Perguntamos algumas coisas para o ator que faz os comerciais do posto Ipiranga
16/03/2016 às 5h41
“Melhor perguntar lá no Posto Ipiranga”. Nos últimos anos, a frase se tornou um dos bordões mais famosos da publicidade brasileira. O ator que protagonizou comerciais da rede de postos de combustíveis Ipiranga na televisão e em outras mídias é conhecido no meio publicitário pelo apelido “Batata”, que surgiu ainda na adolescência. Mas, quando não está gravando comerciais, ele é o químico Antônio Duarte de Almeida Junior, dono de uma firma de representação comercial e que no dia a dia ganha a vida trabalhando com vendas técnicas.
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Paulistano de 53 anos, morador no bairro de Santana, na zona norte da capital, ele se interessou pela química quando ainda cursava o Ensino Médio. Em 1984, ingressou no curso de Química Industrial nas Faculdades Oswaldo Cruz e, já no ano seguinte, começou a trabalhar como auxiliar de laboratório na empresa Reylux (Tintas RR), do segmento de tintas e vernizes. “Era uma empresa pequena e lá passei por todas as etapas do processo produtivo. Adquiri uma bagagem importante”, lembra.
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Depois de dois anos na RR, surgiu uma oportunidade de ser promovido, mas para isso precisaria ter pelo menos o diploma de Técnico em Química. Para não perder a oportunidade, trancou a matrícula na Oswaldo Cruz e ingressou no hoje extinto Colégio Manuel da Nóbrega, no bairro do Belenzinho. Concluiu o curso em um ano, pois eliminou matérias que havia feito na faculdade. Com o diploma na mão, foi promovido ao cargo de Técnico em Química na RR.
Com a experiência acumulada e estimulado pela chefia devido à facilidade com que sempre se comunicou, partiu para a primeira grande mudança na carreira, rumo ao setor de vendas técnicas. E deu certo, pois logo em seguida, em 1989, foi contratado pela multinacional alemã Henkel para atuar na comercialização de uma linha de produtos para pré-tratamento de superfícies.
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O projeto de concluir um curso superior não foi abandonado. Contudo, Duarte considerou que deveria planejar uma carreira alternativa e por isso trocou o curso de Química Industrial pelo de Licenciatura, que também lhe permitiria trabalhar como professor. Formou-se em 1992 na Universidade Ibirapuera, mas nunca deu aulas.
Exerceu seu lado didático ministrando palestras e cursos de curta duração para clientes da Henkel, onde permaneceu por seis anos e se tornou vendedor especializado em produtos para pré-tratamento de superfícies metálicas. Em 1996, Duarte foi convidado para trabalhar na Walmac (atual Garciquímica), uma distribuidora de produtos da Henkel.
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A era dos comerciais
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Quando acreditava que a sua vida profissional se restringiria somente à química, uma mensagem recebida por seu “pager” (aparelho que antecedeu o celular) mudou a sua trajetória: era um convite de uma produtora de comerciais para que fizesse um teste. No início, pensou que se tratava de uma pegadinha, mas depois descobriu que o contato se deveu às suas habilidades de dançarino de gafieira e outros ritmos e que foram reportadas à produtora por um jornalista e dois músicos que frequentavam o Bar Avenida e o Bourbon Street, onde Duarte gostava de se divertir.
O anúncio para a televisão, da antiga rede de lojas Mesbla, requeria um simpático dançarino para a música “Don’t Worry, Be Happy”, de Bobby McFerrin, um dos maiores hits de 1988. Ele foi aprovado, mas acabou não fazendo o comercial: não conseguiu voltar de uma viagem de férias a tempo para a gravação.
Seu primeiro trabalho como garoto-propaganda, no entanto, surgiu logo em seguida: dublou um tenor em um comercial de televisores da LG. “Consegui interpretar bem o papel, pois trabalhava como DJ nas horas vagas e tinha uma boa noção de tempo em música”, relembra. Dali em diante, começou a receber diversos convites e não parou mais. Chegou a se destacar nacionalmente em peças que divulgavam os sorvetes Fruttare, da Kibon.
A fama acrescentou um ingrediente a mais ao desafio de conciliar as duas carreiras: foi denunciado por não ter o registro como ator profissional na Delegacia Regional do Trabalho. Após ter recebido reclamações contra Duarte, o Sindicato dos Artistas o chamou para uma conversa. Além de ter se sindicalizado, Batata fez cursos, participou de workshops, fez testes e conseguiu o registro.
Depois de três anos, desligou-se da Walmac para se dedicar inteiramente à carreira de ator. “Precisava de disponibilidade, pois perdi campanhas por falta de tempo para filmar”, relata. Fez vários trabalhos entre 1999 e 2001, com destaque para a campanha de lançamento do jornal Agora São Paulo (11 comerciais), duas campanhas das Casas Bahia e uma da cerveja Cerpa. Nesta, o protagonista dos anúncios era Alfredo, que vivia com medo da esposa ciumenta. Para Duarte, este foi um de seus personagens mais marcantes devido ao sucesso junto ao público, especialmente no Pará, onde fica a sede da empresa.
De volta à química
Duarte só voltaria à área química em 2001, como vendedor na Polytechno (atual AQIA Química Industrial), fornecedora de matérias-primas para indústrias de diversas áreas, como alimentícia, cosmética e farmacêutica. “Era hora de dar um tempo, pois a publicidade exige que, periodicamente, se tire o rosto de circulação para não desgastar a imagem”, justifica.
Nesse retorno, enfrentou mais uma vez o preconceito por atuar em duas áreas distintas: quando se candidatou a uma vaga na área de vendas técnicas em outra empresa, a recrutadora que o entrevistou questionou a razão de ter ficado fora da área. Duarte explicou que também era ator e se dedicou somente a trabalhos publicitários durante dois anos. “A decepção dela foi evidente e a entrevista de emprego acabou naquele momento”, lamenta.
Após um ciclo de três anos, voltou a trabalhar para a Walmac em 2004, desta vez na condição de representante comercial autônomo. Em 2008, retornou à Henkel, mas a nova passagem foi breve. Depois de um ano, voltou a se dedicar à sua firma de representação comercial e prestou serviços para empresas como Larkin, Fortquim e Kuality. Atualmente, trabalha para a Kluthe, uma multinacional alemã.
Com a flexibilidade de horários própria da condição de autônomo, Duarte voltou a ser o “Batata” dos comerciais a partir de 2009. Seu trabalho de maior destaque nos últimos anos foi o “capiau” (caipira) do Posto Ipiranga, como ele mesmo define. Entretido com peças de artesanato, o personagem é abordado por motoristas de caminhão, que pedem informações sobre algum lugar onde possam fazer um lanche ou trocar pneus. Para todas as perguntas, a mesma resposta, com absoluta simplicidade: “Lá no Posto Ipiranga”. A campanha, que continua no ar, foi criada pela agência Talent.
Seu desejo é de continuar atuando nas duas profissões. “Encaro ambas como verdadeiras vocações”, ressalta. O químico/ator se recorda de convites que recusou por entender que poderia haver algum comprometimento de sua reputação profissional na área química e também para não inviabilizar campanhas publicitárias que estavam em andamento. Um exemplo foi o de uma campanha que divulgaria um produto utilizado no tratamento de impotência sexual.
“Nesses 18 anos de publicidade, em meio aos 30 anos de envolvimento com a área química, sempre prezei pela minha imagem e das empresas para as quais estivesse trabalhando. Nunca provoquei conflito, para evitar que a repercussão de um personagem atingisse a minha condição de profissional da química, mesmo que o cachê oferecido fosse alto”, conclui Duarte.
Com conteúdo gentilmente cedido pelo Conselho Regional de Química – IV Região
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