Deus Salve o Rei está em sua reta final e a novela do estreante Daniel Adjafre foi uma ousadia da Globo. Isso porque a emissora resolveu apostar em uma trama medieval em pleno horário das sete, após anos apresentando enredos contemporâneos na faixa. A novela passou longe do fracasso, mas teve seus problemas de percurso. Agora, então, a ideia é mesclar o passado com o presente através de um enredo que pode resultar em algo bizarro ou genial. O Tempo Não Para trará de volta o humor ao horário utilizando uma licença poética e tanto: uma família de 1886 é descongelada em 2018, precisando lidar com os novos costumes da sociedade. Pareceu absurdo? Realmente é.

O intuito de Mário Teixeira, autor da obra, consiste em aproveitar uma das situações mais conhecidas do filme Capitão América em um folhetim leve e cômico. Afinal, o herói Steve Rogers foi congelado em 1941 e descongelado em 2012, precisando encarar a dor da perda de todos os seus conhecidos e do maior amor de sua vida. É, sem dúvida, a referência mais conhecida que o público terá a respeito do enredo da novela. Agora, no entanto, a situação não será tão traumática para os envolvidos, pois a família inteira acabará congelada, incluindo os escravos e até o cachorro. O contexto é bastante ousado para a teledramaturgia e o escritor merece elogios ao menos pela coragem em desenvolver algo assim.

O primeiro capítulo será exclusivamente para apresentar o núcleo principal em 1886. A família Sabino Machado – moradora de São Paulo e detentora de extensas terras para exploração de ouro, minérios e investimentos em telefonia – embarca em um dos navios mais seguros da época, o Albatroz, a caminho da Europa. Dom Sabino (Edson Celulari) , um fiel súdito da monarquia que sonha com o título da nobreza, planeja a viagem para conhecer o estaleiro que comprou na Inglaterra. E também manter longe do falatório da cidade a filha, Marocas (Juliana Paiva), que havia acabado de recusar um casamento no altar. A viagem tem um desvio de rota para uma rápida visita à Patagônia. É justamente aí que o navio se choca em um iceberg.

O Albatroz naufraga e, devido à baixa temperatura da água, grande parte dos passageiros acaba congelando. Ou seja, o enredo se inicia de fato após essa tragédia. Praticamente uma continuação surreal do final de Titanic, digamos assim. São 13 pessoas congeladas: a família Sabino Machado, composta por Dom Sabino, Marocas, Dona Agustina (Rosi Campos) e as gêmeas Kiki (Nathália Rodrigues) e Nico (Raphaela Alvitos), além dos escravos Damásia (Aline Dias), Cairu (Cris Viana), Cesária (Olívia Araújo), Menelau (David Júnior) e Cecílio (Maicon Rodrigues). Também são vítimas do congelamento o guarda-livros Teófilo (Kiko Mascarenhas), a preceptora Miss Celina (Maria Eduarda de Carvalho) e o jovem Bento (Bruno Montaleone). O cachorro fox terrier Pirata completa o time.

O segundo capítulo mostrará a consequência desse contexto nonsense. Um imenso bloco de gelo se aproxima da praia do Guarujá, em São Paulo, 132 anos depois. O surfista e empresário Samuca (Nicolas Prattes) – mocinho engajado em causas sociais, humanista e dono da holding San Vita e da fundação Vita, focada em reciclagem – é o primeiro a avistar o monumento assustador.

O filho de Carmen (Christiane Torloni) fica impressionado e fascinado pelo rosto de Marocas, emoldurado pelo gelo translúcido. Uma fissura ameaça partir o bloco e o rapaz se agarra no pedaço de iceberg em que a mocinha está com o intuito de salvá-la. Os dois são arrastados pela correnteza até a fictícia Ilha Vermelha. Já os demais são levados para a Criotec, laboratório especializado em criogenia – estudo de baixas temperaturas. A chegada desse iceberg gera uma comoção nacional e aos poucos cada um dos congelados despertará à sua maneira. Todos terão que enfrentar as realidades do século XXI, precisando lidar com todas as mudanças da sociedade.

Cleo Pires é a vilã na novela. A atriz interpreta Betina, noiva de Samuel e uma das sócias da SamVita, que não aceitará perdê-lo para Marocas e terá sempre a ajuda do fiel escudeiro Emílio (João Baldasserini). Uma surpresa no elenco é Adriane Galisteu, que deixa a função de apresentadora e retorna aos folhetins após 22 anos – sua única novela foi Xica da Silva, em 1996. Ela vive Zelda, uma estilista fracassada que rouba os desenhos de Marocas, fazendo sucesso com os vestidos criados pela menina, idealizados de acordo com a época da mocinha.

Já Christiane Torloni forma um triângulo amoroso com Edson Celulari e Rosi Campos, enquanto Carol Castro interpreta a tenente-coronel da marinha Waleska, mulher disciplinada e autoritária que se envolve com Elmo (Felipe Simas). Como o rapaz não tem uma profissão, a oficial – filha da ambiciosa Coronela (Solange Couto), dona da pensão frequentada por boa parte dos personagens – sentirá vergonha desse romance. Eva Wilma, Milton Gonçalves, Rafaela Mandelli (de volta à Globo após onze anos na Record), Lucy Ramos, Luiz Fernando Guimarães, Alexandra Richter, Marcos Pasquim, Bia Montez, Cyria Coentro, Juliana Alves, Talita Younan e Carol Macedo são mais alguns nomes escalados.

O Tempo Não Para, dirigida por Leonardo Nogueira, tem uma premissa ousada e resta aguardar o resultado dessa proposta no ar. A chance de resultar em uma novela cômica e gostosa de se acompanhar é considerável, mas os riscos de se transformar em um besteirol repleto de bizarrices também existem. Que venha o primeiro capítulo.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor