Tempos atrás, a Globo adotava um esquema de ‘descanso de imagem’ no seu elenco. Ou seja, atores que concluíam o trabalho em uma novela raramente emendavam em outra. Porém, já há alguns anos, isso acabou em virtude da economia. Afinal, ter vários atores recebendo sem trabalhar é bastante custoso. Então, agora quase todos vivem sendo requisitados para várias séries e folhetins, independente de imagem ‘desgastada’. O resultado, obviamente, é um certo cansaço do público em ver sempre os mesmos rostos no ar. Por isso é importante a aposta em caras novas e ver Rômulo Estrela protagonizando Deus Salve o Rei pode ser enquadrado nesse exemplo.

Claro que o ator não é um rosto novo. Ele estreou fazendo uma pequena participação em Da Cor do Pecado, em 2004, na Globo, e fez várias novelas da Record – Essas Mulheres (2005), Os Mutantes (2008), Bela, a feia (2010), Rei Davi (2012) e Balacobaco (2012). Porém, o ator já estava merecendo um papel de maior importância desde que voltou para a Globo, em Além do Horizonte, problemática novela das sete exibida em 2013. Após bons desempenhos em produções da emissora dos bispos, ele conseguiu mostrar talento nas pouquíssimas cenas que fez nessa trama. E a certeza de sua capacidade se deu em Além do Tempo, em 2015, quando viveu o interesseiro Roberto nas duas fases do primoroso folhetim de Elizabeth Jhin.

Um ano depois, Rômulo também se destacou em Liberdade, Liberdade, mesmo em mais um papel pequeno. Era o assustador Gaspar, temido traficante de escravos na obra de Mário Teixeira. Em 2017, o ator brilhou na pele do Chalaça, fiel escudeiro de Dom Pedro, em Novo Mundo, escrita por Alessandro Marson e Thereza Falcão. Era outro coadjuvante, mas nem isso impediu o intérprete de se destacar. Suas poucas cenas eram ótimas e vale lembrar os bons momentos protagonizados ao lado de Agatha Moreira (Domitila) e Caio Castro. Com o término da excelente novela das seis, a dúvida em torno da merecida chegada de um protagonista se fazia presente: afinal, quando viria?

Veio em Deus Salve o Rei, escrita pelo estreante Daniel Adjafre e dirigida por Fabrício Mamberti. Porém, ironicamente, não veio de forma “natural”. Renato Góes, que tinha acabado de viver um mocinho em Os Dias Eram Assim (2017), foi o escalado para interpretar Afonso. Entretanto, o ator se desentendeu com o diretor (não concordando com os rumos do personagem) e acabou afastado da produção. As partes envolvidas não negaram o ocorrido, embora tenham amenizado a saída do rapaz. E Rômulo viveria mais um coadjuvante de sua carreira: Tiago, o irmão de Amália (Marina Ruy Barbosa), que acabou ficando com Vinícius Redd. Ou seja, novamente ficaria com um perfil pequeno.

Essa situação acabou fazendo um bem grande ao ator. O príncipe que abdicou do trono de Montemor pelo amor de uma plebeia vem sendo defendido com total competência por Rômulo, que se mostra pronto para o desafio de protagonizar sua primeira novela. Mesmo na pele de um mocinho controverso, cujas atitudes têm despertado mais raiva do que torcida. Afinal, a abdicação do trono por um amor foi bonita de se ver, mas representou uma traição ao seu povo e um egoísmo de sua parte. O ponto positivo foi a humanização do perfil, fugindo do clichê do herói que não comete erros. O negativo, claro, acabou sendo um enredo central difícil de se sustentar sem implicar na hipocrisia de Afonso, principalmente agora que inicia uma retomada de poder. Apesar das falhas do autor no desenvolvimento do personagem, Rômulo se sai bem sempre e sua química com Marina Ruy Barbosa (Amália) também merece menção.

O ator ainda tem convencido nas cenas de emoção, sendo necessário destacar o momento em que Afonso descobriu a morte de sua avó, a rainha Crisélia (Rosamaria Murtinho), logo no início da novela. Ele também comoveu quando Amália terminou tudo com o príncipe, assim como se sobressaiu nos instantes em que ele resolveu largar tudo por amor, mesmo sendo condenado pelo irmão (Rodolfo – Johnny Massaro) e seus súditos. Os atuais embates com Rodolfo são outras situações que destacam o talento do ator, incluindo ainda as cenas de rivalidade com Virgilio (Ricardo Pereira).

Rômulo Estrela merecia essa oportunidade há tempos. Após uma sucessão de coadjuvantes e boas atuações na carreira, o ator finalmente recebeu um mocinho em Deus Salve o Rei. Que esse seja o primeiro de muitos protagonistas que ainda virão. Porque talento ele tem de sobra e já comprovou isso várias vezes.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor