Paolla Oliveira mostra versatilidade e quebra estigma de “eterna mocinha”
28/06/2017 às 10h00
Ela é uma das principais estrelas da geração mais jovem de atrizes do Brasil. Depois de se destacar como a prostituta Danny Bond na série Felizes Para Sempre e viver a vilã Melissa de Além do Tempo, Paolla Oliveira novamente vive um bom momento, agora como a policial e lutadora Jeiza de A Força do Querer, atual novela global das 21h, de Glória Perez. Porém, se hoje ela é reconhecida por seu talento ao interpretar mulheres fortes e poderosas, há algum tempo, a visão que o público tinha da capacidade da atriz era diferente.
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Após passagem pelo SBT como assistente de palco do Passa ou Repassa, Paolla iniciou sua carreira de atriz em um projeto fracassado da RecordTV: Metamorphoses (2004), onde interpretou a vilã Stela na segunda fase do roteiro. No ano seguinte, fez sua estreia na Rede Globo e sua primeira personagem de maior destaque, em Belíssima (2005-06): Giovana, filha da sedutora Safira (Cláudia Raia) com o italiano Alberto (Alexandre Borges).
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Ela logo chamou a atenção da mídia e do público e não demorou a emplacar sua primeira protagonista, a doce Sônia, no remake de O Profeta (2006-07). Ainda atuou na novela Ciranda de Pedra (2008) como a tenista Letícia e, logo depois, viveu seu papel de maior sucesso até então, a gananciosa vilã Verônica Tardivo, de Cama de Gato (2009-10).
Mesmo assim, suas duas personagens posteriores acabaram deixando a atriz com o estigma de “eterna mocinha insossa”. Em Insensato Coração (2011), Paolla substituiu às pressas Ana Paula Arósio e herdou a mocinha, a arquiteta Marina Drummond.
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A personalidade passiva da mocinha irritou o público, Paolla apresentou uma atuação pouco convincente (em função do tempo de preparo reduzido) e sua parceria com Eriberto Leão (o mocinho Pedro) não deu liga, a ponto de serem ofuscados por personagens como Norma (Glória Pires), Tia Neném (Ana Lúcia Torre), Natalie (Deborah Secco), Cortez (Herson Capri) e Léo (Gabriel Braga Nunes).
Pouco depois, Paolla foi novamente escalada para o posto de mocinha, desta vez em Amor à Vida (2013-14), onde viveu a médica Paloma, cuja filha Paulinha (Klara Castanho) foi roubada após o nascimento. Desta vez, ela apresentou uma atuação mais aceitável em relação ao papel anterior, porém, novamente sua personagem perdeu espaço para outros tipos mais atraentes como o irmão Félix (Mateus Solano em seu papel de maior sucesso), a vilã Aline (Vanessa Giácomo), a periguete Valdirene (Tatá Werneck) e Márcia (mãe de Valdirene, interpretada por Elizabeth Savalla). Em virtude destes dois “fracassos” na faixa principal, Paolla chegou a ser estigmatizada como atriz de mocinhas insossas, mesmo já tendo se destacado como vilã em Cama de Gato.
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A grande virada da atriz viria no início de 2015. Escalada para viver a sedutora prostituta Danny Bond em Felizes Para Sempre, série de Euclydes Marinho baseada em Quem Ama Não Mata (1982), Paolla se reinventou totalmente e exibiu um lado ousado pouco conhecido de parte do público, quebrando de vez a imagem de “eterna mocinha”.
Muitos atrelam seu sucesso à icônica sequência onde a personagem aparece seminua, usando apenas uma lingerie fio-dental na sacada de um hotel. Porém, é injusto reduzir o sucesso da personagem a apenas isto. Danny Bond (cujo nome real era Denise) era uma mulher de múltiplos disfarces, que enredou o casal Cláudio (Enrique Diaz) e Marília (Maria Fernanda Cândido) em um perigoso jogo de sedução e escondia o ofício de sua namorada Daniela (Martha Nowill).
Logo depois, Paolla foi escalada para viver a vilã Melissa em Além do Tempo (2015-16), novela das seis de Elizabeth Jhin, rivalizando com a mocinha Lívia (Alinne Moraes) pelo amor do conde Felipe (Rafael Cardoso). Novamente, a atriz foi um dos muitos destaques do elenco e conferiu boas doses de sarcasmo à megera na primeira fase da trama, de época, bem como deu perfeitamente o tom dramático da vilã na segunda etapa e realizou grandes parcerias com Alinne, Júlia Lemmertz e Irene Ravache.
Diante deste quadro, uma pergunta se faz: como explicar que Paolla Oliveira tenha se dado melhor interpretando mulheres poderosas e modernas e não tenha a mesma sorte com mocinhas mais tradicionais? Afinal, nos últimos tempos, em decorrência do fascínio dos vilões e dos tipos ambíguos, interpretar um personagem de bom caráter não tem sido tarefa fácil.
Os autores precisam se desdobrar para criar mocinhos que sejam atrativos para o público e sintonizados com os tempos atuais, principalmente com personalidade ativa e inteligente. Além disso, há o risco de outros perfis da obra caírem nas graças do público e acabarem ofuscando os mocinhos, por mais talentosos que sejam os intérpretes deles.
No caso de Paolla, a “culpa” por ela não ter se dado bem com mocinhas tradicionais é mais dos autores do que dela. Em O Profeta, a atriz mostrou um desempenho convincente e teve uma boa sintonia com o mocinho Marcos (Thiago Fragoso), mas os perfis que roubaram a cena foram o vilão Clóvis (Dalton Vigh), o peixeiro Tainha (Rodrigo Faro) e sua noiva Gisele (Fernanda Rodrigues). Em Insensato Coração, o perfil da mocinha já era desinteressante desde o começo – muito “passivo” e coretinho demais, agravado pela fraca atuação dela.
Em Amor à Vida, Paolla não comprometeu, mas a mocinha teve seu perfil inicial desvirtuado, tornando-se irritante por se deixar levar demais por armações e sendo ofuscada pelos outros perfis. Em compensação, em Além do Tempo, o perfil de Lívia (mocinha vivida por Alinne Moraes) foi muito bem desenvolvido pela autora e tornou a protagonista um perfil cativante. E é possível cravar que, se Paolla e Alinne invertessem os papeis, se sairiam muito bem de igual forma.
Até que, após o sucesso em Felizes Para Sempre e Além do Tempo, uma nova personagem se mostrou mais do que bem-vinda para Paolla: a major Jeiza, uma das protagonistas de A Força do Querer. Feminista por convicção, policial linha-dura e lutadora de MMA, sem deixar de ser feminina e vaidosa, a personagem foge de todas as caricaturas possíveis em virtude de sua presença em ambientes tidos como masculinos.
A autora Glória Perez foi feliz ao criar uma mulher empoderada e segura de si e conseguiu manter as características femininas de Jeiza, fugindo da masculinização. A personagem também defende seus ideais feministas de uma forma agradável de se ver, sem soar exagerada.
E o papel tem sido um grande presente para Paolla Oliveira. A atriz está brilhando novamente vivendo uma mulher poderosa e cheia de energia, que não se deixa intimidar por nenhum homem e defende seus ideais com unhas e dentes.
Foi ainda uma grata surpresa sua parceria com Marco Pigossi, que vive o rústico caminhoneiro Zeca. A relação de gato e rato do casal “Jeizeca” (já elogiada por este colunista aqui no TV História), confrontando o feminismo dela com o machismo dele, é temperada pela química intensa mostrada pelos dois atores, que emocionam e divertem em cena.
Paolla ainda forma parcerias excelentes com nomes como Tonico Pereira (Abel, pai de Zeca), Gisele Fróes (Cândida, mãe da policial), além de ter boa sintonia com as outras protagonistas: Ritinha (Isis Valverde) – da qual tem ciúmes por causa de Zeca – e Bibi (Juliana Paes) – que vem jurando a policial de morte após o depoimento que colocou Rubinho (Emílio Dantas) na cadeia.
Paolla Oliveira é uma atriz que não precisa mais provar nada para ninguém. Ela conseguiu quebrar o estigma de mocinha através de personagens fortes, que evidenciam sua entrega cênica. Ainda assim, nada a impede de viver uma mocinha mais tradicional no futuro. Basta apenas que o perfil seja atrativo e bem desenvolvido, para não permitir que perca destaque novamente. Afinal, talento ela já mostrou que tem. E suas mais recentes personagens são provas disso.