Onde Nascem Os Fortes é um empolgante suspense sertanejo

28/04/2018 às 10h00

Por: Thallys Bruno
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A faixa de novelas das 23h ganhou um novo nome em 2017. Segundo a Globo, as “superséries” foram assim batizadas em virtude de sua maior liberdade artística, buscando mesclar elementos das novelas e das séries. No entanto, Os Dias Eram Assim, exibida no ano passado, não fez por merecer este título e nem aproveitou todas as possibilidades do horário tardio, perdida em um enredo raso, maniqueísta e excessivamente longo. Agora, a impressão é contrária: Onde Nascem Os Fortes, dos autores George Moura e Sérgio Goldenberg, logo em seus primeiros capítulos demonstra boas doses de adrenalina, suspense e perigo.

Como na microssérie Amores Roubados (2014), grande sucesso da dupla, o sertão nordestino volta à cena em sua faceta mais próspera. Em meio ao minério de bentonita da fictícia Sertão, que, segundo os roteiristas, pode se passar em qualquer parte do Nordeste brasileiro, se prossegue a saga de Maria (Alice Wegmann) e sua forte ligação com Nonato (Marco Pigossi, em participação no primeiro capítulo). O mulherengo e problemático rapaz se envolveu em uma forte briga com o empresário Pedro Gouveia (Alexandre Nero), após se aproximar de sua amante Joana (Maeve Jinkings), e desapareceu, causando a aflição da gêmea e de sua mãe (Cássia, vivida por Patrícia Pillar).

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Enquanto Nonato se envolvia na confusão, Maria conheceu Hermano (Gabriel Leone) na estrada, após se envolver em uma briga com dois sujeitos que a assediaram. A sintonia entre os dois foi mútua e logo evoluiu para um romance, que terá como principal ponto de conflito o fato de o rapaz ser filho de Pedro, a quem a garota acusa de ser responsável pelo sumiço do irmão.

O empresário ainda precisa lidar com o sofrimento da filha Aurora (Lara Tremouroux), que sofre de lúpus e precisa de cuidados constantes – quase sempre esta responsabilidade fica para a mãe, Rosinete (Débora Bloch); e a rivalidade com o corrupto juiz Ramiro (Fábio Assunção), que tem por costume dar cabo de seus inimigos e vive em confronto com o filho Ramirinho (Jesuíta Barbosa), que não quer seguir o mesmo destino do pai – e, sem que ele saiba, apresenta-se em boates da região como Shakira do Sertão.

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Unindo diferentes e complexos tipos, os autores trabalham a ideia da força através do contraponto entre o coronelismo dos poderosos, ainda muito comum no interior do Nordeste, a garra das mulheres da trama e os desatinos dos mais jovens, indispostos a repetir a trajetória dos pais. A ideia da força, ironicamente, também se expressa pela escolha do tema de abertura, Todo Homem, interpretado por Caetano Veloso e seus filhos, funcionando como um curioso contraponto.

E os primeiros capítulos trouxeram uma forma peculiar de apresentar os personagens, apostando em momentos de anticlímax. Como exemplo, o primeiro momento mais quente entre Maria e Hermano não apostou no envolvimento em si, mas trouxe uma quebra de clima através de uma mensagem de Nonato. Sem romper totalmente com o gênero folhetim, mas buscando dar um novo tratamento, os autores têm uma condução ousada pela frente, contando com o auxílio luxuoso de seus parceiros de longa data: José Luiz Villamarim (diretor artístico) e Walter Carvalho (diretor de fotografia).

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O poder de fogo do elenco se viu logo nas primeiras cenas: Alexandre Nero, acostumado a personagens dúbios, dribla possíveis preocupações imprimindo boas doses de cinismo a seu Pedro Gouveia. Débora Bloch, sempre grandiosa, emocionou logo em seu primeiro grande momento, ao cuidar dos ferimentos da filha e discutir com Pedro sobre esta responsabilidade. Marco Pigossi, embora tenha participado apenas do primeiro capítulo, fez uma irrepreensível aparição como Nonato, ainda mais marrento que o Zeca, seu personagem de A Força do Querer. Ainda merecem destaque os sempre excelentes Patrícia Pillar (em sua terceira participação ao lado dos autores), Fábio Assunção, Irandhir Santos, Maeve Jinkings, Gabriel Leone e Enrique Diaz.

Ainda assim, dois nomes devem ser apontados como os grandes trunfos da história: Alice Wegmann (Maria) e Jesuíta Barbosa (Ramirinho). A primeira tem nas mãos o que pode ser o maior papel de sua carreira e já mostrou uma entrega impressionante para sua Maria, uma mulher forte, complexa e movida pela sede de justiça. O segundo, por sua vez, fez uma arrebatadora entrada interpretando Como Uma Deusa, clássico de Rosana Fiengo (da novela Mandala) e o conflito entre seu alter-ego e os anseios do pai corrupto tem tudo para empolgar.

Onde Nascem os Fortes é o primeiro texto inédito de George Moura e Sérgio Goldenberg para a faixa das 23h. Autores das elogiadas e primorosas séries O Canto da Sereia (2013) e Amores Roubados (2014), Moura e Goldenberg já haviam feito antes o remake de O Rebu (1974), ousada trama de Bráulio Pedroso. No entanto, apesar da grandiosa produção e impecáveis interpretações, “Rebu” decepcionou por seu enredo principal confuso, onde as peças do quebra-cabeça proposto originalmente por Pedroso nem sempre se encaixavam.

Agora, no entanto, os autores mostram que estão dispostos a levar um empolgante suspense temperado com doses de romance e muita adrenalina. Com a obra quase que totalmente finalizada e prevista para durar 53 capítulos (ante os longuíssimos 88 de Os Dias Eram Assim), há muito mais possibilidades de explorar um enredo mais coeso e sintonizado com a liberdade artística oferecida pela faixa das 23h. Onde Nascem os Fortes vem fazendo bonito em sua reta inicial – e a torcida é que mantenha esta excelência ao longo da trajetória.


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