“Amar, odiar, perdoar. Até onde vai a sua força?”. A pergunta sempre presente nas chamadas de Onde Nascem os Fortes já deixava clara a intenção da nova trama das onze da Globo: provocar o público através de uma premissa irresistível. Afinal, o ser humano é repleto de camadas muitas vezes difíceis de decifrar, principalmente diante de adversidades. A história que começa a ser contada explora a saga da corajosa Maria (Alice Wegmann), que não mede esforços para encontrar seu irmão gêmeo, o provocador Nonato (Marco Pigossi). E o primeiro capítulo conseguiu apresentar essa intenção com louvor.

George Moura e Sérgio Goldenberg são autores que já viraram “experts” na faixa das 23h. Responsáveis pelas irretocáveis O Canto da Sereia (2013), Amores Roubados (2014) e O Rebu (2014), os dois sabem aproveitar toda a liberdade do horário mais tardio e a dupla ainda segue com a competente direção de José Luiz Villamarim e fotografia de Walter Carvalho, outros profissionais que também fizeram parte das produções mencionadas. Tendo como base o “currículo recente” deles, portanto, a chance da atual trama ser ótima é bastante alta.

Gravada no sertão da Paraíba, a “supersérie” tem o sertão como um dos seus alicerces. Segundo os escritores, é o protagonista do enredo que contracena sem ser filmado. E pela primeira vez a Globo exibirá uma novela (embora insista em não chamar mais assim na faixa das onze) já quase finalizada. Ou seja, não haverá mudança alguma na condução da história mesmo que porventura o telespectador a rejeite. Isso é ótimo, principalmente diante de alguns casos recentes onde todas as alterações feitas para agradar o público acabaram prejudicando os folhetins (vide A Lei do Amor e agora Deus Salve o Rei). Mas também não deixa de ser um voto de confiança na qualidade da trama.

A estreia primou pela força da ambientação (é possível sentir o “poder” do sertão nas atitudes de cada pessoa) e apresentou os perfis centrais de forma cautelosa, sem pressa. Porém, o ritmo não foi nada arrastado. Se prender ao enredo é bastante fácil. A fragilidade da jovem Aurora (Lara Tremouroux) – vítima de Lúpus – serviu como elemento humanizador do poderoso Pedro Gouveia (Alexandre Nero) e da religiosa Rosinete (Débora Bloch), que cuidam da filha com o maior cuidado. O amor de ambos pela filha ficou evidente, assim como a conturbada relação do casal. Já a cumplicidade entre Maria e Nonato pôde ser vista nos poucos momentos que tiveram juntos. Os irmãos foram ao Sertão (fictícia cidade do enredo) conhecer novas trilhas, mesmo contra a vontade da mãe, a engenheira química Cássia (Patrícia Pillar). A mocinha, inclusive, quase foi violentada por dois motoqueiros na estrada, até ser salva por Hermano (Gabriel Leone), o outro filho de Pedro e Rosinete.

A protagonista logo se sentiu atraída pelo rapaz, sendo correspondida. Enquanto os dois se aproximavam cada vez mais, Nonato se envolvia em uma briga com Pedro, após ter flertado com Joana (Maeve Jinkings), amante do dono da maior empresa da região que explora bentonita. O jeito provocador e encrenqueiro do irmão de Maria transpareceu logo no início, assim como o poder que Pedro tem na região. O empresário não aguentou as provocações e partiu para cima do jovem, que não se intimidou em nenhum momento. Nem mesmo quando foi espancado por capangas de Pedro, desafiando o “rival”, sem medo de morrer. O personagem não sumiu (ou morreu) na estreia, mas o mote do roteiro foi exposto com habilidade, assim como a potência que esse fato terá nos futuros desdobramentos. Destaque para a frase do juiz Ramiro (Fábio Assunção) encerrando o primeiro capítulo: “Todos os dias são do caçador”.

O começo dessa instigante história serviu para constatar a entrega do bem escalado elenco e a força dos personagens principais. Alice Wegmann tem tudo para viver seu melhor momento na carreira, enquanto Alexandre Nero, Patrícia Pillar, Débora Bloch, Fábio Assunção e Gabriel Leone prometem se destacar em todos os capítulos.

Outro excelente nome é o de Jesuíta Barbosa, que impressionou com sua performance na pele de Shakira do Sertão, durante um show no bar onde Maria e Nonato foram se divertir. Seu trabalho corporal está primoroso. Vale lembrar que esse perfil é o filho do violento Ramiro, que não desconfia da profissão noturna de Ramirinho.

Onde Nascem os Fortes teve uma estreia das mais promissoras. George Moura e Sérgio Goldenberg – que agora encaram um enredo inédito, após três ótimas adaptações juntos – apresentaram uma história instigante, repleta de elementos bem amarrados e conflitos que têm tudo para honrar a faixa das 23h. Que assim seja!


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor