Os bastidores e a grade de estreia da RedeTV!; emissora completa 18 anos

A RedeTV! chega hoje, 15 de novembro, à maioridade. Caçula das TVs abertas do país, a emissora entrou no ar em 1999 com uma grade bastante diferente da que vemos hoje.

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Bastidores

Foram seis meses de espera, do encerramento das atividades da Manchete para a estreia da nova programação. Neste período, intitulada apenas TV!, a rede manteve no ar apenas um telejornal, o Primeira Edição. Nos bastidores, os proprietários Amilcare Dallevo Jr e Marcelo de Carvalho articulavam as primeiras contratações e esboçavam a grade, que buscava formatos consagrados não só nos canais abertos, como nos fechados.

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O diretor de jornalismo Alberico de Souza Cruz, a apresentadora Andréa Faria (Sorvetão) e o humorista João Kléber foram os primeiros contratados do canal. A RedeTV! ainda tentou adquirir o passe de Sérgio Mallandro, então na CNT / Gazeta, e de Luciano Huck e Paulo Henrique Amorim, contratados da Band. Sem sucesso.

Grade de programação

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A primeira atração exibida pela RedeTV! foi o telejornal Brasil TV (7h), gerado de Brasília e com apresentação de Júlio Mosquéra – que logo deixou o canal, integrando-se à equipe da Globo News, e hoje atua como repórter da Globo na capital. A ideia era levar ao público os acontecimentos do dia anterior e os ocorridos durante a madrugada e as primeiras horas da manhã, com ênfase no noticiário político. Na estreia, o então presidente Fernando Henrique Cardoso foi o entrevistado do dia. O título Brasil TV hoje é empregado pela Globo, no telejornal que ocupa o espaço dos jornais locais na transmissão por antenas parabólicas.

Como de praxe na época, a RedeTV! apostou em um infantil logo no início do dia. Para enfrentar Angélica na Globo, Eliana na Record e Jackeline Petkovic no SBT, a emissora escalou Andréa Faria, a Sorvetão, ex-paquita de Xuxa e ex-integrante do elenco de Os Trapalhões. Para o Galera da TV (7h30), foram recrutados nomes de destaque nas atrações da Cultura – como o Castelo Rá-Tim-Bum (1994), que, na ocasião, batiam ponto no SBT: a roteirista Anna Muylaert e o diretor Renato Fernandes. O programa mesclava desenhos animados como Os Smurfs e Snorks – o quadro de bonecos, Zuzubalândia, então alocado na emissora de Silvio Santos – com aventuras de Sorvetão, garçonete de uma lanchonete por onde transitavam crianças, cientistas malucos e até extraterrestres. Tal e qual a Globo fazia nas décadas de 1970 e 1980, na intenção de fidelizar os pequenos de turnos escolares diferentes, a RedeTV! também exibia o ‘Galera’ à tarde (17h).

Às 09h30, Valéria Monteiro – ausente da TV no Brasil desde uma participação na minissérie Incidente em Antares (1994; Globo) – ancorava o A Casa é Sua. Valéria havia sido contratada como correspondente do jornalismo em Nova York. Acabou voltando ao Brasil diante do convite para o ‘Casa’, em meio às dificuldades da emissora de fechar um nome para a atração; a atriz Irene Ravache, recém-saída de Suave Veneno (1999; Globo), chegou a ser cogitada para o posto. Auxiliando Valéria na apresentação, o cantor Marcelo Augusto e o modelo Guilherme Linhares. A Casa é Sua recebeu elogios por conta das pautas que não tratavam a mulher como “piloto de forno e fogão”: a editora Regina Echeverria imprimiu um viés jornalístico às matérias sobre astrologia, culinária, decoração e moda. As gravações transcorriam em um casarão no Morumbi, bairro nobre de São Paulo. Nos anos seguintes, nomes como Castrinho, Clodovil Hernandes, Leonor Corrêa, Meire Nogueira e Monique Evans passaram pela atração, extinta com a estreia do A Tarde é Sua, de Sônia Abrão.

Direto do Rio de Janeiro, Cláudia Barthel e Florestan Fernandes Jr (remanescentes da Manchete) conduziam o RTV (12h). Letícia Levy (também egressa do canal antecessor) apresentava a previsão do tempo; a jornalista migrou, tempos depois, para o Jornal da Band, dividindo a bancada com Marcos Hummel e, posteriormente, Carlos Nascimento. Em 2003, o RTV foi integrado ao TV Esporte (2000); nascia então o TV Esporte Notícias, com Fernando Vannucci e Renata Maranhão.

A faixa TV Série trazia dois clássicos da televisão americana: às 12h45, Jeannie é um gênio (1965), da NBC; às 13h15, A Feiticeira (1964), da ABC. A ideia inicial era contar com outra produção do gênero, também consagrada no exterior e por aqui: a ecológica Flipper (1964), centrada nas aventuras de um viúvo, seus dois filhos e um golfinho. Sem acerto, optou-se pelas histórias da gênia que endoida seu “amo”, um capitão da NASA (Barbara Eden e Larry Hagman) e da feiticeira que se casa com um homem comum (Elizabeth Montgomery e Dick York). As produções fizeram tanto sucesso que a RedeTV! logo as transferiu para a faixa nobre – e exibiu, em 2001 as primeiras temporadas das duas produções, gravadas originalmente em preto-e-branco, colorizadas em computador.

Fernanda Lima estreou na TV numa edição especial do Mochilão MTV, produzida no Havaí. Meses depois, foi contratada pela RedeTV! para apresentar o Interligado (13h45). A parada de videoclipes era toda interativa – ou simulava interação, já que boa parte do conteúdo era pré-gravado, com leituras de e-mail e participações por telefone. Além dos lançamentos musicais, o Interligado apostava em entrevistas e enquetes. No ano seguinte, Fernanda deixou a emissora. Fabiana Saba a substituiu; até 2003, permaneceu à frente da versão “game” do programa, um dos maiores destaques de audiência do canal.

Espécie de Sessão da Tarde, só que com filmes mais antigos, o TV Magia (15h) era exibido de segunda-feira a sábado. Na estreia, o premiadíssimo Kramer vs. Kramer. O longa-metragem de 1979 aborda os conflitos do casal Ted (Dustin Hoffman) e Joanna (Meryl Streep): devotado ao trabalho, ele negligencia o casamento; ela então abandona o lar, mas volta, anos depois, para reivindicar a guarda de Billy (Justin Henry). Maior audiência neste primeiro dia de atividade da RedeTV! (picos de quase 5 pontos), Kramer vs. Kramer conquistou o Oscar de melhor filme, melhor ator (Dustin), melhor atriz coadjuvante (Meryl), melhor diretor (Robert Benton) e melhor roteiro adaptado.

Hoje reduto de subcelebridades, o TV Fama (19h) estreou com uma proposta sofisticada: a de reproduzir na TV aberta o conteúdo do canal fechado E!. Mariana Kupfer era a responsável pelas “cabeças” de matérias sobre arte e cultura e por entrevistas em estúdio. Na estreia, uma minibiografia do craque Pelé e um perfil do cineasta Walter Salles Jr, premiadíssimo pelo icônico Central do Brasil (1998). O projeto não vingou, a princípio; nem mesmo após a reformulação que levou Paulo Bonfá para a bancada. Só em 2001, com o “fofoqueiro” Nelson Rubens na apresentação, é que o TV Fama deslanchou.

Inicialmente proposto para os fins de tarde, o Superpop ganhou o horário mais nobre da grade da RedeTV! (20h). No comando, Adriane Galisteu, alçada ao olimpo das celebridades em 1994, após a morte de seu então namorado, Ayrton Senna. Segura, espontânea e desenvolta, Galisteu fazia sucesso na MTV quando aceitou o chamado da “recém-criada” TV!. O Superpop a credenciou para voos mais altos: o É Show (2000), na Record; e o Charme (2004), no SBT. Neste primeiro momento, o programa – hoje a cargo de Luciana Gimenez – era centrado em números musicais, entrevistas e debates sobre temas polêmicos. Pisaram no palco naquele já longínquo 15 de novembro o cantor Paulo Ricardo – em alta com ‘Sonho Lindo’, tema brasileiro da mexicana A Usurpadora -, o piloto Emerson Fittipaldi e a rainha do rebolado, e dos memes, Gretchen.

Baseada em São Paulo, a RedeTV! reservou para a capital do estado seu principal jornalístico. O Jornal da TV! (21h30), com as notícias do Brasil e do mundo, contava com Augusto Xavier – outro remanescente da Manchete, presente também na fase de transição das emissoras – e Lilian Fernandes na bancada. O noticiário antecedia o boletim TV Economia (22h15), apresentado por Denise Campos de Toledo. O ‘Economia’ se propunha a esclarecer as complicadas transições financeiras das principais bolsas mundo afora de um jeito que o telespectador médio pudesse compreender de que forma suas despesas eram afetadas pelas oscilações de mercado.

Cria da Globo – onde substituiu Chacrinha, adoentado, nas últimas edições do ‘Cassino’ (1988) e ganhou especiais de fim de ano – João Kléber ganhou uma atração para chamar de sua nas noites de segunda-feira. O Te Vi Na TV (22h30), reapresentado nas tardes de sábado (12h45), contava com esquetes, stand up e sátiras de outras atrações televisivas, como o Cassino do Chacrinha. Última atração do dia – a RedeTV! encerrava suas atividades a 0h -, o ‘Te Vi’ era a única produção própria da linha de shows; as noites de terça-feira a sexta-feira eram ocupadas pelo Cine Total, onde o crítico Rubens Ewald Filho resumia a sinopse de dois longas-metragens e o público escolhia, por telefone, aquele que queria ver.

Os horários acima citados constam no boletim de programação enviado pela RedeTV! a jornais e revistas. A grade, no entanto, foi praticamente toda exibida com quase 45 minutos de atraso em relação ao anunciado. Neste primeiro dia de atividade, a audiência da emissora oscilou entre 1 e 2 pontos.


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