Orgulho e Paixão completa um mês de estreia honrando o horário das seis. Com uma história leve, solar, colorida e pautada no romantismo e comédia, a novela de Marcos Bernstein empresta bons elementos ao universo da escritora inglesa Jane Austen (cujas obras servem de livre inspiração para o enredo), além de trazer um elenco bastante afinado com sua proposta. E é neste grupo que duas importantes peças esbanjam especial brilhantismo: Gabriela Duarte, intérprete da amarga Julieta, e Alessandra Negrini, que dá vida à maluquinha vilã Susana.

Rica fazendeira do fictício Vale do Café, Julieta Bittencourt é mãe de Camilo (Maurício Destri) e carrega consigo a amargura de ter sido violentada por seu próprio marido, já falecido. Comandando os negócios da família, ergueu um poderoso império que lhe valeu o apelido de Rainha do Café. Ao mesmo tempo, opõe-se ao namoro do filho com Jane (Pamela Tomé), uma das irmãs Benedito, por não ver nela a mulher ideal para o rapaz; e ainda se vê diante de um conflito com a família de Afrânio Cavalcante, o Barão de Ouro Verde (Ary Fontoura), pois quer obrigá-los a vender a fazenda para pagar as dívidas.

Julieta tem como aliada a arrivista Susana (Negrini), que vê nos planos da fazendeira uma oportunidade de se aproximar de Darcy (Thiago Lacerda), por quem é apaixonada. Para separá-lo da mocinha Elisabeta (Nathalia Dill), irmã de Jane, a golpista não hesita e arma diversos planos, inclusive contando com a ajuda de sua empregada, a igualmente ardilosa Petúlia (Grace Gianoukas), a quem trata como um capacho; e, mais recentemente, do ex-marido Olegário (Joaquim Lopes), peça fundamental de sua mais nova armação contra os mocinhos.

Mesmo com um mês de novela, as personagens já mostraram a que vieram logo nos primeiros capítulos e valorizam muito o talento das duas intérpretes. Em meio a tantas repetições de elenco, rever duas atrizes que estavam afastadas há mais tempo é um presente. Gabriela, herdeira da igualmente grandiosa Regina Duarte, não participava de uma novela inteira desde 2010, quando viveu a personagem Jéssica em Passione (2010-11), do autor Sílvio de Abreu.

Desde então, tem feito apenas pequenas participações, como nas irregulares Amor à Vida (2013-14) e A Lei do Amor (2016-17). Era de se estranhar o fato de uma intérprete competente como ela passar tanto tempo “afastada” da TV. Felizmente, a atriz voltou em grande estilo e tem sido um dos maiores destaques do enredo de Bernstein. Ao mesmo tempo, no ano passado, pôde ser vista em Por Amor, no canal Viva, e comprovou que o ódio recebido pela personagem Maria Eduarda, filha de Helena (Regina), deveria ter sido direcionado para o marido, o machista Marcelo (Fábio Assunção).

A dubiedade da atual personagem fica mais evidente em sua forma de expressar seu amor pelo filho Camilo, muito embora não demonstre em virtude do endurecimento que a vida lhe impôs. Um rico universo que valoriza o talento de Gabriela e a faz ter mais sorte que a mãe, que infelizmente foi uma figurante de luxo na antecessora Tempo de Amar.

Negrini, por sua vez, ficou menos tempo fora da TV, embora ainda um período considerável, pois sua última novela havia sido Boogie Oogie (2014-15), onde viveu a inconsequente Susana (ironicamente, também uma personagem desequilibrada e com o mesmo nome da atual). Uma característica recorrente em sua carreira é a constante presença de vilãs e mulheres sensuais entre seus trabalhos, como a Taís de Paraíso Tropical (2007), a Isabel de A Muralha (2000) e a Catarina de Lado a Lado (2012-13). Agora, mesmo vivendo novamente uma vilã, ela brilha em cada cena e ainda explora um ótimo lado cômico ao lado de Grace Gianoukas.

Rever Gabriela Duarte e Alessandra Negrini em papeis de destaque já seria algo positivo por serem atrizes com participações mais espaçadas e que já vinham fazendo falta. Mas a experiência se tornou ainda melhor por tudo que já apresentaram neste primeiro mês de Orgulho e Paixão. Julieta e Susana são ótimos tipos que valorizam o talento das duas atrizes e ainda prometem fazer muito barulho e incomodar bastante a vida dos mocinhos. E que os próximos capítulos continuem honrando a competência das intérpretes, que merecem muito todos os elogios.


Compartilhar.