Semana #2
A primeira fase de Pantanal encerra-se, na próxima terça-feira (12), com saldo positivo.
A novela encanta não só pelas imagens, produção bem cuidada e ótimos elenco e direção, mas, principalmente, pela trama que Bruno Luperi tem em mãos (de seu avô Benedito Ruy Barbosa), adaptada de forma a explicar melhor o que em 1990 ficava perdido ou subentendido, sem abandonar (ou descaracterizar) a alma e o vigor do texto de seu autor original.
Por duas semanas, Pantanal segurou a atenção com apenas dois núcleos, que correram paralelamente: de Zé Leôncio (extensivo ao da família de Madeleine, no Rio de Janeiro) e da família Marruá.
Suas histórias ainda não se intercalam, apesar de Maria Marruá viver em terras de Zé Leôncio. Sabemos que se ligarão na segunda fase, por meio dos herdeiros Jove e Juma.
Os Marruás
O drama de Maria Marruá é tão intenso que por si só renderia uma produção à parte, uma minissérie ou uma série. Confesso que foi o que mais me cativou até aqui.
A trajetória do clã recebeu um tratamento diferenciado, a valorizar o drama, pontuado por interpretações comoventes dos personagens, ora agudas, ora contidas. A trilha sonora instrumental lancinante – diferente da usada no núcleo dos Leôncios – ajuda a dar o tom da saga da personagem de Juliana Paes.
As caracterizações e ambientações realistas contrapõe a proposta fantástica da trama, da mulher que vira onça e do velho que vira sucuri.
O núcleo de Zé Leôncio é essencialmente masculino: ele é um herói disputado por mulheres, tido como um “garanhão”, sua mãe sequer foi citada, viveu anos sozinho com o pai em um casarão cercado de homens, não há mulheres em sua comitiva, apenas a empregada da casa, etc.
Do outro lado, a família Marruá é liderada por uma mulher forte, corajosa, desbravadora, capaz de virar onça para proteger e alimentar a filha. A mulher que se transforma em onça é uma metáfora belíssima com a figura feminina forte, de meter medo. A natureza é feminina.
Vale lembrar que Maria virou onça para proteger a filha recém-nascida quando ela foi ameaçada por uma cobra, a filha que estava prestes a abandonar, mas que voltou atrás porque “É uma menina!”, repetia ela. Que sequência linda!
O Velho do Rio virou sucuri pela primeira vez para despertar em Maria o instinto de proteção da cria, comum a todos os animais.
Vira bicho
Muito acertada a opção pela sutileza na transformação dos personagens em bichos, sem os exageros das metamorfoses explícitas.
Ótima a sequência em que Maria caminha para um lado, cai no chão, a câmera passa por um obstáculo, que impede a visão do espectador, e a personagem surge na continuação já sob a forma de uma onça.
Também quando a sucuri percorre uma trilha e a câmera finaliza seu trajeto com o Velho do Rio se levantando, para apoiar-se sobre duas pernas.
São escolhas elegantes para demandas que poderiam descambar para o mau-gosto ou bizarrice desnecessários.
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Elenco formidável
Juliana Paes, Enrique Diaz e Osmar Prado estiveram/estão irrepreensíveis em seus papeis, cada qual com personagens bem delineados e construídos. O texto exigia interpretações vigorosas que os atores cumpriram à altura de suas responsabilidades. Túlio Starling, como Chico, o filho assassinado dos Marruás, também marcou presença, ainda que em poucas cenas.
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Vale destacar a direção de elenco (de Rogério Gomes e equipe), caracterização (de Valéria Toth e equipe) e preparação de elenco (de Andrea Cavalcanti, Iris Gomes da Costa e Mareliz Rodrigues).
Como a primeira fase está prestes a acabar, preciso registrar os ótimos trabalhos, também, de Renato Góes (Zé Leôncio), Letícia Salles (Filó), Bruna Linzmeyer (Madeleine), Malu Rodrigues (Irma), Gabriel Stauffer (Gustavo), Fábio Neppo (Tião), Chico Teixeira (Quim) e os veteranos Selma Egrei (Mariana), Leopoldo Pacheco (Antero), Almir Sater (o chalaneiro Eugênio) e Orã Figueiredo (o taxista Reginaldo).