Nilson Xavier

A TV Manchete foi uma emissora que deixou muitas saudades, guardada com carinho na memória de inúmeros telemaníacos. Foram apenas 16 anos no ar: de junho de 1983 a maio 1999. O suficiente para torná-la uma das emissoras mais cultuadas de nossa televisão.

Entre as novelas, algumas entraram para a história: Dona Beija, com a nudez de Maitê Proença (1986), a novela-reportagem Corpo Santo (1987), Kananga do Japão (1989), Pantanal, com a fórmula erotismo-fantasia-natureza (1990), a novela itinerante A História de Ana Raio e Zé Trovão (1991) e a ousada Xica da Silva (1996-1997).

Por outro lado, outros títulos, entre novelas e minisséries, deixaram a desejar, ajudando a afundar ainda mais a emissora na crise que a levou a fechar as suas portas em 1999, encerrando suas atividades.

Relaciono abaixo 5 desses títulos “problemáticos”. Confira:

O Fantasma da Ópera (1991)

O Fantasma da Ópera

Última das minisséries da TV Manchete produzidas no período de 1990-1991 (de um total de 11 títulos). Foi feita “nas coxas”, para a emissora ter tempo de produzir os difíceis capítulos iniciais de sua próxima atração, a novela Amazônia.

De acordo com Ismael Fernandes, no livro “Memória da Telenovela Brasileira”: “O resultado foi melancólico, sem brilho. Uma boa e feliz ideia desperdiçada”.

Amazônia (1991-1992)

A Manchete, que vinha bem com o sucesso de Pantanal e ainda não tinha se decepcionado completamente com A História de Ana Raio e Zé Trovão, lançou-se nessa produção dispendiosa.

Embora fossem tamanhos os esforços para colocar Amazônia no ar e a divulgar a sua estreia, a novela não passou de um grande decepção para a emissora, com audiência muito abaixo da esperada e repercussão praticamente nula.

Para recuperar a audiência perdida e compensar prejuízos, a partir do capítulo 43, a trama original teve um fim, e, com o mesmo elenco, entrou no ar Amazônia, Parte 2. Contudo, não houve jeito: a novela firmou-se como um dos maiores fracassos da TV Manchete e contribuiu bastante para o agravamento da crise da emissora.

Antônio Maria (1985)

Primeira novela da emissora, em uma parceria com a RTP (Rádio e Televisão Portuguesa), remake do sucesso da TV Tupi, de 1968. Novamente, Geraldo Vietri dirigia a obra que escreveu para a Tupi.

Dessa vez, não houve sucesso. O erro maior foi exibir o protagonista (vivido pelo ator português Sinde Felipe) em Portugal no primeiro capítulo, mostrando um Antônio Maria milionário fugindo de uma mulher apaixonada e possessiva, eliminando assim o grande segredo da trama e o seu maior charme.

De acordo com, o livro “Biografia da Televisão Brasileira”, de Flávio Ricco e José Armando Vannucci:

“Antônio Maria teve uma produção equivocada, muitos artistas reclamaram das condições de trabalho e da falta de paciência do autor, e a audiência não atingiu a meta estabelecida”.

Olho por Olho (1988)

Obscura novela que procurou emular o clima da bem-sucedida Corpo Santo, do ano anterior, com o mesmo tema, contando, mais uma vez, com a cancha de José Louzeiro em um roteiro com clima policial abordando a marginalidade carioca.

Porém, infelizmente, nem sempre boas ideias resultam em boas telenovelas. O entra, sai e volta de autores tentou contornar os problemas. Em vão.

O argumento era de Wilson Aguiar Filho, que largou a novela nas mãos de José Louzeiro e foi para a Globo. Geraldo Carneiro foi colaborador de Louzeiro, mas não ficou até o fim: foi substituído por Leila Miccolis e Wilson Aguiar Filho, que – vejam só! – voltava à Manchete.

Não confundir com a novela Olho no Olho, de Antônio Calmon, da Globo (de 1993): uma produção nada tem a ver com a outra. Nem com a próxima novela de João Emanuel Carneiro, cujo título provisório é homônimo: Olho por Olho.

Brida (1998)

Carolina Kasting

Problemática produção da Manchete que culminou com o seu fim, em maio de 1999.

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No contrato com a emissora, os patrocinadores só liberariam verba se a novela passasse dos 5 pontos de audiência. A previsão da Manchete era de que Brida atingisse 10 pontos, mas o ibope estacionou nos 2. Sem patrocínio, o canal ficava no prejuízo. Mesmo recorrendo a velhas fórmulas para alavancar a audiência (como erotismo), a novela não emplacou.

Aliado aos problemas de Brida, os juros das dívidas da TV Manchete cresciam. Em outubro de 1998, o elenco e equipe técnica entraram em greve por falta de salário. O vice-presidente da emissora confessou aos atores que “o fracasso da novela esgotou os recursos da empresa”.

Sem ter o que fazer, a direção da rede decidiu tirar Brida do ar na sexta-feira da mesma semana: em 23 de outubro de 1998, a emissora interrompeu subitamente a trama, apresentando uma narração que explicava qual seria o desfecho da história. O final narrado por Eloy de Carlo, locutor oficial da Manchete, foi improvisado naquele dia.

Juntamente com o fim da novela, o restante da programação da TV Manchete também se esvaziava.

Apesar de tudo, vale celebrar os programas que fizeram a festa de manchetemaníacos: AQUI, 10 programas que deixaram saudade.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor