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A novela que marcou a estreia de Mauro Wilson como autor solo, e está em sua última semana, teve muitos acertos. Quanto Mais Vida, Melhor! foi um clássico folhetim das sete com todas as boas características das produções da faixa da Globo. O autor ainda foi muito feliz na trama dos quatro protagonistas. Porém, o maior erro da trama foi a condução dos conflitos de Rose, interpretada por Bárbara Colen.
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É importante ressaltar que a atriz não teve culpa de nada e fez o que era proposto. Mas a saga da personagem peca pela repetição e influencia a história negativamente.
Mauro conseguiu algo difícil em se tratando de novela: dinamismo. A trama foi ágil e o autor mesclou bem os núcleos a ponto de quase todos os perfis terem algum momento de destaque através de bons conflitos ou viradas. Só que errou muito no desenvolvimento de Rose, o que afetou as situações que a cercavam.
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Andando em círculos
A personagem, teoricamente, prejudica os dois casais principais da novela. Guilherme (Mateus Solano) e Flávia (Valentina Herszage) demoraram um longo tempo até se acertarem porque o médico tinha um casamento de mais de 20 anos com Rose e não esquecia a mulher de jeito nenhum.
Já Neném (Vladimir Brichta) e Paula (Giovanna Antonelli) nunca conseguiram ficar juntos de fato por conta do amor avassalador que o jogador de futebol sentia por Rose e ela por ele. Aliás, essa paixão é o que deixou o enredo andando em círculos. Em nenhum momento Mauro cogitou que o público iria rejeitá-la por ser o empecilho para a felicidade do quarteto central?
Um dos maiores problemas da produção foi o excesso de flashbacks de Rose e Neném. E sempre com as mesmas cenas: se beijando na piscina, na chuva e durante um baile. Carol Macedo e Leonardo Zanchin, intérpretes de Rose e Neném na adolescência, pareciam do elenco fixo de tanto que apareciam. Era maçante e quebrava o ritmo da novela.
E eram incontáveis as vezes em que os personagens pensavam um no outro com ares de melancolia. Eram tantos desencontros que irritavam. O pior é que quando passaram a se encontrar a todo instante o enredo seguia sem sair do lugar. Porque o empecilho para a união era constante. Sempre partindo dela, que hesitava por medo.
História fraca
E o que enfraqueceu o romance foi a história apresentada: eles passaram apenas alguns dias juntos em Paris anos atrás. Nem um namoro de meses aconteceu.
Como convencer que era algo tão intenso assim? E o que dizer sobre a gravidez da personagem? Rose engravidou de Neném e nunca cogitou a hipótese do jogador ser o pai de Tigrão (Matheus Abreu). Achava que o garoto era mesmo filho de Guilherme.
Celina (Ana Lucia Torre) sabia fazer conta melhor que ela? Como pode? Aliás, os embates entre sogra e nora faziam o telespectador ficar do lado da sogra. Afinal, Celina sempre disse que Rose nunca amou seu filho. E as inúmeras cenas da personagem pensando em Neném apenas comprovavam as falas da mãe do cirurgião.
Se o intuito era vitimizar Rose, houve uma falha no desenvolvimento. Vale citar ainda o cansativo drama envolvendo o vestido que a personagem usava na adolescência, que marcou seu encontro amoroso com Neném, e se estendeu durante toda a novela. Que chatice.
Neném impedido de evoluir
O pior é que até na reta final Rose segue atravancando o enredo. A obsessão que Neném sente pelo seu passado o impede de evoluir, o que destoa do amadurecimento dos outros três protagonistas.
Flávia, Guilherme e Paula tiveram um arco dramático muito bem estruturado e o amadurecimento do trio dá gosto de ver. O enredo sempre deixou subentendido que o escolhido da Morte (A. Maia) seria o jogador de futebol justamente por conta das furadas que se mete. Vale até lembrar que todos se encontraram no avião por causa do Neném, pois o piloto só aceitou levá-los porque era fã do craque da camisa dez.
No entanto, precisava das situações repetitivas envolvendo Rose para expor a estagnação do personagem? Porque Rose poderia ter vivido conflitos muito mais atrativos e sem a necessidade do vínculo maçante com Neném. Mas com o destaque que ela tem e sendo a pedra no sapato dos quatro protagonistas, Rose deveria ter sido apresentada como a quinta protagonista e ter estado no avião junto. Até para fazer sentido tudo o que foi exposto, ainda que de forma repetitiva.
Erros não foram corrigidos
Como a produção foi toda gravada durante a pandemia do novo coronavírus, repleta de protocolos, o autor não conseguiu saber o que o público acharia da história. Caso estivesse sendo gravada ainda no ar, certamente alterações no arco de Rose seriam feitas.
Mas Mauro Wilson até conseguiu imaginar bem a aceitação do telespectador em quase todas as tramas, vide o destaque cada vez maior que deu para Deusa (Evelyn Castro) e Odaílson (Thardelly Lima) e a ótima construção do casal Flagui. Foram apostas certeiras.
Uma pena que não aconteceu o mesmo na trama da personagem defendida por Bárbara Colen. Até mesmo na reta final Rose vem prejudicando a narrativa protagonizando situações que soam forçadas no roteiro, como ter contado que se formou em jornalismo, algo que nunca sequer foi mencionado ao longo da trama, só para justificar sua permanência no Brasil (implicando na desistência da carreira de modelo) e assim ficar com Neném. Aliás, nos capítulos recentes a personagem tem se mostrado ciumenta e insegura.
Quanto Mais Vida, Melhor! foi uma delícia de novela, mas tudo o que envolveu o romance de Rose e Neném prejudicou a narrativa do quarteto central. Algo que poderia ter sido amenizado ou solucionado caso a obra fosse aberta.