O ano era 1987. Aos 36 anos, Vera Fischer era uma musa nacional e estrela do primeiro time da Rede Globo. Já Felipe Camargo tinha 27 anos e havia se destacado como protagonista de Anos Dourados, no ano anterior, além de ser um dos destaques de Roda de Fogo. Ambos foram escalados para Mandala, novela das oito de Dias Gomes, que mudaria suas vidas para sempre.

Os dois se conheceram nas gravações da trama e a paixão foi arrebatadora, ganhando as manchetes dos jornais e revistas da época. Vera era casada com Perry Salles, ator que também estava em Mandala, e acabou se separando dele para ficar com Felipe. O Brasil parou para ver a cena de beijo entre seus personagens, Jocasta e Édipo, mãe e filho na trama, que, evidentemente, não sabiam desse laço de parentesco.

O casamento veio em 1988 e parecia feliz. Mas aí, começaram os problemas. O conturbado relacionamento rotineiramente ganhava as capas da imprensa em virtude de traições, agressões físicas de ambas as partes e constantes brigas do casal.

Em 6 de novembro de 1994, o jornal O Globo fez uma reportagem lembrando vários fatos que aconteceram nessa trajetória:

Em outubro de 1989, após discutirem na porta de um restaurante em Botafogo, na Zona Sul do Rio, Vera foi atropelada por um táxi e fraturou o nariz. “Segundo testemunhas, Vera teria escapado para a rua, a fim de se defender das agressões de Felipe”, escreveu o jornal.

Em 20 de junho de 1990, após nova briga, Felipe deixou a casa da atriz em seu carro, dirigindo em alta velocidade. “Na sequência dos acontecimentos, o estudante universitário Agostinho Dias Carneiro, de 21 anos, morreu atropelado. A Justiça inocentou o ator do acidente, mas houve repercussão em sua carreira”, enfatizou a publicação.

Já em março de 1991, Felipe foi internado no Hospital Miguel Couto, com uma perfuração no lado esquerdo do abdômen e diversas versões para o fato. “Houve quem garantisse que Vera teria esfaqueado o marido após uma crise de ciúmes. O incidente acabou por afastar Felipe da possibilidade de integrar o elenco de O Dono do Mundo, novela de Gilberto Braga, em que interpretaria o Beija Flor”, ressaltou a matéria.

Em 1992, nova confusão, desta vez na boate gay Sintonia, em Campinas (SP), durante uma excursão de teatro. “A noite não terminou bem. Segundo testemunhas, Felipe teria revidado um tapa na cara dado por Vera. O casal saiu da boate discutindo aos berros, sob os olhares surpresos dos frequentadores. O episódio fez com que Vera Fischer quase perdesse seu lugar no elenco da novela Perigosas Peruas”, informou O Globo.

O ápice dos problemas veio em 1994, nos bastidores de Pátria Minha, que contava com ambos no elenco. A novela de Gilberto Braga sofreu principalmente com Vera, que vivia a protagonista, Lídia Laport. Numa gravação, ela apareceu com o antebraço esquerdo quebrado. A atriz foi afastada e muitas alterações tiveram que ser feitas nos capítulos.

Vera ainda voltou à trama, mas por pouco tempo. As brigas e os constantes atrasos foram a gota d’água para a Globo eliminar os personagens de Vera e Felipe, que morreram em um incêndio em um hotel – ambos também foram afastados das produções da casa.

“Lamento muito tudo isso estar acontecendo. Artisticamente, o resultado da dupla era bom. Eu gostaria de ficar com os dois até o fim de Pátria Minha. Mas foi uma decisão da alta direção da Rede Globo por problemas de produção escapam da minha alçada. Vai ficar mais difícil sem eles, principalmente porque a Lídia era uma personagem muito forte”, declarou Gilberto Braga ao jornal O Globo em 13 de janeiro de 1995.

Após a separação, ocorrida naquele ano, Vera e Felipe iniciaram uma batalha judicial pela guarda do filho, Gabriel, que acabou ficando com o ator em virtude dos problemas que ela enfrentava com as drogas.

Com o tempo, as brigas ficaram para trás. Ambos deram andamento em suas carreiras e Vera ainda teve grandes sucessos, como Laços de Família, em 2000. Felipe, após alguns anos sem papeis de destaque, voltou a atuar com frequência nas tramas da Rede Globo e pode ser visto recentemente na edição especial de Novo Mundo e na série Todas as Mulheres do Mundo.

Em 2018, eles estiveram no elenco de Espelho da Vida e Felipe falou sobre o assunto à imprensa.

“Nossos personagens não contracenam juntos, mas já nos encontramos nos bastidores. Independente disso, sou pai do Gabriel e temos um relacionamento amistoso há bastante tempo. Mas isso não gera polêmica”, declarou.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor