Ameaça de deportação e mais: os perrengues da Globo na Olimpíada de Moscou

A Globo teve diversos problemas para a transmissão dos Jogos Olímpicos de 1980, realizados em Moscou, na então União Soviética. Os repórteres da emissora sofreram com a língua, a censura do regime soviético e problemas com satélites e transmissores, que fizeram diversas partidas serem exibidas com bastante atraso.

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O evento ficou marcado pelo boicote dos Estados Unidos e mais de 60 países, como Canadá, Alemanha Ocidental e Japão, em função da invasão da URSS ao Afeganistão, realizada um ano antes – ironicamente, o país invadido esteve na competição.

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Terceira olimpíada transmitida ao vivo pelo Brasil, foi exibida pela Globo e Cultura, que firmaram um acordo com a televisão soviética, recebendo as imagens ao vivo e também material para boletins, que eram exibidos no período noturno.

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A Globo, especificamente, teve diversos problemas com a censura soviética. Como a geração das imagens para o Brasil era feita diretamente de Moscou, tudo tinha que ser previamente aprovado por representantes daquele regime. Muitos cortes foram feitos pelos soviéticos diretamente na hora de enviar as imagens via satélite.

Em depoimento ao projeto Memória Globo, o jornalista Luiz Nascimento, que integrou a equipe, contou que a maior dificuldade em todo o processo era se fazer entender pelos russos – muitas vezes, a comunicação era feita por mímica.

Outro problema era sentido na pele pelas equipes de gravação. Os profissionais simplesmente não podiam circular livremente por Moscou – sempre estavam acompanhados por um intérprete, que se suspeita ser um agente da KGB (polícia secreta soviética).

Os repórteres Marcelo Matte e Daniel Andrade quase causaram um incidente diplomático. Eles conseguiram burlar o controle e foram gravar uma matéria mostrando como vivia uma autêntica família soviética. Apesar da reportagem ter sido gravada, ela não foi exibida e a equipe quase foi mandada de volta para o Brasil.

Inovações e mais problemas

Em Moscou, a Globo teve, pela primeira vez, uma redação e uma sala de controle, de onde eram recebidos e enviados os sinais de transmissão ao vivo e materiais para telejornais. As imagens ainda eram gravadas em filmes, mas convertidas em videotape antes da geração para o Brasil. Também de forma inédita, uma equipe foi enviada exclusivamente para fazer reportagens para o Jornal Nacional.

Muitos jogos foram mostrados ao vivo, especialmente partidas dos brasileiros no basquete, vôlei e futebol – Luciano do Valle (foto abaixo) era o narrador titular do canal. Vários jogos, no entanto, tiveram a transmissão anunciada, mas, devido a problemas da transmissão soviética, foram mostrados somente em VT horas depois – ou até no dia seguinte.

A Folha de S. Paulo de 25 de julho de 1980 explicava o ocorrido: “um novo boicote ameaça as Olimpíadas de Moscou. Desta vez, não se trata de nenhum aliado incondicional dos Estados Unidos, mas de um legítimo soviético: o transmissor da Arena Menor, onde se realizam as competições de vôlei e basquete. Há dois dias o aparelho está pifado, impedindo a conversão do sinal da TV soviética para o sistema PAL-M, usado no Brasil. Por essa razão, as transmissões anunciadas como “ao vivo” surpreendem quem liga a TV e assiste às disputas do dia anterior. Ontem, por exemplo, a Cultura e a Globo receberam apenas o áudio do jogo entre o Brasil e a Romênia, no vôlei masculino, enquanto a TV soviética se esforçava para enviar as imagens através da conexão da Alemanha Federal com o satélite, sem sucesso”.

As transmissões das emissoras de rádio acabaram salvando quem queria acompanhar as partidas no momento em que aconteciam.

Além de Munique (1972), Montreal (1976) e Moscou (1980), a Globo transmitiu todos os Jogos Olímpicos até 2012, em Londres, na Inglaterra, quando a Record conquistou os direitos exclusivos para a televisão aberta. A emissora retornou aos Jogos em 2016, no Rio de Janeiro, e agora faz uma grande cobertura em Tóquio, apesar das limitações causadas pela pandemia.

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