A vigésima terceira edição do Melhores do Ano foi ao ar neste domingo (09/12) e nesta premiação sempre há muitas injustiças. Principalmente porque são apenas três indicados por cada categoria, limitando bastante a seleção. Ainda ocorre um claro favorecimento em torno das novelas das nove. Porém, o evento de 2018 já pode ser considerado um dos mais injustos do Domingão do Faustão.

A premiação simplesmente ignorou a existência de Orgulho e Paixão e O Tempo Não Para, duas novelas elogiadas por público e crítica. No caso da trama das 18h, a produção foi um sucesso e obteve ótimos índices de audiência, mesmo recebendo em baixa da fracassada temporada de Malhação. Marcos Berstein estreou com o pé direito em seu primeiro trabalho como autor solo e a história baseada em vários livros de Jane Austen foi a melhor novela de 2018, sem qualquer exagero. Personagens bem construídos, casais apaixonantes, elenco entregue e trilha inspirada.

Mas nenhum ator foi indicado para o Melhores do Ano. E o maior absurdo, sem dúvida, foi a não indicação de Gabriela Duarte como Melhor Atriz Coadjuvante. A atriz deu um banho de interpretação na pele da complexa Julieta e protagonizou inúmeras cenas dramáticas. Sua entrega saltou aos olhos. Não por acaso virou um dos muitos trunfos do folhetim das seis.
E o elenco era tão bem escalado que vários mereciam homenagens. Agatha Moreira (ótima como Ema); Chandelly Braz (surpreendente na pele de Mariana); Alessandra Negrini (hilária como Susana) e Natália do Vale (genial vivendo a demoníaca Lady Margareth) também foram lamentavelmente esquecidas.

Ary Fontoura não ser indicado como Melhor Ator Coadjuvante pelo seu carismático Barão de Ouro Verde foi outro absurdo, assim como Rodrigo Simas (Ernesto) pelo íntegro Ernesto. Pedro Henrique Muller ignorado como Revelação também merece crítica. O ator emocionou na pele do Capitão Otávio e o romance com Luccino (Juliano Laham) conquistou o público. E a já mencionada O Tempo Não Para foi outra injustiçada. A trama de Mário Teixeira perdeu o fôlego, é verdade, mas ainda é uma novela gostosa de assistir e não ter sido representada em nenhuma categoria despertou indignação. Por que Edson Celulari não foi indicado como Melhor Ator por Dom Sabino? O personagem é um dos melhores de sua carreira. Juliana Paiva, bem demais como Marocas, é outra ausência sentida, assim como Christiane Torloni como Carmem e Maria Eduarda de Carvalho na pele de Miss Celine. Tudo bem que são poucas vagas, mas ao menos um desses nomes merecia indicação.

O pior é que a injustiça se fez presente até entre as novelas indicadas. Na categoria Melhor Ator, Emílio Dantas, Vladimir Brichta e Sérgio Guizé foram os escolhidos. Emílio e Vladimir são ótimos e convenceram como Beto Falcão e Remy, apesar de todos os erros da trama de João Emanuel Carneiro. Porém, Remy era coadjuvante. Portanto, Vladimir não poderia estar como ator principal. E Sérgio esteve muito bem na pele do agressivo Gael em O Outro Lado do Paraíso e mereceu o troféu de vencedor, mas como puderam esquecer de Thiago Fragoso? O ator roubou a cena e o íntegro Patrick fez um grande sucesso na história de Walcyr Carrasco. A categoria de Melhor Atriz foi outra que chamou atenção negativamente. Giovanna Antonelli é talentosa, mas sua indicação pela Luzia de Segundo Sol foi estapafúrdia. A mocinha foi uma das piores do horário nobre e nem proporcionou grandes cenas para a intérprete, que ficou apagada praticamente a novela toda. Ignorar o show de Marieta Severo na pele da vilã Sophia em O Outro Lado do Paraíso foi um erro grave. E Adriana Esteves também merecia estar na categoria pelo seu desempenho como Laureta em Segundo Sol. Já Bianca Bin, ótima como Clara em O Outro Lado do Paraíso – um divisor de águas na sua carreira -, e Deborah Secco, que convenceu como Karola em Segundo Sol, foram seleções justas. Mas a vitória de Giovanna foi lamentável e só se deu pelo seu imenso fã-clube que sempre vota incessantemente, independente do que ela faça. A personagem pode até ser uma figurante que só diz “boa tarde” que ganha.

Atriz Coadjuvante contou com Letícia Colin, por Rosa em Segundo Sol, Giovanna Lancellotti, por Rochelle em Segundo Sol, e Tatá Werneck, por Lucrécia em Deus Salve o Rei. As três são talentosas e se destacaram. Mas, como já mencionado, a ausência de várias intérpretes de Orgulho e Paixão é inadmissível. Ao menos Letícia Colin levou, compensando a derrota ano passado pela Leopoldina em Novo Mundo. Ator Coadjuvante teve Chay Suede, por Ícaro em Segundo Sol, Fabrício Boliveira, por Roberval em Segundo Sol, e Juliano Cazarré, por Mariano em O Outro Lado do Paraíso. Chay (o justo vencedor) e Fabrício foram merecedores, mas Juliano teve apenas um desempenho correto. Os atores citados anteriormente de Orgulho e Paixão mereciam a lembrança, além de Lima Duarte, por Josafá em O Outro Lado do Paraíso. A categoria Ator Revelação teve Luis Lobianco (Clóvis em Segundo Sol), Narcival Rubens (Galdino em Segundo Sol) e Anderson Tomazini (Xodó em O Outro Lado do Paraíso). Os três se saíram realmente bem, mas inconcebível Pedro Henrique Muller ter sido ignorado. Ele, aliás, merecia o troféu. Mas Lobianco levou.

Atriz Revelação foi uma das poucas categorias que primou pela justiça. Kelzy Ecard e Claudia Di Moura foram gratas revelações de Segundo Sol e brilharam como as subservientes Nice e Zefa, enquanto Bella Piero (embora já tenha participado de Verdades Secretas) deu um verdadeiro show de entrega cênica em O Outro Lado do Paraíso na pele da sofrida Laura, abusada na infância pelo padrasto. Qualquer vencedora seria merecedora e Bella levou – seu discurso em defesa das mulheres, por sinal, arrepiou. Porém, em Ator/Atriz Mirim a injustiça voltou a predominar. Mel Maia já está até namorando e segue indicada na categoria. Aliás, ela sempre está indicada, mesmo em papéis bem pequenos. Como foi o caso de Agnes em Deus Salve o Rei. Mel convenceu, mas não chegou a se destacar. Já Vitor Figueiredo não brilhou como Thomaz em O Outro Lado do Paraíso. O menino ficou devendo nas cenas dramáticas. O único realmente merecedor da indicação foi Davi Queiroz pelo fofo Badu em Segundo Sol e ao menos venceu. A trama de João Emanuel, por sinal, teve uma overdose de categorias, mas esqueceram do carismático Thales Miranda, que viveu o Ícaro na primeira fase da trama. Também ignoraram Raphaella Alvitos e Natthalia Gonçalves, que estão ótimas vivendo Kiki e Nico em O Tempo Não Para.

Melhor Ator e Atriz de Série foram categorias que também pecaram pela injustiça, apesar dos bons vencedores. Alexandre Nero ganhou, assim como Patrícia Pillar. Os dois deram um banho de atuação e entrega em Onde Nascem os Fortes. Todavia, Lázaro Ramos e Taís Araújo em Mister Brau não mereciam a indicação, com todo respeito, no lugar de Júlio Andrade e Marjorie Estiano em Sob Pressão. E Jesuíta Barbosa e Fábio Assunção também mereciam menção pelo destaque em Onde Nascem os Fortes. Já a indicação de Alice Wegmann e Rodrigo Lombardi, por Onde Nascem os Fortes e Carcereiros foi merecida.

A categoria Personagem do Ano é a mais recente da premiação e foi criada para valorizar os atores mais experientes. Por isso mesmo não dá para entender Adriana Esteves indicada pela Laureta. Ela deveria ter ido para Melhor Atriz, liberando essa vaga para a maravilhosa Laura Cardoso, que foi um dos trunfos de O Outro Lado do Paraíso. A cafetina Caetana fez tanto sucesso que o autor adiou sua morte até o último capítulo. Ao menos a grandiosa Fernanda Montenegro foi indicada pelo seu irretocável desempenho como a vidente Mercedes na mesma novela. Marieta Severo foi outra citada para compensar a absurda ausência como Melhor Atriz. Ao menos as três ganharam e não teve votação popular. Fizeram bem em alterar essa regra. Vale citar, ainda, o discurso impactante de Fernandona defendendo a classe artística e deixando claro que os atores não são corruptos. Aplaudida de pé.

Já as demais categorias nem merecem maior análise, pois sempre apresentam os mesmos concorrentes, com raras exceções. Ivete Sangalo (que música ela lançou em 2018?), Anitta (a vencedora) e Iza concorreram como Melhor Cantora; Renata Vasconcellos, William Bonner e Sandra Annenberg – a vencedora – foram os selecionados em Jornalismo (cadê Renata Lo Prette pelo desempenho nas eleições e no Jornal da Globo?); e Welder Rodrigues, Eduardo Sterblitch (o vencedor) e Marrcelo Adnet em Comédia. Gustavo Lima, Luan Santana (vencedor) e Ferrugem como Melhor Cantor e Meu Abrigo (Melim), Largado às Traças (Zé Neto e Cristiano) – a vencedora – e O Sol (Vitor Klei) como Música do Ano completam as indicações restantes.

O Melhores do Ano apresentou mais uma edição cheia de estrelas, mas as injustiças desse ano ficaram bem mais evidentes. Orgulho e Paixão e O Tempo Não Para não mereciam tamanho descaso.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor