Acostumada a apresentar ao grande público temas polêmicos de uma maneira didática, Gloria Perez volta a falar sobre diversidade sexual em Travessia, sua atual novela. A autora, que já falou sobre homossexualidade em América (2005) e transsexualidade em A Força do Querer (2017), agora aborda o universo dos assexuais.

A assexualidade ou espectro assexual é a falta total, parcial ou condicional de atração sexual a qualquer pessoa, independente do sexo biológico ou gênero. Ou seja, assexuais tendem em sua maioria a apresentar pouco ou nenhum interesse nas atividades sexuais humanas.

Sem interesse

Travessia mostrará esta questão por meio do personagem Rudá (Guilherme Cabral). Filho de Guida (Alessandra Negrini), o rapaz se sentirá diferente dos amigos e, com isso, ficará deslocado. Enquanto seus conhecidos vivem o início da sexualidade, Rudá não se interessa pelo assunto e não sente nenhuma necessidade romântica e sexual.

Confuso, Rudá só compreenderá o que realmente acontece com ele quando conhecer Laerte. Ele também é assexuado e ajudará Rudá a compreender sua condição.

A partir do encontro entre Laerte e Rudá, Gloria Perez pretende mostrar que existem diferentes tipos de assexuais. Isso porque Laerte é um demissexual, ou seja, só se envolve sexualmente com alguém quando há uma profunda conexão. Já Rudá será um assexual estrito, ou seja, não suportará a ideia do sexo e do contato físico.

Abordagem didática

Gloria Perez

Segundo o Notícias da TV, a sinopse de Travessia prevê uma grande abordagem sobre o assunto.

“É através de Laerte que mostramos esse universo dos assexuais, ainda não explorado pela dramaturgia televisiva. A tribo contém várias tribos, dos estritos e arromânticos, incluindo os proculsexuais, aquele que só tem atração por pessoas com quem tem certeza de que nunca se relacionará (celebridades de todas as áreas) até os fictosexuais, que só se atraem por personagens de ficção. Tem pra todos os gostos”, escreveu a autora na sinopse.

A maneira como Gloria Perez pretende abordar a assexualidade em Travessia é parecida com a que a autora desenvolveu em América e A Força do Querer. Nos dois trabalhos, a novelista falou sobre a autodescoberta, o que ajuda o público a se envolver com o tema e compreender melhor o que está se passando.

Foi assim ao falar sobre a homossexualidade de Junior (Bruno Gagliasso) em América. Várias novelas já haviam falado sobre o tema, mas não de uma maneira tão didática quanto a adotada por Gloria em seu folhetim.

América - Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro

Isso porque Junior se descobriu homossexual no decorrer da trama, justamente por se sentir diferente das outras pessoas. Esta autodescoberta do personagem serviu para que muitas pessoas que não compreendiam a homossexualidade passassem a entender melhor o que acontece. Da maneira como Gloria mostrou, ficou claro ao público leigo que a homossexualidade não é uma opção, e sim uma condição.

A saga de Ivan

Com a história de Ivan/Ivana (Carol Duarte), em A Força do Querer, Gloria Perez conseguiu explicar um assunto até então um tanto obscuro junto a uma parte do público. Mais uma vez, a autodescoberta fez a diferença. Por meio das dúvidas de Ivan, o público conseguiu compreender as questões que afligiam a personagem.

Para ajudar na saga do personagem, Gloria ainda criou Elis Miranda (Silvero Pereira), que era uma travesti. Com isso, a autora conseguiu expor as diferenças entre uma pessoa transsexual e uma travesti. Além disso, Elis serviu como apoio ao próprio Ivan, ajudando o rapaz a se entender como um homem trans.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor