Para salvar Travessia, autora esquece promessa feita antes da estreia
03/12/2022 às 10h15
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Antes da estreia de Travessia, a autora Gloria Perez adiantou alguns detalhes de sua trama. Ela explicou que sua novela trataria da temática da tecnologia e o quanto ela impacta no cotidiano da sociedade, tanto positivamente quanto negativamente. Porém, semanas depois da estreia, é possível observar que, até aqui, a autora falhou miseravelmente nessa missão.
DIVULGAÇÃO/TV GLOBOEm meio a tantas transformações provocadas pelo avanço tecnológico, a autora sinalizou a preocupação com os crimes virtuais. Daí a ideia de trazer de volta às telas a personagem Helô, delegada vivida por Giovanna Antonelli em Salve Jorge (2012).
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Depois de acabar com uma quadrilha de tráfico humano, Helô reapareceu à frente de uma delegacia especializada em crimes virtuais. Um ambiente perfeito para colocar em discussão temas que estão na ordem do dia, como tráfico de dados, invasão de sistema, chantagens virtuais… Porém, até agora, Travessia não avançou no assunto. Por enquanto, o único “criminoso virtual” do enredo é Rudá (Guilherme Cabral, na foto com Alessandra Negrini)…
Fake news
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No centro do enredo de Gloria Perez está a profusão das fake news, notícias falsas que se espalham pela internet e podem destruir vidas. Inspirada num caso real, a autora criou Brisa (Lucy Alves), que é vítima de uma destas notícias falsas. Uma nota com o rosto da jovem, acusando-a de sequestrar crianças, se espalha pela rede. Brisa, então, é linchada em praça pública.
A trama movimentou o final da primeira semana de Travessia. Depois do linchamento, Brisa foge e, nesta fuga, conhece o hacker Oto (Romulo Estrela). Mais adiante, ela passa por vários perrengues e, atualmente, trava uma batalha com o ex-marido pela guarda do filho.
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Ou seja, a tal fake news serviu apenas para que Brisa deixasse o Maranhão rumo ao Rio de Janeiro e nada mais. Além disso, a montagem foi feita por um adolescente, Rudá, e tratada como brincadeira de criança.
Existe a expectativa de que a tal fake news volte à cena quando um exame de DNA acusar que Brisa não é a mãe biológica de Tonho (Vicente Alvim). A moça tem uma condição genética rara, conhecida como “quimerismo” e, por isso, não conseguirá provar que é mãe de seu filho. Assim, muitos resgatarão a fake news e acusarão Brisa de ter sequestrado Tonho.
Desserviço
Mesmo que a fake news de Brisa volte ao centro de Travessia, ainda assim a abordagem da tecnologia na trama é insuficiente. Afinal, fake news não é brincadeira de criança, como a novela das nove da Globo faz crer. Trata-se de um crime muito bem orquestrado, com objetivos escusos. Da maneira como a novela mostra, Travessia presta um desserviço.
Outros assuntos referentes à tecnologia também são mal colocados dentro da novela. Com Theo (Ricardo Silva), por exemplo, a ideia era falar sobre jovens viciados em tecnologia. Mas, ao que tudo indica, o mistério em torno do garoto é que ele pratica o “elojob”, ou seja, ganha dinheiro para jogar na conta de outro jogador e vencer em seu lugar. É uma prática questionável, mas não necessariamente um vício.
A tecnologia dentro de Travessia ainda rende momentos de puro humor involuntário. O “metaverso” tão querido por Guerra (Humberto Martins), por exemplo, é mostrado como uma patacoada. Agora, surge o robô-garçom Haroldo, que provoca ciúme no “garçom real” Joel (Nando Cunha).
Robô?
Se Travessia já não tinha lá muito pé ou cabeça, a chegada do robô degringolou tudo de vez. A intenção era discutir até que ponto a tecnologia é capaz de substituir mão de obra humana. Mas, na prática, a coisa ficou beirando o nonsense.
Ou seja, Travessia até tenta ser moderninha, mas falha ao tentar discutir tecnologia de maneira séria. Não parece um olhar contemporâneo sobre o tema: parece um olhar envelhecido sobre um futuro que não existe.