Sábado, 10 de novembro de 1990. Quem “girou o seletor” – só os mais velhos sabem o que quer dizer isto – e caiu na Manchete, se deparou com uma grade diversificada (e de muita qualidade) que incluía novelas, musicais, jornalísticos, esporte, filmes, desenhos e seriados japoneses. Confira!

Abrindo a programação, a faixa educativa (7h30) e a Sessão Animada (curtíssima, das 8h às 8h20) – com desenhos como Bicudo e Bicudinho, Candy Candy, Coelho Ricochete, Don Dracula e Marmaduke. Na sequência, o Clube da Criança (8h20) – não encontramos informações a respeito do conteúdo da atração: talvez uma edição de fim de semana do vespertino que Angélica apresentava de segunda-feira a sexta-feira ou apenas um compilado de desenhos e séries, como Changeman, Jaspion, Jiraya e a grande novidade do ano, Cybercop – Os Policiais do Futuro. Ambientada num “modernoso” 1999, a série acompanhava o cotidiano de um grupo de policiais de elite com armaduras tecnológicas, o Cybercop, empenhado no combate à Destrap, uma organização criminosa liderada pelo computador Fuhrer.

Versão televisiva da revista de mesmo nome, editada pela Bloch nos anos 1950, o Manchete Esportiva era exibido em duas edições diárias – “Primeiro” (12h) e “Segundo Tempo” (18h55). Além da cobertura dos treinos de grandes clubes de futebol, dos preparativos para as partidas e dos gols da rodada, o programa acompanhava campeonatos de vôlei, basquete e tênis – um dos destaques da grade da Manchete naquele ano. O time de esportes do canal contava então com o narrador Osmar Santos – principal nome na cobertura da Copa da Itália -, seu irmão Oscar Ulisses (responsável pela edição paulista do esportivo), Alberto Léo, Márcio Guedes e Paulo Stein – a “voz oficial” dos desfiles do Carnaval da Manchete. Hoje na Band, Antônio Pétrin integrava a equipe de reportagem.

E Mylena Ciribelli, apresentadora do Esporte Fantástico (Record), se revezava entre o Manchete Esportiva e o Edição da Tarde (12h30), telejornal vespertino que comandava aos sábados, em esquema de revezamento com Leila Richers e Ronaldo Rosas. Âncora de segunda-feira a sexta-feira, dividindo a bancada com Carlos Bianchini, Leda Nagle só aparecia no fim de semana para suas tradicionais entrevistas – em esquema similar ao do Jornal Hoje, que apresentou na Globo durante quase toda a década de 1980.

Wilson Cunha e Tânia Rodrigues comandavam o Cinemania (13h), programa sobre os bastidores da sétima arte. Clássico dos sábados da Manchete, o ‘Cine’ era dividido em colunas, que destacavam clássicos, lançamentos e trilhas sonoras. Naquele 10 de novembro de 1990, o público se deleitou com as ‘Sequências Favoritas’ do desenho A Dama e o Vagabundo (1955) e dos filmes Dirty Dancing – Ritmo Quente, Os Intocáveis e Quem é Essa Garota? (todos de 1987). Ainda, os bastidores de Shocker – 100.000 Volts de Terror (1989), um clipe do fundo do mar de Imensidão Azul (1988) e uma entrevista com Ronny Cox, o vilão Vilos Cohaagen, de O Vingador do Futuro (1990). Na sequência, o drama Hotel de Luxo (1967; título original: Hotel), dirigido por Richard Quine, em cartaz no Vesperal de Sábado (14h30).

A Manchete lançou Angélica em 1987, à frente do infantil Nave da Fantasia e do juvenil Shock. No ano seguinte, com o hit ‘Vou de Táxi’ bombando em todo o país e no comando do Clube da Criança, a loira foi presenteada com uma atração semanal, o Milk Shake (16h30). A atração permitiu à Angélica exercitar seu lado atriz: a cada edição, ela incorporava uma personagem, de acordo com o tema do dia. 1990 foi um ano especialmente mágico para a estrela: nomeada embaixatriz do Ministério da Criança, do governo Collor, e com um novo disco arrasando nas vitrolas – o de ‘Me dá um beijinho’, com Kaoma, e ‘Boa tarde, meu amor’ – a apresentadora se via no centro de uma disputa entre Globo, que desejava seu passe, e Manchete, onde acabou ficando; a Rainha dos Baixinhos, Xuxa, teria vetado o ingresso da coleguinha em seu território.

Após o Manchete Esportiva – Segundo Tempo, espaço para os jornais locais (19h10). Em seguida, a reapresentação de Kananga do Japão (19h30). Antigo projeto de Adolpho Bloch e Carlos Heitor Cony, transformado em novela por Wilson Aguiar Filho, ‘Kananga’ reativou o núcleo de teledramaturgia da emissora após uma pausa de sete meses (de janeiro a julho de 1989). Encerrada em março de 1990, a trama regressou em maio, permanecendo no ar até janeiro de 1991 – todos os 208 capítulos originais foram reexibidos na íntegra. O enredo, ambientado na década de 1930, acompanhava a trajetória de Dora (Christiane Torloni); por dinheiro, ela se casa com Danilo (Giuseppe Oristânio) e vê Alex (Raul Gazolla), seu grande amor, envolvido com Letícia (Tônia Carrero), mãe de seu marido. Novelão com N maiúsculo!

O Carnaval ainda estava longe, mas a Manchete já preparava seus telespectadores para a festa, com o boletim Esquentando os Tamborins (20h25). Logo após, a Sessão Super Heróis (20h30) com aqueles “tokusatsu” – séries japonesas de ação e (d)efeitos especiais – que se tornaram populares no Brasil graças ao canal.

No ar do início ao fim da emissora, o Jornal da Manchete (20h50) era apresentado pelo casal 20 do telejornalismo no Brasil, Eliakim Araújo e Leila Cordeiro. Os dois haviam deixado a Globo no ano anterior, em meio à dança das cadeiras que os separou – ele seguiu no Jornal da Globo, enquanto ela foi deslocada para o Jornal Hoje. Além de Eliakim, Leila e Leda Nagle em 1989, a Manchete recrutou, em agosto de 1990, Leilane Neubarth, repórter especial do principal telejornal da casa e apresentadora do Programa de Domingo. Também nesta época, migraram para o canal o jornalista Renato Machado e Alice-Maria, um dos grandes nomes do Jornal Nacional, então promovida a diretora-executiva de jornalismo.

O êxito de Pantanal (21h50), a novela daquele ano, determinou o esticamento da produção: o término, agendado para 28 de novembro, foi protelado para 11 de dezembro. Por conta disso, os resumos destas últimas semanas são um tantinho desencontrados. Mas é possível afirmar que entre 5 e 10 de novembro, o instinto felino de Juma Marruá (Cristiana Oliveira) estava ainda mais aguçado. À espera de sua filha, a mulher que virava onça não pensou duas vezes antes de partir para cima do matador Teodoro (Fausto Ferrari), contratado pelo grileiro Tenório (Antônio Petrin) para liquidar não só a família de José Leôncio (Cláudio Marzo), como sua própria esposa, Maria Bruaca (Ângela Leal) e o amante Alcides (Ângelo Antônio). Após a morte do jagunço, Juma foi para o rio dar à luz, como fez sua mãe Maria (Cássia Kis).

Os sábados da Manchete eram dedicados ao humor, tal e qual o SBT fez por anos, alocando A Praça é Nossa nesta faixa, e a Globo faz hoje, com o Zorra. Aliás, o Cabaré do Barata (22h50), atração de Agildo Ribeiro, era tão ou mais crítico do que o humorístico da emissora-líder costuma ser. O programa, que estreou no auge da campanha de Collor e Lula à presidência, satirizava políticos, retratados em bonecos manipulados. Agildo encenava situações cômicas com os “muppets” – que reproduziam, por exemplo, Leonel Brizola, Paulo Maluf e Zélia Cardoso de Melo -, debatendo economia e outros assuntos de interesse dos brasileiros. Uma aposta divertida e inovadora, embalada por uma canção muito pertinente: ‘Por Debaixo do Panos’, com Ney Matogrosso, o tema de abertura.

Por fim, dois longas-metragens: 55 Dias em Pequim (1963), filme de Nicholas Ray com Charlton Heston e Ava Gardner, em Sala Vip (23h50); e Duelo Contra a Morte (1972), dirigido por Bernard McEveety, em Sessão Extra (01h50).


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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.