“Existem lugares que guardam grandes histórias e histórias que guardam verdadeiros mistérios. Até quando você conseguiria guardar um segredo?” Esse é o principal questionamento de O Sétimo Guardião, nova produção das nove. Após a problemática e decepcionante novela de João Emanuel Carneiro, a criticada Segundo Sol, o horário nobre passa a contar com um folhetim de Aguinaldo Silva. Sai de cena uma história contada na Bahia e entra em seu lugar um enredo ambientado em Serro Azul, fictícia cidade interiorana – cercada por montanhas que impedem sinal de celular e internet -, onde tudo acontece.

O novo folhetim, que estreou nesta segunda-feira (12/11), marca a volta do autor ao realismo fantástico, estilo que virou uma de suas principais marcas como novelista. A cidade criada para ambientar a história é vizinha de Tubiacanca e Greenville, cenários de Fera Ferida e A Indomada, respectivamente – duas produções de Aguinaldo.

O intuito do escritor é justamente misturar as várias novelas fantasiosas que criou ao longo da carreira. É uma espécie de homenagem a si mesmo. Tanto que seu intuito era trazer vários personagens icônicos para a trama, como Nazaré. Mas, como Renata Sorrah não quis reviver a sua vilã inesquecível (decisão acertada, vale ressaltar), o autor acabou se contentando em escalar Paulo Betti e Luiza Tomé para relembrar o sucesso do casal Ypiranga e Scarlet, em A Indomada – eles aparecerão em breve.

Mas a premissa mesmo da novela é sobre sete guardiões, cuja missão consiste em proteger uma fonte de água com propriedades curativas e rejuvenescedoras. Todos precisam manter a discrição do lugar e impedir que caia nas mãos de pessoas erradas. E os protetores têm uma vida comum.
São eles: o prefeito Eurico (Dan Stulbach), o delegado Machado (Milhem Cortaz), o médico Aranha (Paulo Rocha), o mendigo Feliciano (Leopoldo Pacheco), a cafetina Ondina (Ana Beatriz Nogueira), a esotérica Milu (Zezé Polessa) e Egídio (Antônio Calloni), o guardião-mór que descobre sobre o seu pouco tempo de vida assim que o seu enigmático gato León sai em busca de um novo guardião para ocupar seu lugar. O escolhido é Gabriel (Bruno Gagliasso), filho da vilã Valentina Marsalla (Lília Cabral) e mocinho do enredo.

O primeiro capítulo focou inicialmente nesses guardiões. Todos (bem caricatos) se mostraram preocupados com o sumiço do gato e já previram a morte de Egídio. O bichano saiu da cidadezinha do interior e foi até São Paulo, onde encarou Gabriel e o fez desistir de se casar, para o desespero de Valentina. O público também já soube que Egídio era o amor da vida da vilã. Obviamente, através dessa informação, foi possível associar a origem de Gabriel. O mocinho é filho do guardião-mór e por isso Léon o escolheu para substituí-lo. Mas tudo ficou apenas subentendido. O cancelamento do casório provocou a fúria de Olavo (Tony Ramos), pai da noiva Laura (Yanna Lavigne), que prometeu destruir a vida de Valentina. Tony e Lília já se destacaram e vale mencionar a direção de Rogério Gomes, que promete novamente ser um diferencial – ele fez um trabalho bem-sucedido com o autor em Império (2014).

O tom de mistério prevaleceu e a trajetória do gato preto era cercada de tensão. O clima sombrio sobressaía a cada olhada do animal. São usados quatro gatos de verdade em esquema de rodízio e um animatronic nas sequências mais difíceis. Ficou bem evidente que o bichano vai roubar a cena e Aguinaldo dificilmente conseguirá abrir mão dele quando ocorrer a transformação (o felino é na verdade um homem castigado e Du Moscovis o interpretará a partir de janeiro).

O diretor ainda fez questão de inserir um toque de terror nas cenas de premonição de Luz (Marina Ruy Barbosa), provocando arrepios. A mocinha, aliás, é bem enigmática e as visões assustadoras da menina foram dignas de bons filmes ou séries de terror, vide o surgimento de Gabriel todo ensanguentado pedindo socorro ou então a mão que saiu da xícara de café.

O primeiro gancho deu vontade de seguir acompanhando a trama e isso é importante. Guiada por Léon, Luz encontra Gabriel enterrado em um lugar ermo e salva sua vida. O rapaz sofreu um grave acidente, após ter fugido de Sampaio (Marcello Novaes), capanga de Valentina que o perseguiu a mando da vilã. A cena do capotamento, aliás, foi muito bem feita.

É preciso elogiar, ainda, a abertura, repleta de belas imagens que mostram Léon e vários elementos da cidade de Serro Azul. Tudo ao som de The Chain, da banda anglo-americana Fleetwood Mac. Vale também ressaltar a bonita homenagem a diretores já falecidos da Globo, representando outros antigos guardiões da fonte (Carlos Manga, Gonzaga Blota, Herval Rossano, Roberto Talma e Roberto Farias) – eles também aparecem na abertura.

O Sétimo Guardião fez uma boa estreia. Aguinaldo Silva aparenta ter um enredo instigante em mãos e resta torcer para o autor seguir inspirado. O realismo fantástico já é um chamariz. O primeiro capítulo de muita novela costuma enganar provocando uma ótima impressão, que acaba se dissipando ao longo dos meses. Mas a nova história reúne bons elementos que podem render bastante.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor