Há pouco mais de um mês no ar, Tempo de Amar vem se mostrando uma novela belíssima esteticamente e apresentando um ótimo elenco. Entretanto, a novela das seis da Globo vem pecando bastante na narrativa e na elaboração do enredo.

Com argumento de Rubem Fonseca e escrito por Alcides Nogueira e Bia Corrêa do Lago, o folhetim (dirigido por Jayme Monjardim) é arrastado e repleto de desgraças. O telespectador está acompanhando conflitos carregados de sofrimento, casais sem química e muitas vezes uma condução modorrenta.

A trajetória dos mocinhos começou mal, expondo um amor à primeira vista difícil de comprar, com direito a declarações apaixonadas e planos de casamento logo no primeiro capítulo. A pressa em juntá-los fez parecer que havia muita história para contar. Mas foi um ledo engano.

Inácio (Bruno Cabrerizo) e Maria Vitória (Vitória Strada) foram separados em virtude da viagem do rapaz para o Rio de Janeiro, em busca de emprego, e desde então houve uma tragédia atrás da outra. Além, claro, de uma quantidade imensa de clichês.

Nada contra os clichês, até porque toda novela tem e muitos são irresistíveis, prendendo o telespectador quando bem trabalhados. No entanto, Alcides e Bia vêm abusando demais. Vitória engravidou de Inácio logo na primeira transa, implicando em uma briga ferrenha com seu pai, José Augusto (Tony Ramos), que a colocou em um convento como castigo e com o intuito de deixar o neto com as freiras.

Meses se passam e o bebê nasce, após um longo tempo de sofrimento da mocinha, que fica sem contato com o mocinho. Dias depois, a criança é tirada dos braços da mãe e dada para um casal criar. A protagonista sofre ainda mais e acaba escapando do convento para procurar seu namorado e sua filha.

Enquanto isso, Inácio sofre um assalto e o dinheiro que usaria para voltar a Portugal é roubado por três sujeitos que o agridem com uma paulada. Ele bate a cabeça e fica cego. Acaba acolhido pela descompensada Lucinda (Andreia Horta), moça que provocou a morte da própria mãe enquanto fazia feitiços para ‘prender’ seu ex – um líquido inflamável pegou fogo e queimou a mãe viva, deixando a jovem com uma marca de queimadura no rosto.

Encantada pelo novo ‘amor’ que surge, a personagem cuida dele e, ao descobrir que há uma outra mulher, faz de tudo para separá-lo de Maria Vitória. Ela ainda trama para que o ‘amado’ não volte a enxergar, jogando os medicamentos fora, evitando que veja a sua cicatriz.

Voltando para a mocinha, a filha de José Augusto acaba conseguindo uma viagem de navio para o Rio de Janeiro, pois vende uma joia de sua falecida mãe. Lá conhece Helena (Jéssika Alves), Felícia (Amanda de Godoi) e Natália (Giulia Gayoso), que viram suas amigas. Porém, as desgraças continuam.

Vitória é assediada pelo asqueroso deputado Teodoro (Henri Castelli) e, após a recusa em beijá-lo, leva um tapa na cara. Para culminar, é presa pela administração do navio, em virtude da influência do poderoso agressor. Depois de tudo ser ‘resolvido’, a mocinha e suas novas amigas desembarcam no RJ, mas acabam percebendo que caíram em uma armadilha, pois se veem em um cabaré e não em uma pensão, como pensavam.

Felícia e Natália viram prostitutas da madame Lucerne (Regina Duarte) e Vitória, pianista. Porém, a protagonista encontra novamente Teodoro e se vê obrigada a fugir. Acaba, então, achando Geraldo (Jackson Antunes), ex-patrão de Inácio, e Lucinda. A vilã, por sua vez, arma para a rival crer que o seu amor morreu. E mais lágrimas surgem.

Nos núcleos paralelos, o clima não é diferente. A respeitada fadista Celeste Hermínia (Marisa Orth) descobriu que está com um tumor e pode morrer. Aliás, ela tem um caso com o Conselheiro Francisco (Werner Schunemann), homem casado com Odete (Karine Teles), uma mulher enferma que passa todos os dias deitada e muitas vezes tendo ataques, gritando sem parar.

Edgar (Marcello Melo Jr.) levou um tiro pelas costas enquanto namorava Olímpia (Sabrina Petraglia) e vive sofrendo ataques racistas. Bernardo (Nelson Freitas) trai a esposa, Alzira (Deborah Evelyn), tem um filho com a empregada e penhorou a casa por dívidas de jogo.

Ou seja, é uma novela pesada e cheia de desgraças. Só há tristeza. Claro que toda boa história precisa de conflitos e felicidade não pode se sustentar por muito tempo, pois deixa o conjunto monótono. Também não há obrigatoriedade de núcleo cômico em todo folhetim, afinal, tem autor que nem sabe criar situações cômicas. Todavia, é preciso saber como criar e desenvolver os dramas, sem jogar tudo na cara do público de forma rasa. Pois é isso o que tem sido observado, infelizmente.

A própria ausência de um bom par romântico comprova o fato. Não houve construção de nenhuma relação. Os mocinhos se apaixonaram subitamente e a interpretação apática de Bruno Cabrerizo não ajuda. Olímpia e Edgar já chegaram na trama namorando e ninguém sabe como se conheceram. A inicial boa construção do relacionamento de Vicente (Bruno Ferrari) e Celina (Bárbara França) foi jogada fora assim que ele se encantou por Carolina de Sobral (Mayana Moura), mulher que é humilhada pelo marido. A química desse par é zero. Enfim, o enredo realmente não vem cativando.

Tempo de Amar não tem feito jus ao seu título e seria mais apropriado a novela se chamar Tempo de Chorar. Não há casais para torcer, a trama se arrasta no ar e o sofrimento domina do primeiro ao último minuto de cada capítulo. O Horário de Verão afetou bastante a audiência da produção, mas os números ainda são satisfatórios. Entretanto, se continuar assim, será difícil manter o telespectador motivado a acompanhar essa história até o final. Além de não dar vontade de assistir ao capítulo seguinte, o clima de depressão que permeia o roteiro desanima qualquer um.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor