Onde Está Meu Coração alerta que a droga também adoece a família do dependente químico
27/05/2021 às 14h00
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Com 10 episódios, a série Onde Está Meu Coração entrega mais do que a história da moça que se afunda no crack. Muito além da abordagem à dependência química e à luta para deixar o vício, a série não poupa o público do sofrimento causado à família do dependente químico. A droga adoece a família por extensão.
É angustiante assistir às crises de Amanda, personagem de Letícia Colin, afundada no crack, nas cenas gravadas entre viciados reais na Cracolândia de São Paulo. Contudo, é igualmente angustiante a dor da família da personagem – o pai Davi (Fábio Assunção) e a mãe Sofia (Mariana Lima), principalmente. As interpretações do trio de atores principais são soberbas, emocionantes, contundentes, dilacerantes.
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A direção de Luísa Lima, a fotografia, a cenografia e a trilha sonora chamam a atenção. Também a incrível caracterização de Letícia Colin – maltrapilha, suja, cheia de manchas na pele – quando Amanda passa a viver na Cracolância. As cidades de São Paulo e Santos são quase personagens. Só estranha a narrativa ignorar a distância entre uma e outra quando os pais precisam se locomover para procurar a filha – ficou parecendo que Santos é um bairro de São Paulo.
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Onde Está Meu Coração foi apresentada ao público na CCXP (Comic Com Experience), em São Paulo, em 2019, com a promessa de lançamento para 2020. A pandemia de Covid-19 alterou essa agenda. Em maio de 2021, finalmente chegou ao Globoplay. Estive no evento, lá em 2019, e conversei com autores, diretora e parte do elenco.
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A série é escrita pela dupla George Moura e Sérgio Goldemberg (de Onde Nascem os Fortes, Amores Roubados, O Canto da Sereia), com direção de Luísa Lima e supervisão de José Luiz Villamarim.
“É uma abordagem de investigação, sem julgamentos. Não de respostas, mas de perguntas“, me disse George Moura. “Esta é sobretudo uma série que fala das relações familiares. De quando uma pessoa da família adoece, todos em volta também adoecem. Um desafio não só para o dependente, mas também para as outras pessoas“, complementou o autor.
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Questionado do porquê do título, George Moura explicou: “Eu acho que a dependência química tem a ver com o buraco existencial que todos nós temos. E tentamos dar conta dele de muitas maneiras: filhos, mulheres, homens, trabalho, droga, bebida. Acho que se você consegue saber aonde está seu coração, as coisas ficam mais possíveis de serem menos atormentadas em sua existência. Não é onde o seu coração está [fisicamente]. E não é uma pergunta, não tem a interrogação. Onde o seu coração estiver, vai nele que vai dar certo!“.
Foram três meses de filmagens na capital paulista e em Santos, no litoral, a maioria feitas em locações externas, fora dos estúdios. Luísa Lima narrou um momento emocionante das gravações com Letícia Colin na Cracolândia:
“Fomos para a Estação da Luz, na região próxima da Cracolândia. Era um momento da história em que a personagem pisou mais fundo e foi para a rua usar crack, pedir dinheiro para conseguir comprar mais pedras. Para essa cena, fizemos [ao estilo] documental, saímos com a câmera e falamos: Leticia, vai! Tínhamos alguns figurantes espalhados, mas com toda a movimentação real da rua. Ficamos de longe e as pessoas não sentiram a presença da câmera. Letícia foi falando com figurantes, mas também com usuários reais. E essas pessoas não reconheceram ela.
Teve um momento muito bonito que conseguimos trazer para a série, quando um grupo de quatro pessoas começaram a conversar com ela e perguntaram: você é usuária de drogas? Ela falou que era, mas estava tentando largar. Letícia se emocionou e eles deram dinheiro para ela. Ficamos chocados: não é possível, eles não estão vendo que é ela. Quando terminou, perguntamos se eles aceitavam assinar o termo de autorização de imagem e eles aceitaram“.