Mais um gênio das Artes deste país nos deixa. Paulo José faleceu nesta quarta-feira (11), no Rio de Janeiro, aos 84 anos, após 20 dias internado por causa de uma pneumonia.

Paulo José Gómez de Sousa nasceu no município de Lavras do Sul, Rio Grande do Sul, em 20 de março de 1937. Foi casado (de papel passado) com as atrizes Dina Sfat (com quem teve três filhas: Bel, Ana e Clara Kutner); Beth Caruso (com quem teve um filho, Paulo Caruso); e Zezé Polessa. Em 1992, o ator foi diagnosticado com a doença de Parkinson.

É difícil falar sobre a obra de Paulo José. Ele fez de tudo relacionado à interpretação. O grande público conhece o Paulo ator, que via na televisão, cinema ou teatro – por onde ele transitou fartamente ao longo de uma carreira de mais de 60 anos. Mas Paulo era também diretor, preparador de elenco, cenógrafo, figurinista, iluminador, músico, professor. Um artista completo mesmo.

Em minha memória afetiva, tenho o ator associado à figura de Shazan, herói da TV dos anos 1970, formando uma dupla impagável com o saudoso Flávio Migliaccio, na série Shazan Xerife e Companhia (exibida pela Globo entre 1972 e 1974, com reprises posteriores).

Contudo, Paulo, a essa altura, já havia se destacado no cinema nacional da década de 1960, em filmes como Todas as Mulheres do Mundo, Edu Coração de Ouro, A Vida Provisória, As Amorosas, O Homem Nu, Os Marginais e Macunaíma.

Sua figura alegre, de homem leve e cabeça fresca, deu vida a uma galeria de personagens memoráveis. Paulo, Edu, Marcelo, o Macunaíma branco e sua própria mãe já atestavam a versatilidade do ator na telona. Na telinha da TV, foi com o Shazan que Paulo José tornou-se conhecido popularmente. Sempre viveu coadjuvantes na televisão, porém, dos tipos que nunca passam despercebidos.

No Cinema

Sua cinebiografia é vasta e das mais importantes, tendo trabalhado com diretores como Joaquim Pedro de Andrade, Domingos de Oliveira, Walter Hugo Khouri, Luís Sérgio Person, Hector Babenco, Cacá Diegues, Jorge Furtado, Paulo Thiago, Julio Bressane, Hugo Carvana, Selton Mello e outros.

Além dos filmes citados acima: O Rei da Noite, Eles Não Usam Black-Tie, O Homem do Pau Brasil, O Mentiroso, Dias Melhores Virão, Faca de Dois Gumes, Policarpo Quaresma Herói do Brasil, O Homem que Copiava, Benjamim, Saneamento Básico, Quincas Berro D´Agua, O Palhaço e outros.

No Teatro

Em 1954, atuou na sua primeira peça, O Muro. Em Porto Alegre, em 1955, foi um dos criadores do Teatro de Equipe (com Paulo César Pereio, Lilian Lemmertz, Ítala Nandi e outros atores). Entre as peças em que atuou: Os Fuzis da Senhora Carrar, de Brecht; A Mandrágora, de Maquiavel; O Filho do Cão, de Gianfrancesco Guarnieri, no qual foi também diretor; e Tartufo, de Molière.

Também dirigiu e atuou na montagem carioca de Arena Conta Zumbi. Em São Paulo, Paulo José formou, com Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal, Juca de Oliveira, Paulo Cotrim e Flávio Império o grupo que adquiriu o Teatro de Arena. Foi premiado com o Molière de melhor figurino, pela peça A Madrágora, de 1963, e de melhor ator, por Delicadas Torturas, de 1988. Também recebeu o Prêmio Governador do Estado de São Paulo pela direção da peça Revèillon, de 1975.

Aliás, como nem poderia ser diferente, Paulo José foi um colecionador de prêmios, no teatro, cinema e televisão: Festival de Brasília, Festival de Gramado, Air France, Contigo!, Festival de Paulínia, Guarani, etc.

Na Televisão

Estreou na televisão na novela Véu de Noiva, de Janete Clair, em 1970, produção que marcava a renovação nos folhetins da TV Globo. O ator entrou com a trama em andamento, como o fotógrafo Zé Mário. Em Assim na Terra Como no Céu, viveu o malandro Samuca, que tentava dar um golpe em uma idosa. Em Homem que Deve Morrer, foi André Villaverde, um artista circense, contracenando com Dina Sfat, sua mulher na época.

Em O Primeiro Amor, novela de Walther Negrão, de 1972, Paulo José e Flávio Migliaccio deram vida à dupla que marcou suas carreiras: Shazan e Xerife, inventores da “camicleta”, cruzamento de caminhão com bicicleta. Os personagens fizeram tanto sucesso que ganharam um seriado próprio ao fim da novela: Shazan, Xerife e Companhia, exibido em 66 episódios, entre 1972 e 1974.

O programa apresentava as aventuras da dupla e sua saga para construir a bicicleta voadora. Foi a primeira vez que uma novela gerou um spin-off. Em 1998, em comemoração aos 25 anos da criação dos personagens, Walther Negrão fez com que a dupla Shazan e Xerife retornasse à cena em uma participação especial em sua novela Era uma Vez.

Em 1974, Paulo José viveu o irreverente Marcelo, o Belo, na novela Supermanoela, dividindo cenas com a atrapalhada empregada Manoela, papel de Marília Pêra. O ator voltou às novelas em 1976, como o diretor de cinema Jarbas, amigo do protagonista João Maciel (Paulo Gracindo), terceira ponta do triângulo amoroso que deu o que falar na época, com os personagens de Renata Sorrah e Armando Bógus.

Na década de 1970, Paulo participou de Casos Especiais, como Meu Primeiro Baile e O Capote, e dirigiu outros tantos, como Quem Era Shirley Temple (com Dina Sfat), Feliz Aniversário, Jorge um Brasileiro, Jardim Selvagem e Chanel nº 5. Foi ainda um dos coordenadores da série de teleteatros Aplauso, em 1979.

Em 1985, Paulo José dirigiu sua primeira superprodução na Globo: a minissérie O Tempo e o Vento. O produtor Daniel Filho estava à procura de um diretor para a minissérie quando Paulo, vestido de gaúcho dos pés à cabeça, ofereceu-se para o cargo, no que Daniel aceitou na hora. Ele dirigiu ainda as elogiadas minis Incidentes em Antares e Agosto, na década de 1990.

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Seguiram-se papeis de destaque nas novelas Vida Nova, Tieta, Araponga, Vamp e Explode Coração, e participações pontuais em Roda de Fogo, O Mapa da Mina e Olho no Olho.

Entre 1997 e 1998, Paulo José interpretou um dos personagens em novelas pelo qual é mais lembrado: Orestes em Por Amor, de Manoel Carlos, alcoólatra que tentava se aproximar da filha mimada Eduarda (Gabriela Duarte). O ator dividiu cenas emocionantes com a pequena Cecília Dassi, que vivia Sandrinha, a outra filha de seu personagem.

Paulo ainda viveu ótimos papeis nas minisséries Luna Caliente, A Muralha, Um Só Coração e JK e bons momentos nas novelas Caminho das Índias (como o Profeta Gentileza) e Em Família, em 2014, seu último trabalho na TV, com um personagem inspirado nele mesmo, que vivia o drama da doença de Parkinson.

O ano de 2021 está difícil. Estou encerrando este texto quando recebo a notícia da morte de Tarcísio Meira, outro grande nome das Artes, da mesma geração de Paulo José. O céu vai ficando mais bonito.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor