Pega Pega e Os Dias Eram Assim não fazem por merecer seus elevados índices de audiência
07/09/2017 às 10h00
A Globo só tem motivos para sorrir. Está em um período de calmaria, com uma audiência excelente em absolutamente todas as suas produções. A emissora foi a única a crescer no Ibope nos primeiros sete meses de 2017. Claro que é preciso levar em consideração o desligamento do sinal analógico de Record, SBT e Rede TV!, que saíram da TV Paga de São Paulo desde março.
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Porém, no Painel Nacional de Televisão (que faz a média geral em todo o país), a líder também cresceu e está com índices ótimos. Ou seja, está em grande fase mesmo. E vários desses sucessos são merecidos, como Malhação – Viva a Diferença, Novo Mundo e A Força do Querer, três tramas deliciosas e bem estruturadas. Porém, há duas que têm destoado: Pega Pega e Os Dias Eram Assim.
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A novela das sete e a das onze (chamada agora de “supersérie”) não fazem jus aos elevados índices que vêm marcando, comprovando que nem sempre audiência e qualidade caminham juntas. Curiosamente, as duas histórias são escritas por autoras estreantes. Mas, esse fato é apenas uma coincidência, pois vários escritores tiveram estreias com o pé direito na emissora.
Aliás, levando em consideração apenas resultados que a Globo busca (ou seja, Ibope), elas conseguiram atingir o objetivo. Porém, no caso das três – Cláudia Souto, Alessandra Poggi e Angela Chaves -, é evidente a fragilidade de seus enredos. Definitivamente, não são obras que empolgam, envolvem, divertem ou marcam. Deixam muito a desejar.
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Em Pega Pega, a desconfiança já ficou plantada em virtude das chamadas pouco convidativas e do enredo limitado. Será que um drama baseado no roubo milionário de um hotel conseguiria se sustentar por tantos meses? A resposta é não. Por sinal, não conseguiu manter o interesse nem por um mês. Cláudia criou uma situação aparentemente atrativa, mas não soube desenrolá-la e nem criar núcleos paralelos que ajudassem a sustentar o conjunto ao longo dos meses.
Malagueta (Marcelo Serrado), Júlio (Thiago Martins), Agnaldo (João Baldasserini) e Sandra Helena (Nanda Costa) roubaram 40 milhões da venda do Hotel Carioca Palace e, desde então, quase nada de relevante aconteceu na novela. A trama segue sem maiores conflitos ou situações convidativas, com exceção da chegada de Arlete (Elizabeth Savalla), que, ao menos, deu um pequeno fôlego ao núcleo central.
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Para culminar, os dois casais ditos principais são bastante equivocados. Luiza (Camila Queiroz) e Eric (Mateus Solano) são perfis insossos e o par não tem a mínima química. Os atores nem têm culpa, pois são talentosos. O problema foi a construção rápida demais do romance e a falta de densidade dos personagens.
A relação do sofrido (e irritante) Júlio com a policial Antônia (Vanessa Giácomo, sempre bem) é mais uma que não empolga em virtude do contexto bobo, onde o mocinho faz cara de triste o tempo todo porque cometeu um crime e se arrepende, enquanto a investigadora banca a adolescente deslumbrada quando está com ele, mesmo depois de ter se decepcionado com a descoberta do crime do rapaz.
As demais situações da novela também merecem críticas, como o pouco aproveitamento de atores talentosos, vide Milton Gonçalves, Ângela Vieira, Reginaldo Faria, Nicette Bruno, Cristina Pereira, entre outros figurantes de luxo.
Até mesmo a promissora vilã Maria Pia (ótima Mariana Santos) se perdeu no contexto por causa da ausência de função. A interesseira vem protagonizando cenas repetitivas, lamentando-se por Eric e reclamando de Luiza. Até sumiu por um tempo da produção porque o fiel escudeirado empresário viajou. A única personagem que vem despertando interesse é Sandra Helena, que ficou rica após receber a herança de uma hóspede do hotel que a adorava (vivida por Camila Amado). A periguete vem carregando a trama nas costas, destacando Nanda, totalmente à vontade nas cenas.
Já Os Dias Eram Assim parecia promissora no começo. Tendo a Ditadura Militar como pano de fundo, a trama apresentou um primeiro capítulo repleto de acontecimentos e um casal protagonista apaixonante. Realmente, aparentava ser um novelão. Entretanto, infelizmente, ao longo dos meses Alessandra e Angela foram se perdendo em abordagens maniqueístas e didáticas sobre a Ditadura, expondo as fragilidades de um roteiro mal costurado.
O resultado é o que tem sido visto: um enredo que se resume a “DRs” (Discussões de Relacionamento) intermináveis que andam em círculos, pois não há nada mais para acontecer depois que Renato (Renato Góes) e Alice (Sophie Charlotte) se reencontraram após 14 anos separados.
As autoras têm criado conflitos forçados, transformando Vitor (Daniel de Oliveira) em um psicótico descontrolado e Rimena (Maria Casadevall) em uma mulher insegura (algo que nunca demonstrou ser) com o intuito de gerar algum drama a mais para os mocinhos.
E fica evidente que somente a relação de Renato e Alice sustenta o enredo. O restante só está presente para girar em torno do casal, que é ótimo, mas não poderia ser o único foco de conflito do folhetim. O assassinato de Arnaldo (Antônio Calloni) para criar um descartável ‘quem matou’ foi um dos maiores erros das autoras, eliminando o principal antagonista dos mocinhos, tirando ainda a possibilidade de um embate derradeiro entre o pai e a filha.
O que vem despertando atenção é a atuação do primoroso elenco, muito bem escalado – com destaque para Sophie, Renato, Maria, Daniel, Julia Dalavia (agora brilhando com a degradação de Nanda, que contraiu AIDS), Susana Vieira, Marco Ricca e Natália do Vale.
A trilha sonora é outro acerto, mostrando-se uma das melhores de todos os tempos. Mas, o todo deixa muito a desejar, expondo a falta de riqueza da história – que, ironicamente, ficará como a maior média da faixa das onze, superando a primorosa Verdades Secretas.
Pega Pega e Os Dias Eram Assim são produções de sucesso no quesito audiência – uma obtendo em torno de 30 pontos e a outra se mantendo por volta de 22 pontos -, mas se mostram limitadas dramaturgicamente.
Classificá-las como obras péssimas seria injusto, pois ambas têm algumas qualidades, citadas anteriormente. Porém, estão longe de serem boas ou merecedoras de índices tão altos. As fragilidades se sobressaem bastante. As novelas não ficarão marcadas e rapidamente serão esquecidas em virtude da falta de conflitos chamativos, bons dramas e situações que despertem a atenção do telespectador. Tanto que, vale observar, ambas têm repercussão quase nula. Ou seja, há boa recepção nos números, mas pouco resultado em torno de comentários sobre o conteúdo. Isso não deixa de ser um sinal de que nem tudo está tão perfeito quanto aparenta.
SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas