O sucesso de Xica da Silva e sua importância na teledramaturgia

17/09/2020 às 4h49

Por: Sergio Santos
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Exibida entre 17 setembro de 1996 (portanto estreava há 24 anos), e 11 agosto de 1997, “Xica da Silva” foi um imenso sucesso da extinta Rede Manchete e se transformou em um marco na história da teledramaturgia. Escrita por Walcyr Carrasco (na época com o pseudônimo de Adamo Angel) e dirigida pelo saudoso Walter Avancini, a novela teve 231 capítulos e foi baseada em fatos reais, assim como o filme dirigido por Cacá Diegues em 1976, de mesmo título —– a história, vale ressaltar, ainda foi contada em livro (“Chica que manda”), que foi a base do folhetim.

A vida da escrava que virou rainha em pleno século XVIII foi transformada em um ótimo folhetim e fez de Taís Araújo (em sua segunda novela) a primeira protagonista negra da televisão brasileira. A trama —- que mesclou com competência situações fictícias e fatos reais —- era repleta de cenas pesadas, onde a nudez e a violência se faziam presentes em vários momentos. Hoje em dia, por exemplo, em meio a tantas restrições e censura disfarçada de ‘Classificação Indicativa’, a produção só poderia ser exibida depois das 23h.

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Inteligente, atrevida e convencida, Xica conseguiu dar a volta por cima, após muitas humilhações, se casando com um marido rico, para o choque de toda a sociedade. Tudo começa quando o homem mais poderoso da época —– o comendador Felisberto Caldeira D’Abrantes (Reynaldo Gonzaga), responsável pelo manejo das minas de diamantes —– resolve vender a sua filha, Xica, a um bordel. A garota se vinga roubando toda a fortuna em diamantes do ‘pai’ (ele sempre a renegou) guardada em um baú.

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O plano é realizado junto com o negro Quiloa (Maurício Gonçalves), que sempre foi apaixonado por ela. Os dois escondem o tesouro debaixo da terra (para a futura compra de suas cartas de alforria) e arruínam os seus senhores, que acabam enviados à prisão em Portugal. A escrava se vinga do pai, o condenando à miséria.

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Depois desta virada, Xica é vendida junto com sua mãe para o Sargento Tomaz Cabral (Carlos Alberto) e Quiloa foge para um quilombo. A escrava acaba violentada pelo seu novo ‘patrão’, perdendo sua virgindade, e passa a nutrir um ódio profundo por ele. Para culminar, a sua nova ‘dona’ é a perversa Violante (Drica Moraes), filha deste asqueroso homem. É a partir de toda esta situação que o folhetim começa a se fazer mais presente. Isso porque a protagonista conhece o amor da sua vida: o contratador João Fernandes (Victor Wagner), rapaz que está prometido para a diabólica Violante, algoz de Xica.

O contratador se encanta pela beleza da escrava e se propõe a comprá-la. O sargento acaba aceitando a oferta por medo de desagradá-lo, uma vez que o mesmo será o seu futuro genro. Claro que a convivência aproxima cada vez mais João e Xica, mas ela se nega a dormir com ele em virtude do trauma do estupro. Ele a respeita, fica ainda mais apaixonado, e acaba rompendo com Violante, após inúmeras brigas. Agindo como um clássico ‘príncipe encantado’, o rapaz se declara publicamente para a escrava, que retribui o sentimento, e ainda se beneficia desta nova situação. Já alforriada, a principal personagem da história se transforma em uma verdadeira rainha, com direito a várias perucas, vestidos caros, joias e até mucamas. Era o início de sua vingança. Antes esnobada pela nobreza, agora era ela a autora do desprezo.

O ódio de Violante, obviamente, só aumentou e os embates entre mocinha e vilã, que eram um dos muitos atrativos da novela. Apaixonada por João, Xica não tinha medo da intimidação da inimiga e a enfrentava de igual para igual. Aliás, a protagonista também sabia ser cruel. Um bom exemplo foi quando mandou arrancar todos os dentes de uma escrava ambiciosa que tentou seduzir seu marido. Taís Araújo, embora ainda inexperiente, se destacou merecidamente e Drica Moraes —– que ganhou o troféu APCA (Associação Paulista dos Críticos de Artes) na época por causa de sua primorosa atuação —- simplesmente deu um show na pele da bruxa (foi ainda o início da sua longeva parceria com o autor Walcyr Carrasco).

Entre as cenas mais pesadas da trama, estavam as cruéis sessões de tortura que Violante fazia com a mãe de Xica (Maria da Silva, interpretada magistralmente por Zezé Motta), com o intuito de se vingar da rival. E o momento mais aterrorizante foi a morte de Maria: ela teve os braços e pernas amarrados a quatro cavalos, que são assustados por um tiro e correm em direções contrárias, resultando no esquartejamento do corpo em praça pública. Para culminar, suas partes foram jogadas aos urubus. A novela teve muitos momentos de violência explícita e precisava ter um estômago forte para assistir.

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Além dos nomes já citados, é preciso mencionar também outros atores que compuseram o time, vide Guilherme Piva (José Maria), Giovanna Antonelli (Elvira), Eliana Guttman (Maria do Céu), Miriam Pires (Bemvinda), Sérgio Britto (Conde Valadares), Ângela Leal (Marquesa Carlota), Paulo César Grande (Evaristo), Ana Cecília Costa (Tomázia), Dalton Vigh (Frei Expedito), Jayme Periard (Félix), Andréa Avancini (Eugênia), Lu Grimaldi (Fausta), Sérgio Viotti (Conde de Barca), Thalma de Freitas (Caetana), Léa Garcia (Bastiana), Carla Regina (Das Dores), Joana Limaverde (Catarina), Murilo Rosa (Martim), entre outros.

“Xica da Silva” foi mais um grande trabalho de Walcyr Carrasco e a novela marcou a carreira de vários atores, como também ficou na lembrança do grande público. Foi um dos grandiosos folhetins da extinta Rede Manchete, que contou ainda com um dos mais respeitados diretores: Walter Avancini, falecido em 2001. Uma história forte, transformada em novela, cujo sucesso foi notório e de extrema importância para a teledramaturgia nacional.

SOBRE O AUTOR

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook.

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