Fim de linha para o Pânico. De acordo com informações do jornalista Flávio Ricco, do portal UOL, o dominical da Band deixa a grade de programação em dezembro. Desgastado – afinal, são 14 anos no ar – e com audiência em queda, o humorístico de Emílio Surita e sua trupe deve sair do ar, até onde se sabe, por decisão da emissora (que ainda não se manifestou oficialmente a respeito). Do lado do Pânico, sucesso da rádio Jovem Pan redesenhado para a televisão em 2003, queixas a respeito do repasse de verbas por parte do canal do Morumbi.
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O que ninguém se deu conta é que o Pânico acabou antes de terminar. Há anos, o programa perdeu o fôlego que lhe rendeu, nos tempos em que a atração habitava a RedeTV!, seis troféus Imprensa. O que despertou, óbvio, a atenção do apresentador da premiação, Silvio Santos, interessado em tê-los no SBT; também da Record, que viu uma de suas maiores apostas – Gugu Liberato – fraquejar diante do concorrente.
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De início, com pouca verba e muita criatividade, o Pânico (então na TV!) se tornou uma boa opção para o público que fugia da megalomania vazia das concorrentes. Quadros relativamente simples, como o de Amy Winehouse (um insano vestido como a cantora britânica que fazia loucuras em meio a populares) e o da Dança do Siri (que viralizou nas ruas e chegou à tela da Globo), atraíram a audiência. Os recursos eram escassos, mas a força de vontade era grande. Sagazes, colocaram mulheres em trajes íntimos (audiência certa na terra do machismo) em “situações de perigo” – com uma pitada de “filme B de terror”, já que Marlene Mattos (Mônica Souza) sempre morria no final das aventuras. Soava divertido. Ainda, a cobertura de festas, de Silvio Santos (Wellington Muniz) e Vesgo (Rodrigo Scarpa).
Com o aumento dos índices, os primeiros problemas: o quadro Sandálias da Humildade, que escancarou o comportamento grosseiro de celebridades com certos setores da imprensa, atropelou a ética ao perseguir Clodovil Hernandes, então colega de emissora. Ainda a aposta na grotesca Mulher Arroto (Vanessa Barzan), que interrompia suas matérias – de Hebe Camargo a Laura Cardoso – arrotando no rosto dos entrevistados. Com a transferência para Band, em 2012, a aposta na grosseria se intensificou – mesmo tendo sofrido diversas reprimendas do órgãos responsáveis pelo monitoramento do conteúdo televisivo.
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O Pânico começou a perder seus maiores valores – como Sabrina Sato, Wellington Muniz, Eduardo Sterblitch e, recentemente, Gui Santana – conforme valorizava quadros de violência gratuita e bizarrices. O diretor de externas Bolinha (Marcelo Picon) ganhou status de estrela ao lado de Bola (Marcos Chiesa) em “batalhas” de ofensas verbais e físicas. Sabe-se lá por que a produção passou a considerar engraçado ver membros e convidados vomitando após uma noite de bebedeira – que o diga Dudu Camargo, que já não é lá uma figura muito aprazível, apalpando o mulherio desnudo e rebolativo contratado para consolar o moleque após o “fora” (fabricado por ele e por Silvio Santos) que tomou de Maisa Silva. As sátiras, que iam de Marília Gabriela a Amaury Jr, agora se limitam ao controverso Jair Bolsonaro, político de ideias polêmicas, tratado pelo programa como “mito”. O resultado está aí: o “primo pobre” Encrenca, da RedeTV!, tomou o quarto lugar do programa.
O que se vê é que o Pânico, um moleque de mente criativa, cresceu “sem limites”. E deixou o espírito da anarquia sucumbir ao da prepotência. Como um jovem adulto mimado, o programa não conseguiu ir além do próprio umbigo e manter, desta forma, o diálogo com o grande público. Não sei se este é o fim definitivo. O Pânico talvez ainda tenha algo a dizer – na rádio, continua imbatível, divertido e inteligente. Que esta saída da Band implique numa análise, de seus integrantes e equipe de produção, em busca de um norte.