Essa nem os deuses da televisão explicam. De um lado temos Bruno Luperi, que escreveu uma novela fechada na pandemia; de outro, chega Gloria Perez com uma trama aberta e passível de alteração. No entanto, a primeira fez sucesso logo de cara, sem mudar uma vírgula, enquanto a atual patina no ibope e sofre rejeição do público.

A verdade é que Pantanal foi toda escrita antes da estreia em razão da pandemia de Covid-19. O autor Bruno Luperi adaptou a trama de 1990, original do avô Benedito Ruy Barbosa e produzida pela TV Manchete, sem alterar basicamente nada. Foi uma trama praticamente toda fechada.

Poucas mudanças, muito sucesso

Gabriel Sater

A impossibilidade de atualizar alguns acontecimentos considerados ultrapassados, como a obrigação de um casamento entre José Lucas (Irandhir Santos) e Érica (Marcela Fetter) apenas por causa de uma gravidez, causou estranheza.

Dentre outras coisas mal explicadas – e até mesmo injustas -, como a permanência da morte de Madeleine (Karine Teles) e a saída de Trindade, interpretado por Gabriel Sater (foto acima). Na versão original, os dois acontecimentos se deram por fatores externos e alheios à vontade do autor e, ao serem mantidos sem necessidade no remake, causaram reclamações do público.

Porém, nenhum desses detalhes conseguiu atrapalhar o desempenho da adaptação, que seguiu do começo ao fim alcançando ótimos índices de audiência em seu horário. O folhetim devolveu à Globo os números perdidos do horário das nove, entregando a faixa com dignidade para a sua substituta Travessia.

Privilégio

Travessia - Chay Suede, Lucy Alves e Romulo Estrela

A substituta do sucesso Pantanal enfrenta uma situação bem diferente. A produção de Gloria Perez é uma trama aberta, onde a autora pode identificar pontos fora da curva e alterá-los de acordo com a sua necessidade.

Ou seja, tudo o que o público desaprovar – ou o que não funcionar na história – poderá ser redirecionado dentro da trama, que conseguirá assumir formas mais certeiras de acordo com a vontade popular. É tudo o que não aconteceu com a história de Pantanal.

Contudo, no fator recepção do público, apesar de ter sido fechada, a trama de Bruno Luperi foi muito melhor em seu início do que Travessia está se saindo atualmente. Com índices na casa dos 22 pontos, a atual novela das 21h tem se arrastado no ibope e recebido muitas críticas do público nas redes sociais.

Travessia - Jade Picon

Os internautas reclamam que a mocinha Brisa (Lucy Alves) demorou a aparecer, além da falta de sutileza ao apresentar os personagens. Alguns já aparecem destilando maldades para demarcar que são vilões, enquanto outros utilizam falas mansas para destacar excesso de bondade e se apresentarem como bons.

Assim, enquanto uma entrou no ar toda escrita, mas alcançou o sucesso de crítica, repercussão e boa audiência, a outra, que teve o privilégio de ser uma trama aberta, como toda boa novela deve ser, segue criticada e com uma audiência muito morna.

Por ser aberta, conseguirá o folhetim de Gloria Perez se recuperar e superar as dificuldades, como geralmente conseguem as produções que seguem este modelo? Vamos acompanhar as cenas dos próximos capítulos…

Compartilhar.
Dyego Terra

Dyego Terra é jornalista e professor de espanhol. É apaixonado por TV desde que se entende por gente e até hoje consome várias horas dos mais variados conteúdos da telinha. Já escreveu para diversos sites especializados em televisão. Desde 2005 acompanha os números de audiência e os analisa. É noveleiro, não perde um drama latino, principalmente mexicano, e está sempre ligado na TV latinoamericana e em suas novidades. Análises e críticas são seus pontos fortes. Leia todos os textos do autor