Sob o comando do saudoso diretor Jorge Fernando, a equipe de Êta Mundo Bom! começou os trabalhos de gravações por três cidades do interior do estado do Rio de Janeiro – Paty do Alferes, Vassouras e Teresópolis – e depois seguiu para São Paulo. Ao todo foram três semanas de gravação nesses locais.

Em Paty do Alferes e Teresópolis, as gravações aconteceram em fazendas. Para as cenas em Vassouras, o cenário utilizado foi o centro histórico.

Em São Paulo, foram muitas as locações, a maioria em lugares emblemáticos da cidade e que ainda representam uma São Paulo dos anos 1940, como o Viaduto Santa Ifigênia, Estação da Luz, Parque da Luz, Palácio dos Cedros, Teatro Municipal, Pátio do Colégio, Museu da Imigração, entre outros.

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Cerca de 100 pessoas estiveram envolvidas nas viagens, sem contar a média de 60 figurantes por dia nas gravações em São Paulo.

A equipe de figurino também teve bastante trabalho. Foram transportadas para as viagens 18 araras de roupas, e, para cada, acompanhavam três caixas com acessórios, como chapéus, luvas, sapatos e bijuterias. Tudo isso para vestir o elenco e figurantes.

Os protagonistas, Sergio Guizé e Débora Nascimento, e os antagonistas, Eriberto Leão e Flávia Alessandra, participaram das primeiras gravações, além de outros nomes do elenco. Guizé teve a companhia de um colega mais que especial, o burro Juca, que “interpretou” Policarpo, o amigo fiel e inseparável de Candinho.

Cenografia e produção de arte: fidelidade e riqueza de detalhes

Após as externas no interior do Rio e em São Paulo, quase todas as gravações de Êta Mundo Bom! concentraram-se nos estúdios da Globo, no Rio de Janeiro.

Essa opção exigiu um trabalho intenso para os cenógrafos José Claudio e Eliane Heringer: criar uma enorme cidade cenográfica da Grande São Paulo.

Em uma área de aproximadamente 11.000m² foram reproduzidos o centro da cidade, a área residencial – que abriga duas mansões, a de Anastácia (Eliane Giardini) e a do advogado Araújo (Flávio Tolezani), além da casa de Pancrácio (Marco Nanini) – e os interiores de cenários importantes na trama, como a loja de tecidos de Severo (Tarcísio Filho), a boutique de Emma (Maria Zilda Bethlem), a confeitaria e o restaurante onde alguns personagens se encontram.

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“Pesquisamos muito a arquitetura de São Paulo dos anos 1940. Usamos diversas referências de prédios e casarões do centro da cidade. São Paulo tem uma grandiosidade que é difícil dimensionar, algo encantador e opressor ao mesmo tempo. Então procuramos imprimir essa escala da cidade, que nos anos 1940, período pós-guerra, com a imigração chegando em massa, tinha uma circulação muito grande de pessoas e muito espaço sendo preenchido”, explica o cenógrafo José Claudio.

Além da Cidade Cenográfica de São Paulo, foi construída na Globo a sede da fazenda Dom Pedro II, onde vive a família de Cunegundes (Elizabeth Savalla) e Quinzinho (Ary Fontoura).

A propriedade é retratada nos anos 1920, quando Candinho (Sergio Guizé) é acolhido, e nos anos 1940, após a passagem de tempo. Sem passar por reformas por muitos anos, devido à crise financeira da família, a fazenda foi se deteriorando, o que demandou novos esforços da equipe de cenografia.

“Para mostrar essa deterioração, fizemos os telhados empenados, as paredes desgastadas, o reboco caindo um pouco”, conta a cenógrafa Eliane Heringer.

O estilo da fazenda é típico do século XIX, com várias janelas iguais, piso em madeira e varandas com gradeado de metal e piso de ladrilho hidráulico. “Na trama, Dom Pedro II esteve na fazenda, então é um lugar que tem história. As fazendas do período do café eram muito horizontais e neoclássicas, nos baseamos nesse conceito”, ressalta Eliane.

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O processo de criação do interior das casas e comércios também exigiu bastante tempo de pesquisa para os cenógrafos. “Nos baseamos em fotos de família, porque o interior das construções que ainda existem hoje está muito modificado. Nas casas ricas se usava muito mármore, papel de parede e molduras. Nas casas simples também existiam cuidados com a decoração, mas os espaços eram menores e compartimentados”, descreve José Claudio. Um exemplo desse tipo de decoração é a pensão de Camélia (Ana Lúcia Torre), que tem diversos cômodos pequenos, sala de refeição e costura.

Além das duas cidades cenográficas e dos interiores das casas, a dupla também precisou reproduzir uma estação de rádio da época, já que na trama existe a radionovela “Herança de Ódio”, que muitos personagens acompanham diariamente.

“Pensamos na sonoplastia para imaginar os ambientes. Existe um aquário onde ficam os sonoplastas e a parte em que os atores falam em microfones suspensos e de mesa. E temos todos os equipamentos para fazer os sons de relâmpago, de água e de portas abrindo e fechando, por exemplo. São muitos detalhes, mas está tudo bem fiel à época, estamos muito satisfeitos”, enaltecem os cenógrafos.

Dar vivência a todo esse intenso trabalho da equipe de cenografia foi uma experiência e tanto para a produtora de arte Isabela Sá, que tem várias novelas de época no currículo.

“Em muitos anos de carreira, estou fazendo coisas novas, como a rádio e a fábrica do sabonete que patrocina a radionovela. Já produzimos 2.000 sabonetes em diversos formatos e cores”, conta a produtora, que se inspirou em sabonetes franceses, italianos e portugueses. “Sabonete, na época, era um artigo de luxo. Eles geralmente tinham desenhos de frutas e flores e eram perfumadíssimos”, conta. A logomarca da fábrica, que se chama “Aroma”, as embalagens dos produtos – a maioria das caixas é forrada de pano com estampas – e até outdoor da marca também estão sendo desenvolvidos pela equipe de Isabela Sá.

A placa dos veículos, o dinheiro, louças, lençóis e utensílios também foram criados pela produção de arte. “O que não conseguimos comprar em feiras e antiquários, produzimos. Nos preocupamos muito com o cenário das cozinhas porque são bem diferentes, principalmente entre as mansões e a fazenda. Na casa dos ricos, eu posso usar panela de cobre, mas não posso usar barro e ferro, por exemplo. Procuramos dar destaque aos objetos e mostrar para o telespectador a realidade daquele núcleo dentro da novela”, explica Isabela. A classe social dos personagens também é representada pelo aparelho de rádio que cada família tem em casa. A equipe comprou aparelhos bem diversificados em feiras de antiguidades.

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A produção de arte criou revistas semelhantes às que existiam na década de 1940 para montar as bancas de jornais, além de carrinhos de flores e de frutas que eram muito comuns em São Paulo.

O carrinho de pipoca de Candinho (Sergio Guizé) e Pirulito (JP Rufino) e até a cadeira de rodas de Claudio (Xande Valois) também foram confeccionados pela equipe.

Já para o Taxi Dancing, um dos cenários mais presentes na novela, a produção de arte precisou adquirir todos os instrumentos da orquestra, e também pensar nos mínimos detalhes. “É um lugar quente, que transborda sedução, então sempre terá uma flor nas mesas. Temos que lançar mão de muitos artifícios para dar vida aos cenários de forma que fique bonito e real ao mesmo tempo”, ressalta Isabela.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor