O sucesso de Pantanal na TV Manchete em 1990 incomodou a Globo, que se viu obrigada a mexer em sua linha de shows para tentar estancar a fuga do público. No entanto, a emissora não fingiu que a novela concorrente não existia. Humorísticos como Os Trapalhões e TV Pirata, deitaram e rolaram com a saga de Juma (então Cristiana Oliveira) e Jove (Marcos Winter).

Pantanal

Num tempo em que era raro a Globo citar a concorrência, Os Trapalhões apresentou a divertida esquete Espantanal. A trupe formada por Renato Aragão, Dedé Santana e Mussum arrancou gargalhadas da plateia ao apresentar sua versão de Juma, Jove e José Leôncio.

Na cena, Dedé Santana encarnava José Leôncio, que recebia o filho Jove, numa versão a la Didi Mocó, e Juma, numa impagável performance de Mussum. A esquete também contava com Andréa Faria, a ‘Sorvetão’, que vivia a Muda.

Bacanal

A TV Pirata, que tinha como mote satirizar a programação da televisão brasileira, também não deixou passar o sucesso de Pantanal. O humorístico exibiu Bacanal, uma sátira que brincava com as sequências picantes da novela da Manchete.

Em Bacanal, Regina Casé construiu sua versão de Juma. Numa das sequências mais lembradas, a pantaneira dá uma bronca em Muda, ou melhor, ‘Surda’. “Ô Surda, parece que é cega!”, reclama ela da intromissão da amiga.

No entanto, o programa acabou saindo do ar por causa da baixa audiência que tinha justamente no confronto com Pantanal.

Raridade

Tá no Ar

Atualmente, a Globo anda muito mais flexível no que se refere a citar a concorrência.

O extinto Tá no Ar, por exemplo, fez muitas sátiras de programas clássicos dos demais canais, apresentando suas versões de João Kleber, Silvio Santos e Casos de Família, por exemplo. Tiago Leifert também já mandou abraço para Sonia Abrão em meio ao BBB, entre outras situações.

No entanto, em épocas mais remotas, essa liberdade era mais rara. Por isso, sátiras como Espantanal ou Bacanal chamam a atenção. Foi uma das poucas vezes que a Globo das décadas de 1980 e 1990 se rendeu ao sucesso da concorrência.

A TV Pirata, aliás, era um dos poucos espaços onde era mais comum a Globo se referir aos programas dos demais canais.

Mas nada se compara à liberdade de hoje, em que a Globo fala de seus concorrentes sem grandes pudores. O que falta, então, é um novo programa de humor capaz de aproveitar esta liberdade e divertir o público com novas sátiras.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor