portador do vírus da Aids. Mas, depois, ele se dedica a buscar seu doador de sangue para alertá-lo sobre a doença.
Nesta busca, Léo enfrenta o preconceito. Sócio do casal Reginaldo (Jonas Bloch) e Luciana (Lilia Cabral) numa firma de congelados, ele conta com o apoio do amigo, mas não recebe o mesmo tratamento da esposa dele, que prefere manter distância do sócio. Além disso, Léo passa a se preocupar em não transmitir a doença.
“Medo do estigma”
O Portador abordava o assunto da Aids num tempo em que a doença ainda era carregada de mistério e preconceito. Por isso, a produção dividiu opiniões até mesmo dentro da Globo e levou um ano para sair do papel.
Em entrevista ao site NaTelinha, em dezembro de 2021, Jayme Periard revelou as dificuldades para viabilizar a obra. O ator contou que foi convidado por Herval Rossano para protagonizar O Portador, mas que a Globo, inicialmente, teria vetado sua escalação, pois preferia um astro do primeiro time.
“Logo depois do convite, a Globo disse que queria outro ator, que estivesse mais em evidência e fosse mais experiente. O Herval me avisou e aceitei, obviamente, não tinha o que contestar, mas disse a ele que aquele personagem seria meu. Pouco depois, ele me ligou novamente informando que alguns atores haviam recusado, com medo do estigma, e o Léo retornou para mim”, relembrou.
Na época da minissérie, Jayme Periard já tinha consciência de que O Portador era uma obra polêmica e já imaginava que poderia sofrer com o preconceito do público.
“Provavelmente isso vai ocorrer porque as pessoas costumam confundir ator com personagem. Logo que as chamadas da série foram jogadas no ar entrei num elevador e dois garotos falaram em tom de gozação: ‘esse cara aí é o portador da Aids’. Mas não me preocupo. O importante é fazer o meu trabalho com dignidade”, disse ele ao Jornal do Brasil, em 8 de setembro de 1991.
Apreensão
Claramente, O Portador não era unanimidade na direção da Globo. Tanto que, além da falta de estrelas no elenco, a produção demorou um ano para sair do papel. E mais: os 25 capítulos previstos inicialmente foram convertidos em apenas oito.
Mas, com a minissérie no ar, especialistas no tema ficaram satisfeitos com a abordagem. O médico Mário Barreto Correa elogiou a obra, assim como o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho – que contraiu o vírus HIV numa transfusão, assim como o protagonista de O Portador.
“Pelo que vi no primeiro capítulo, a minissérie deve cumprir o seu objetivo de fazer com que as pessoas sintam e entendam o problema da Aids”, declarou Betinho na época.
“Lamento que, na época e até hoje, O Portador tenha sido renegada pela Globo”, disse Jayme Periard em 2021.